Josias: “Não sou oposição, sou posição pela Lapa”

Josias Camargo Jr., vereador de primeiro mandato pelo Partido dos Trabalhadores, foi Secretário Municipal de Administração na Gestão Leila Klenk e hoje é presidente do Partido. Despontando como uma jovem liderança, Josias nos fala sobre negociações políticas, conjuntura nacional e possíveis alianças.

Tribuna Regional: Como o ‘primeiro vereador de oposição’ declarado na Câmara, você tem fomentado grandes discussões com os eleitores a respeito das causas da Lapa, como tem visto esse trabalho no decorrer do seu mandato?

Josias Camargo: Fui eleito vereador numa coligação que contava com três partidos (PT, REDE e PHS) e 18 candidatos. O mandato que eu exerço, portanto, foi conquistado com os votos dados a todos eles e eu me esforço ao máximo para representar com dignidade os votos recebidos por todos eles.

O meu trabalho como vereador é pautado, sempre, na busca por melhorias na qualidade de vida da nossa população, exercendo o REAL PAPEL do vereador. Não faço assistencialismo, não entro em “toma lá dá cá” e não participo de barganhas. Dedico-me ao máximo para estudar cada projeto que votamos na Câmara, debato com os colegas vereadores, busco informações junto à Prefeitura e procuro saber como municípios do mesmo porte do nosso tratam dos mesmos assuntos. Tenho em mente que, daqui 20 ou 30 anos, ainda poderei ser cobrado pela população em relação ao meu posicionamento nas votações de projetos. Portanto, busco agir sempre com muita responsabilidade, como é meu dever.

Costumo dizer que meu trabalho é de POSIÇÃO pela Lapa. A função do Poder Legislativo é muito importante e o mandato de vereador não pode ser utilizado para atrapalhar o desenvolvimento da cidade apenas porque o prefeito é do grupo político contrário. Quem tiver curiosidade de pesquisar no site da Câmara Municipal vai verificar que eu votei favorável aos projetos do Prefeito em 90% das vezes. Por outro lado, naqueles projetos que representavam prejuízo para a Lapa, votei contra, fiz campanha pública contra a aprovação, denunciei à população o quê estava acontecendo e, em algumas vezes, até entrei na Justiça para tentar barrar (como é o caso do projeto que cortou direitos das professoras e educadoras e, também,  da redução de área verde nos loteamentos da cidade).

Paralelo a isso, busco sempre estabelecer comunicação com o povo para informar sobre os assuntos que estão sendo debatido na Câmara Municipal e os impactos que os projetos podem produzir na vida das pessoas. Na democracia do Século XXI o povo quer participar, opinar, saber o que está acontecendo. Nosso mandato mantém canal aberto de diálogo com a população e o resultado tem sido bastante satisfatório.

Tribuna Regional: Faça uma avaliação do Governo Furiati comparando com o Governo Leila.

Josias Camargo: São governos totalmente diferentes desde a essência. Participei do governo da ex-prefeita Leila de forma bastante ativa e era muito clara a existência de um projeto de médio/longo prazo para o desenvolvimento da Lapa. As ações de todas as secretarias eram coordenadas a partir deste projeto. As ações da Saúde conversavam com a Educação, que conversava com o Social, que por sua vez interagia com as políticas de Agropecuária e Obras, e por aí vai. A harmonia da equipe era fantástica! Os serviços públicos eram prestados de forma indistinta a todos os cidadãos, independentemente da preferência política. Se fosse para resumir em uma frase, eu diria que a gestão da ex-prefeita Leila foi um marco na conquista de CIDADANIA pelo nosso povo. Saúde, educação, assistência social eram oferecidos à população como reconhecimento de DIREITOS. O cidadão não precisava pedir benção para “ciclano” ou “beltrano” para conseguir internamento hospitalar ou uma vaga de creche.

A relação de respeito com os funcionários municipais foi outro grande marco da gestão da ex-prefeita Leila. Ela sempre dizia para o seu primeiro escalão: “O servidor concursado precisa trabalhar feliz e motivado para bem atender a população. Tratem de garantir um ambiente de trabalho saudável e respeitar os direitos deles!” A partir desta premissa, os servidores receberam reajuste todos os anos e os avanços na carreira que são assegurados numa lei de 2008. Havia diálogo permanente com os representantes do funcionalismo, nos reuníamos quase todos os meses para debater e buscar consenso.

O que temos visto da atual gestão do Furiati é totalmente o oposto. Passados quase três anos de mandato, ninguém sabe qual é o projeto de município que a equipe dele tem. A impressão que tenho, enquanto vereador que estuda os projetos que ele encaminha para a Câmara, é a de que trabalham sem qualquer planejamento, conforme “a maré”. É comum aprovarem uma lei numa semana e quinze dias depois pedirem para mudar a mesma lei ao argumento de que na anterior estava faltando algo. O resultado prático dessa forma de trabalho é um marasmo total. Todas as obras que estão em andamento na cidade (repito, todas!) foram iniciadas ou seus recursos assegurados pela ex-prefeita. A rodoviária é um exemplo que ilustra muito bem: Assumiram a gestão com a reforma em andamento, a obra está pronta há mais de um ano e, até hoje, o prédio está desocupado, com as lojas vazias. Se continuar assim, logo vai ser preciso outra reforma. É trágico! A organização do trânsito da cidade é outro exemplo emblemático: Sem qualquer planejamento ou estudo, mudam sentidos de ruas, alteram regras de estacionamento, colocam manilhas em pé para estreitar ruas. Dois exemplos que ilustram muito bem o modo de trabalho da atual gestão.

Temos visto também que as ações promovidas pela Prefeitura, muitas vezes, têm como intuito promover e enaltecer algumas figuras, como se “isso” ou “aquilo” só estivesse acontecendo porque “fulano” fez um favor, “quebrou um galho”. É a quebra do Princípio da Impessoalidade. Ao invés de entregar o serviço público como reconhecimento do DIREITO do cidadão, o fazem em tom de favor para manter/criar alguns “currais” eleitorais. É a mais nefasta e antiga forma de fazer política! Enganam, mentem para a população, prestando um serviço público, com dinheiro público, como se fosse “um favor”. Esperem para ver a quantidade de cargos comissionados e chefes da atual gestão que vão se afastar dos cargos para concorrer na próxima eleição!

Por fim, para fechar o comparativo entre as gestões, o que vemos hoje é o quadro de servidores concursados extremamente desmotivado. Nem o reajuste da inflação lhes foi concedido anualmente de 2017 para cá! As progressões de carreira garantidas em lei desde 2008 estão congeladas e a concessão de benefícios para alguns poucos “amigos do rei” desestimula aqueles que, no final da linha, prestam o atendimento final à nossa população. As professoras e educadoras sofreram um golpe já no início da atual gestão com o fim do Piso Nacional do Magistério implantado na base da carreira pela ex-prefeita Leila no oitavo mês do seu mandato. O argumento do Executivo era: “Vamos distribuir para todos os funcionários o dinheiro economizado com as professoras.” Obviamente, como eu já havia adiantado, isso não aconteceu. O saldo é péssimo! Perderam os funcionários do quadro geral, as professoras e também a economia local, afinal, recurso gasto com o pagamento de servidores é dinheiro que gira no comércio local.

Tribuna Regional: A eleição está se aproximando e o seu grupo político está se reunindo. Pré-candidatos como Arthur Vidal, Fénelon Moreira, Joacir Gonsalves e Diego Gaiteiro já colocaram seus nomes ao público. Leila Klenk ainda não se pronunciou. Quais os principais nomes a serem trabalhados pelo PT na próxima eleição?

Josias Camargo: O PT tem se reunido com vários partidos para discutir os rumos da Lapa para os próximos quatro anos. Estamos trabalhando na construção de consenso em torno de um projeto de cidade que, mesmo na conjuntura de profunda crise nacional, consiga se desenvolver e promover dignidade e cidadania ao nosso povo.

Ou seja, os debates estão se dando em torno de um projeto de cidade. O nome de quem vai encabeçar nossa candidatura será definida coletivamente pelos partidos que construírem com a gente esse projeto de Lapa. Dentro do PT, o nome da ex-prefeita Leila é unânime para a disputa ao Executivo Municipal. Outros partidos, da mesma forma, têm manifestado a intenção de apoiar a candidatura da Leila. Entretanto, como eu já disse, a escolha do nome será feita de forma democrática dentro do grupo. A democracia de uma gestão à frente da Prefeitura começa na definição do(a) candidato(a). É assim que pensamos.

Tribuna Regional: Desde a época do Mensalão, depois petrolão e enfim, a Lava Jato, o PT tem caído em descrédito com muitos dos seus líderes sendo acusados e condenados. Como isso influencia a política municipal do Partido dos Trabalhadores?

Josias Camargo: A Lapa, sob a gestão da ex-prefeita Leila (do PT), não teve seu nome envolvido em qualquer insinuação de prática de atos de corrupção. Muito pelo contrário! A Leila assinou, pela primeira vez na história de nossa cidade, um decreto anticorrupção, documento minuciosamente elaborado para prevenir e combater irregularidades na aplicação dos recursos públicos. Regulamentos rigorosos foram criados para dar mais segurança aos processos de licitação e a Unidade de Controle Interno (uma espécie de “tribunal de contas interno da prefeitura”) analisava TODOS os processos licitatórios antes da assinatura de qualquer contrato pela Prefeitura. Infelizmente, o atual prefeito aboliu essa prática.

Durante os quatro anos que o PT governou a Lapa, a transparência na aplicação dos recursos públicos era inquestionável! Mais de 40 reuniões de prestação de contas foram realizadas na cidade e no interior para informar à população sobre o destino dado a cada centavo do dinheiro público.

Portanto, na contramão do que acontece com quase todos os partidos a nível nacional e alguns em âmbito local, o PT da Lapa é conhecido e reconhecido pela ética e rigor na aplicação do sagrado dinheiro do contribuinte.

Tribuna Regional: Em recente enquete, seu nome ficou em destaque em uma possível candidatura a prefeito. Qual a possibilidade de o PT lançar o seu nome na disputa ao invés de Leila Klenk?

Josias Camargo: Como eu já disse, o PT está buscando construir consensos com outros partidos em torno de um projeto para a Lapa e o nome do(a) candidato(a) será definido democraticamente por este grupo. O nome da Leila, reitero, é unanimidade dentro do PT e tem sido defendido também por outros partidos. A decisão final, no entanto, ainda não foi tomada. Minha candidata à prefeita em 2020 chama-se Leila Klenk. Na hipótese de ela optar por não concorrer, meu nome estará à disposição do PT e dos partidos que comporão conosco. Vaidades não podem, em hipótese alguma, se sobrepor aos interesses de quase 50 mil lapeanos.

Tribuna Regional: Ainda estamos em momentos de negociação para a formação de chapas às eleições. Negociações entre lideranças são praxe. Com quem o seu grupo teria tranquilidade em efetuar uma aliança para disputar a prefeitura em 2020?

Josias Camargo: Temos tranquilidade em efetuar aliança com lideranças políticas que, independente da sigla partidária, se comprometam com um projeto de gestão ético e transparente, que prezem pela administração técnica com a valorização dos servidores de carreira e que tenham como objetivo o desenvolvimento sustentável da Lapa para as próximas gerações. Lideranças e grupos políticos que se preocupem com a dignidade dos lapeanos e não com a criação de “currais” eleitorais. Que vejam a saúde, a educação e a assistência social como direito das pessoas e não como mecanismos de favorecimento pessoal. Gestão pública para o público e não para promoção pessoal.

Tribuna Regional: Falando em política nacional, entre Bolsonarismo e Lulopetismo, qual seria a solução mais adequada fora destas duas tendências?

Josias Camargo: A solução está na reelaboração de um pacto civilizatório que passe pela defesa intransigente da pluralidade política, da dignidade do ser humano e das políticas sociais garantidas na Constituição Federal de 1988. A divergência de pensamentos e de visões de sociedade é natural e necessária para o desenvolvimento da ciência, das relações, do mundo. Entretanto, algumas premissas precisam ser observadas, sob pena de retornarmos à barbárie.

Não há absolutamente nada de errado em defender teoria política de esquerda, de direita ou de centro. O que não pode ocorrer, como infelizmente temos visto, é o incitamento ao extermínio de quem pensa de forma diferente, o “fuzilamento” do outro, o incentivo ao desmatamento e à destruição de povos nativos originalmente donos desse país.

Visões diferentes sobre o mesmo assunto precisam voltar a ser encaradas como normais e inatas à nossa condição de humanos. Precisamos mesmo é reaprender a conviver com a divergência e retornar à nossa condição de seres que pensam, que procuram conhecer antes de falar, estudar antes opinar. O pensamento divergente não torna o outro melhor ou pior.

A partir daí, reconstruir um ambiente de mínima normalidade e racionalidade para que o povo, no exercício da sua soberania e dentro das regras do Estado de Direito, defina os rumos que quer dar ao país. Se à direita ou à esquerda, ao povo cabe dizer. Mas dizer com os neurônios, não com o fígado.

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