Miguel Batista foi prefeito da Lapa em duas ocasiões, além de ter exercido um mandato como vereador nos idos dos anos 70. Com uma gestão voltada à administração e menos na política conquistou diversos benefícios para o município. Como grande liderança no mundo político municipal, seu nome é cotado para concorrer à cadeira de prefeito nas eleições de 2020. Foi presidente da Associação Comercial e conta com experiência no comércio. Confira a entrevista exclusiva para a Tribuna Regional.
TRIBUNA REGIONAL: Como o senhor analisa o momento político nacional e o que isso reflete no município?
MIGUEL BATISTA: O país está passando por grandes reformas que vem em benefício dos Estados e Municípios. É um momento importante para que as pessoas reflitam sobre o que vem acontecendo, como a Operação Lava Jato e todo o combate à corrupção. Vejo que o país está atravessando um momento de reflexão muito grande. Os próximos anos devem ser muito melhores para o Brasil. Eu, como exerci cargos eletivos, como vereador em 1976 e depois prefeito, sempre pautei pela seriedade e honestidade, não acreditando que essa corrupção no país seria tão alastrada. O Brasil é um país muito rico, por este motivo o país pode absorver esse custo da corrupção. Porém, se esse dinheiro desviado fosse usado no destino certo, teríamos muito mais desenvolvimento e ação social para o povo.
TRIBUNA REGIONAL: Quais são, na sua opinião, as qualidades e características fundamentais de um administrador municipal?
MIGUEL BATISTA: Eu acho que todo candidato a qualquer cargo eletivo deve ter um objetivo muito forte e definido, principalmente na Lapa. A Lapa teve alguns retrocessos por falta de objetivo que atrasaram o seu desenvolvimento. Um dos exemplos é o turismo, no caso o Parque do Monge. A Lapa perdeu muito com a mudança. O Parque era cuidado pela Prefeitura e havia turismo maciço no parque, churrasqueiras, espaço de lazer. Aquilo movimentava de certa forma a economia do setor turístico. Não era o formato ideal, dependia de melhorias, mas funcionava. Teríamos que ter aproveitado para implantar melhorias, mas houve apenas o retrocesso. O corte das madeiras feito de forma descuidada acabou com o parque. Nós lapeanos temos que nos valorizar mais e assumir nossa cidade, não podemos deixar que pessoas de fora venham aqui como turistas e tomem conta da política local. Temos pessoas boas que podem assumir cargos públicos, mas insisto que tem que ter objetivos fortes e definidos, mesmo que receba críticas. Posso falar por experiência pessoal. Quando assumi a prefeitura eu pensei: “Se eu for prefeito para cuidar das patrolas e administrar folha de pagamento eu não quero”. O que eu fiz? Sem dinheiro, pois a prefeitura não arrecadava muito, pesquisei com pessoas capacitadas e ouvi que o município precisava ter estrutura, como hotéis de qualidade, restaurantes e urbanização.
TRIBUNA REGIONAL: O senhor fala em objetivos definidos. O desenvolvimento de uma estrutura capaz de receber investimentos foi uma das suas bandeiras. Como suas administrações colaboraram com isso?
MIGUEL BATISTA: Esse foi um dos pontos iniciais do meu governo. Desde o meu mandato como vereador, nos anos de 1976 a 1980 se falava em desenvolvimento da cidade, mas não havia estrutura preparada para receber investimentos. Nós focamos na criação da estrutura necessária para o município se tornar uma opção viável economicamente aos empresários e investidores. Foi um trabalho planejado e com objetivos definidos. Foi na minha gestão que organizamos e legalizamos todos os terrenos do Parque Industrial do Passa-Dois, visando buscar empresas para a Lapa. Também trabalhamos muito na urbanização da cidade, com diversos bairros asfaltados e também as avenidas principais, como a Munhoz da Rocha, Aloisio Leoni e JK. Mesmo com uma arrecadação baixa, conseguimos reurbanizar a Aloisio Leoni com recursos próprios, além de transformar a Avenida JK numa avenida de verdade. Outro fato interessante é que, mesmo não sendo da alçada do prefeito, fomentamos a implantação da FAEL, em parceria com o Ex-Ministro da Saúde, Luiz Carlos Borges da Silveira. Conseguimos destinar o espaço onde hoje está instalado o Colégio Agrícola para a Fael, que reformou o prédio e melhorou a estrutura enquanto construía sua sede própria. Recebi diversos processos de pessoas que nunca colaboraram com o município, questionando o uso do espaço pela faculdade, mas se a Fael não tivesse usado aquele prédio, seria muito difícil a implantação posterior do Colégio Agrícola, pois a estrutura estava lastimável antes da reforma realizada pela Fael.
Como eu ainda não estava satisfeito com nossa estrutura para captação de empresas, como prefeito, autorizei a compra do terreno do Sampaio, trinta e oito alqueires, onde criamos uma verdadeira área industrial. O governo do Estado entrou com a terraplanagem, que hoje custaria mais de dez milhões, e, infelizmente a empresa que iria se instalar naquele momento, a CasaBlanca, por motivos alheios aos nossos esforços, não cumpriu com o acordado. Aconteceu recentemente com a Eletrolux, da mesma forma. As empresas são norteadas pelo mercado e este é instável. Porém a área industrial estava preparada. Tanto que hoje temos a Potencial BioDiesel naquele espaço. Se não tivéssemos focado neste projeto, é provável que não haveria este investimento, pois os empresários precisam ter confiança e certeza no que estão colocando seu dinheiro. Recebi críticas por ter realizado esse projeto, mas os resultados estão se concretizando anos depois. São investimentos de longo prazo que norteiam o futuro de um município e é assim que o lapeano tem que pensar. Veja como é, a Lapa ainda hoje está iniciando um processo de desenvolvimento. Por isso eu reafirmo que o pretenso candidato deve ter projetos e objetivos definidos, mas projetos no atacado. Não podemos ter apenas gente que quer sentar na cadeira de prefeito por ego ou jogo político.
Claro que trabalhamos em outras áreas também. A parte social foi muito importante, pois o município precisa dar suporte aos mais necessitados. Minha esposa Vera e sua equipe criaram e implantaram muitas ações importantes neste sentido. Adquirimos diversos imóveis, focando na redução de custos em aluguel para a prefeitura e construímos a Secretaria de Educação. Finalizei meus mandatos com mais de 140 obras prontas e projetos encaminhados para as gestões posteriores. Na área rural, a modernização das máquinas e a arrecadação atual não permitem protelar a manutenção das estradas. As equipes precisam apenas de uma pessoa competente realmente na direção para garantir a execução deste trabalho. Não existe desculpas para não fazer bem feito.
TRIBUNA REGIONAL: Faça uma análise das administrações Leila Klenk e Paulo Furiati
MIGUEL BATISTA: Cada prefeito que entra tem um jeito diferente de agir. Por isso não vou criticar nem uma administração e nem outra. Cada um tenta administrar o que tem em mãos do jeito que lhe cabe melhor. Mas eu acho que essa parte de desenvolvimento da cidade ficou parada. Não foi criado um novo parque industrial por exemplo, nada de vulto como as avenidas ou a Secretaria de Educação. A Lapa precisa de projetos, e projetos no atacado. O município cresceu, mas poderia ter crescido mais. Nós sempre procurávamos fazer mais que o possível, de uma maneira ou de outra, focando o desenvolvimento, mesmo não tendo arrecadação suficiente. Um exemplo foi o chamado ‘lixão’ que havia no Passa-Dois. Solicitei e incentivei a funcionária Lia Marcia a fazer um curso sobre o assunto e o resultado foi o projeto do aterro sanitário. A obra foi instalada na gestão de outro prefeito, mas o projeto é nosso. As quatrocentas casas do conjunto Olaria foram conquistadas com muito esforço. Acabaram sendo construídas na gestão subsequente à minha, mas o povo foi beneficiado, e isso é o que importa. Também posso falar do Parque Linear, projeto nosso, mais modesto do que foi realizado e muito mais barato, mas iniciamos comprando os terrenos do trevo visando a implantação desta estrutura. Hoje é realidade, mas se não tivéssemos planejado e projetado com seriedade, poderíamos não ter essa benesse. Fico contente por ver que as sementes que plantamos deram frutos.
Se o administrador não tiver firmeza e segurança, coisas como a ‘retirada’ do Parque do Monge acontecem. Três meses depois que deixei a prefeitura o IAP veio e fez tudo o que fez lá em cima. Na minha gestão eu não deixei acontecer.
A minha preocupação principal é o futuro. Se, na minha gestão, não tivéssemos estruturado as áreas industriais, hoje poderíamos não ter essas empresas. Por falta de ação, o município anda para trás. Nossos filhos e netos devem ter possibilidade de ficar na Lapa. Não devem ter que sair do município para construir suas carreiras e futuro. O que estraga na política são as facções políticas que veem a eleição como um jogo. Temos que torcer para que quem assuma tenha capacidade e iniciativa para acertar nos projetos. O prefeito e seus assessores devem estar atentos a todos os momentos. As oportunidades só aparecem uma vez, como dizemos no interior. “Se o cavalo passa encilhado o negócio é montar, senão ele vai embora”. Isso também reflete na montagem da equipe, que deve estar sintonizada e motivada para alcançar os objetivos propostos.
A arrecadação municipal aumentou bastante em comparação ao meu tempo como prefeito. Hoje é mais fácil realizar as coisas pelo município. Em alguns momentos, na minha administração, chegávamos ao final do mês e precisávamos lutar para poder honrar com os salários dos funcionários. O momento hoje é mais próspero e demanda ações assertivas.
Fui duas vezes prefeito e não me arrependo, seria novamente. É um aprendizado muito grande, a gente aprende a lidar com a pessoas, administrar as maldades e más intenções, mas conhece muita gente boa e interessada.
TRIBUNA REGIONAL: Falando em 2020, existe a possibilidade do seu filho, Marcelo Batista, ou alguém do seu grupo, como o senhor mesmo, compor um grupo com Leila Klenk para a disputa. O que poderia falar sobre isso?
MIGUEL BATISTA: Não temos nada acertado. O que existe é a vontade e a preocupação com o município. Ali poderia estar o Furiati, poderiam estar outas pessoas. É bom que haja essas conversas porque é necessário discutir o município e pensar pra frente. Precisamos de pessoas novas na política. Não novas de idade, necessariamente, mas novas nas idéias. Por isso essas conversas e reuniões são importantes, na busca de desenvolver as potencialidades do município. Só ressalto que pessoas sem objetivos e sem projetos não são benéficas para a Lapa.
TRIBUNA REGIONAL: Além desta possibilidade, o seu grupo estaria disposto a conversar com quem para viabilizar um projeto de governo?
MIGUEL BATISTA: É lógico que deve haver união em torno de um projeto de governo, mas o principal é pensar na Lapa. Outros interesses menores e individuais não devem estar pautados numa proposta de candidatura. Desde o tempo que fui vereador falava-se muito em desenvolvimento, mas só começou a deslanchar a partir de 97, de forma ordenada, com o trabalho que eu e minha equipe realizamos. Nosso grupo vai buscar o melhor para a cidade.
TRIBUNA REGIONAL: Numa eventual e possível administração Batista, quais os deputados que apoiariam a sua gestão?
MIGUEL BATISTA: Os apoios sempre são construídos de acordo com a seriedade da administração. Não depende do governador ou deputado estar ao lado do prefeito. O que é necessário, volto a afirmar, são projetos sérios e bem estruturados. Contando com isso não há política partidária que atrapalhe, visto que todos governam para o povo, independente de partido.
TRIBUNA REGIONAL: Agora o senhor tem espaço para considerações finais. Fique à vontade para falar sobre o assunto que lhe convier.
MIGUEL BATISTA: Eu deixei a prefeitura com 8 milhões de reais e todo o maquinário funcionando. Essa deve ser a atitude de qualquer administrador. Pensar na continuidade dos serviços prestados ao munícipe. Na Lapa temos um grande problema com a mentira. Os políticos gostam de dizer que foram buscar dinheiro em Brasília. Na verdade isso não existe. Quem recebe dinheiro é o Executivo, e o Legislativo vai apenas visitar seus deputados, usando passagens aéreas e diárias pagas pelo povo. Outra mentira é quando a Câmara devolve dinheiro para a prefeitura e anuncia que economizou. É como se eu desse cinquenta reais para a pessoa comprar um pacote de erva e quando ela trouxer o troco, fazer uma festa por devolver o dinheiro. Assim é a Câmara. Pega quinhentos mil, gasta duzentos e faz um alarde ao devolver o montante para o município. Essas narrativas são prejudiciais pois confundem o cidadão.
Realizamos muito nas minhas gestões. Foram mais de cento e quarenta obras de verdade, não apenas pintura de parede. Tudo isso aconteceu porque trabalhamos com projetos sérios e objetivos definidos, equipe motivada e focando o desenvolvimento do município. É disso que a Lapa precisa. Eu me preocupo muito com a Lapa e graças a Deus pude realizar muito em meus anos como empresário e político, e penso que não merecemos aventureiros. Quatro anos de gestão ruim são 20 anos de atraso para o município.