Era uma ansiedade só. Muitos dias antes do “Séssetembro” começava a mudar o ambiente na escola, com o início dos ensaios e a disputadíssima entrada na tão sonhada fanfarra. A ansiedade dos pequenos cidadãos era visível, tanto que alguns, mesmo antes do desfile, já estreavam seus uniformes novos na escola, como forma de sossegar um pouco.
Os ensaios do desfile eram um episódio à parte, cheio de magia e alegria. Era a coroação do desejo de estudante, de ficar na rua no horário de aula. O chefe da fanfarra ia dando as coordenadas e as professoras sofriam para alinhar os alunos em fila. Como eram bons os momentos de zoeira entre os amigos nos ensaios do desfile. Todo tipo de traquinagem fazia parte deste momento, até a professora perceber. Daí a gente sossegava.
No dia do desfile, coração batendo a mil. Todos íamos cedinho para o fim da avenida Manoel Pedro para a concentração e ali, todo mundo penteado e bonito, as crianças esperavam ansiosas pela marcha vindoura.
Era um orgulho fazer parte da fanfarra, um lugar de destaque para poucos, mas que demandava treinos cansativos durante as tardes anteriores ao “Séssetembro”. Quem conseguia ficar com a Maria Gorda ou com o Repique se sentia o máximo, era o topo da cadeia alimentar.
Coreografias as mais variadas acompanhavam as balizas à frente da Escola. As meninas mais lindas sempre estavam nesta posição que exigia talento e simpatia. Eram o sonho de todos os meninos bobos da época.
Uniformes brilhando, calçados limpos e aquele penteado “lambida de vaca” faziam parte do vestuário e, para completar, aquela bandeirinha do Brasil de papel, para mostrar nosso contentamento.
Tempos passados que não voltam mais.
Este ano é o primeiro ano da história da República que não haverá desfile de 7 de Setembro na Lapa e em grande parte do país. Mas o ar da época é o mesmo. A ansiedade e a vontade de estar marchando em fila sempre retornam às nossas memórias.
O que aprendi nestes inúmeros dias de ensaios e desfiles é que o verdadeiro amor à pátria não precisa ser demonstrado, apesar de ser muito bonito, mas deve ser sentido, seguido e praticado. Amor à Pátria é acreditar no futuro, no País, na Bandeira. É pensar que o amanhã será melhor por força dos nossos esforços. É acreditar que podemos fazer mais pelo nosso país e ele fará por nós. É saber que este País é único e seu povo tem uma grandeza e diversidade que o tornam especial.
Finalmente, o 7 de Setembro mostrava a todos que a gente realmente se importava com a nossa nação. Sentiremos falta do desfile deste ano.