Espaço Educação Popular em Saúde

Como qualquer abertura de coluna caro leitor (a), gostaria de pedir licença para entrar no seu convívio semanal, onde quer que você esteja lendo, em um jornal impresso ou mídias sociais. Licença para trazer um pouquinho de informação sobre saúde, de um modo mais solto, longe dos termos difíceis e explicações quadradas que na maior parte das vezes nos afastam de qualquer possibilidade de aprendizagem.

O tema inaugural não poderia ser outro – o Alcoolismo. E por quê? Em tempos pandêmicos – de distanciamento social, nunca se bebeu tanto cotidianamente. Explico o complemento. Sem a possibilidade da realização de festas para o grande público, e com as aglomerações formalmente contraindicadas, o consumo de bebida alcoólica – antes bastante concentrado de sexta a domingo – passou por uma modificação no padrão. Cada vez mais estamos bebendo todos os dias, independentemente se é segunda-feira, quinta ou domingo. Em termos quantitativos, segundo o PebMed, mais precisamente o aumento foi de 93,9% no Brasil, comparando períodos durante a pandemia com um ano antes do flagelo do Covid.

Fazendo um recorte histórico, nossa sociedade, que desde o Brasil Colônia com as destilarias de cachaça bebia muito, hoje, quatro séculos depois, ainda mantém os excessos. Estes muitas vezes são considerados questões comportamentais e vistos como algo que é intrínseco do ser humano. Voltemos para 1972, no samba rock – ‘Eu bebo sim’ de Elizabeth Cardoso: “eu bebo sim, estou vivendo, tem gente que não bebe e está morrendo”; ou então: “tem gente que já está com o pé na cova, não bebeu e isso prova que a bebida não faz mal”; narrativa esta que mascara a real situação clínica existente no excesso – o alcoólatra é um dependente químico e necessita de tratamento médico.

A bebida alcoólica, seja ela qual for, é consumida acima de tudo pois traz uma sensação de bem estar. Dividida em fases, a inicial é um estado de relaxamento, proporcionado pelo efeito depressor do álcool no sistema nervoso central. Mantido o consumo, com o aumento dos níveis de álcool no sangue, o indivíduo experimenta uma sensação transitória de alegria e euforia, por isso há grande correlação da bebida alcoólica com os conhecidos ‘happy hour’ – momento de descontração, no final de uma semana intensa de trabalho.

Então há um bem estar ao se beber? Sim, porém, sigam-me os bons para entender a história até o seu final.

Nosso corpo responde a estímulos. Natural devido nossa interação com o mundo que nos cerca. Porém meu nobre leitor, o estímulo que o álcool causa, passa por um caminho cerebral que tempo após tempo, se modifica – ou seja, para manter a sensação de bem estar, o alcoólatra, com o passar do tempo, necessita de doses de álcool cada vez maiores, é o que chamamos de Tolerância.

Aos consumidores de plantão que me acompanham até aqui, na sequência dos efeitos alguns indesejáveis devem ter muita atenção. Na falta abrupta das reações químicas que o álcool causa no cérebro, principalmente no do dependente, ocorre a Abstinência, ou seja, o mal estar generalizado causado por esta falta. Ela é proporcional ao tempo e as quantidades consumidas. Nos casos graves necessita de internamento médico para controle.

Entendamos que ao final desta explanação a métrica que distingue o remédio do veneno nunca fez tanto sentido, a parcimônia deve sempre estar presente. Entender que o álcool não é e nunca foi a fórmula mágica para o bem estar. O consumidor na primeira dose, é modificado por esta, e assim, o bem estar na segunda, terceira ou décima, jamais será igual ao inicial.

Se você está buscando e encontrando no álcool, algo que te falta fora, mais do que nunca você necessita de apoio médico. O alcoolismo é uma fuga. Quem o procura, não encontra as respostas para nada. E você meu caro, que a partir desta semana, edição após edição, poderá me acompanhar nos mais diversos temas de saúde, se você conhece alguém em alguma situação acima descrita, não hesite em procurar ajuda, seja no CAPS ou nos Alcoólicos Anônimos. O alcoolismo é uma doença, e tem cura!

Please follow and like us: