Um velho dito popular afirma que o país cresce sozinho, se os governos não atrapalharem. Os antigos eram sábios.
A economia nacional, estadual e, principalmente no nosso caso, municipal, é pouco ligada às ações do governo municipal, bastando pouca coisa para poder se desenvolver. No caso do agronegócio, basta aos produtores a manutenção de qualidade nas estradas rurais, aliada à oferta de saúde e educação mínimas. Para o comércio é necessário apenas a liberdade de comerciar sem regras que atrapalhem o trabalho. Na área de serviços, as leis da liberdade econômica são o necessário. Para as indústrias interessa muito mais o preço dos insumos no mercado internacional do que a política municipal. Se o município oferecer educação e saúde de qualidade, a comunidade cresce. Mas tem casos em que a ajuda acaba atrapalhando.
Temos na Lapa dois parques industriais que estão acolhendo empresas, através de incentivos municipais e infraestrutura básica. O caso que vamos relatar acontece no Parque Industrial do Passa Dois, em frente ao Parque de Exposições e Eventos da Lapa, na empresa Gizman Estruturas de Aço.
Seu Gilberto Pazini, um empresário com as mãos calejadas, nos contou da sua odisseia para conseguir começar a trabalhar na empresa, depois de cinco anos da doação do terreno para este fim. Segundo ele, no final do ano de 2016 ele recebeu o termo de uso de um terreno, localizado nos fundos do referido parque industrial. Para viabilizar o protocolo de intenções, Seu Gilberto deveria construir o barracão em um determinado tempo e começar a produzir na sua indústria de estruturas de aço, gerando determinada quantidade de empregos, cumprindo assim com a sua parte no trato entre a administração municipal e a empresa.
Ao chegar no terreno destinado à sua empresa, Gilberto notou que não havia ligação de água, mas, muito mais importante, não havia acesso para ligação de energia. Com todos os documentos necessários buscou as repartições responsáveis para a instalação de energia na empresa, enquanto construía seu barracão auxiliado apenas por um pequeno gerador movido a óleo diesel. Entre idas e vindas envolto em burocracia e respostas vazias, Gilberto não conseguia a tão necessária energia elétrica para a sua indústria.
O caso veio se estendendo desde 2016 até este ano, quando, através do apoio e da criatividade da atual Secretaria de Desenvolvimento Econômico, pôde fazer a sua ligação de energia elétrica utilizando uma faixa do terreno vizinho, locado para este fim, o que o deixou apto a receber a luz na empresa.
No dia que conversamos com ele, Gilberto exalava felicidade e, principalmente alívio, visto que já tinha investido mais de quinhentos mil reais somente na instalação do barracão, mas contou com uma certa tristeza, que perdeu diversos contratos de trabalho, inclusive um serviço que lhe renderia mais de três milhões de reais, por falta de capacidade energética para o trabalho.
O Parque Industrial é um sonho que vem sendo fomentado há muito tempo, tendo muitos prefeitos contribuído para sua efetiva concretização, porém a ação de diretores mal informados e, muitas vezes, desinteressados, deixou a desejar. Para o leitor ter uma ideia do total descaso, uma rua foi aberta em frente às indústrias no local, porém apenas com 12 metros de largura, sendo que a COMEC exige que tenha 18 metros para a instalação de energia.
Tendo uma rua aberta em frente à empresa, logo no primeiro ano da concessão do lote, Gilberto fez toda a instalação no padrão Copel, e ficou aguardando a ligação elétrica, que nunca veio, pois a rua não pode ser oficializada nem mesmo na Câmara Municipal, visto estar irregular perante a Comec.
O dinheiro jogado fora na instalação de energia que se tornou inútil só é mais um dos prejuízos a que o empresário foi submetido, como a perda de contratos de trabalho por falta de capacidade energética. Além disso, seu Gilberto nos falou das inúmeras vezes que buscou os responsáveis pela área para solicitar apoio e, deles, só conseguiu exigências e desrespeito. Não foram poucas as vezes que ex-diretores estiveram em sua empresa prontos a retomar o terreno, alegando que o empresário não estava cumprindo o seu protocolo de intenções. A sensibilidade aos problemas da empresa não existia, mesmo Gilberto mostrando suas dificuldades para efetivamente iniciar a produção.
Além do prejuízo para Gilberto, a rua fora de padrões exigidos, tornou-se um espaço inútil que só vai ser utilizado pelas empresas, pois não poderá ser oficializada, demonstrando um descaso com o dinheiro público, que, para regularizar a situação, deverá abrir outra via em outro local, dentro das normas, para que os empresários tenham acesso aos seus barracões.
Na terça-feira, dia 10, quando nossa reportagem esteve no local, seu Gilberto fez questão de ser fotografado ao lado do seu pequeno gerador de energia, mostrando que tudo que contamos nesta reportagem é apenas um pedaço da falta de ação de entes públicos que seriam (em teoria) responsáveis por viabilizar a real instalação da empresa. Ele também pediu para agradecer o empenho da atual gestão municipal na solução do seu problema, mesmo que tenha que se utilizar temporariamente de um terreno vizinho, mas sabendo que, em breve, sua ligação definitiva de energia será concretizada.
O caso que contamos tem muito mais detalhes que mostram os problemas de nomear pessoas incapazes para determinadas funções municipais. A economia foi prejudicada, o dinheiro público foi mal gasto e o respeito, este não existiu.