Uma época onde os transportes eram feitos com carroça, os passeios eram a cavalo e o tempo parecia correr mais devagar. Essa é uma crônica baseada nas histórias da Lapa antiga, rememoradas por uma foto sugerida por um leitor.
Imagine o tempo em que a cidade não tinha calçamento, não possuía internet, telefones e muito menos água tratada nas residências.
Imagine o ritmo mais lento das pessoas, que tinham tempo para tomar um bom chimarrão ao final de tarde, visitando vizinhos e amigos, para saber das notícias da cidade e do país.
Imagine a concentração de pessoas na saída das missas de domingo, única ocasião onde podiam se encontrar às centenas, e conversar tranquilamente com os seus conhecidos.
Imagine os moradores da cidade descendo até a bica do Quebra- Pote para encher seus jarros com água potável para consumo nas refeições e no dia a dia.
Imagine aquele tempo em que para fazer um assado de porco ou galinha era preciso fazer todo o trabalho, desde o abate, limpeza da carcaça até o processo de cozimento.
Imagine quando as pessoas saiam da sua propriedade no interior próximo, utilizando suas carroças, e demoravam horas para chegar ao ‘centro’, para resolver os seus problemas.
Imagine a beleza da viagem por estradas de terra, ouvindo o simples canto dos pássaros e os mugidos de animais de criação num tempo que carros não eram comuns às pessoas.
Imagine que para comprar um calçado o cliente tinha que ir ao sapateiro para tirar as medidas e esperar o profissional manufaturar tudo, desde a sola até o couro.
Imagine quanto tempo demorava a construção de uma carroça, contando o tempo do trabalho da ferraria dos Metz e da marcenaria dos Deichmann.
Pense como era uma aventura uma viagem a Curitiba, utilizando a Maria Fumaça, transporte que demorava praticamente o dia todo para fazer o percurso, tornando o passeio um momento único onde os viajantes levavam seus ‘farnéis’ de comida para alimentar a família durante o trajeto.
Imagine que para comprar uma roupa masculina os homens vinham à cidade e encomendavam seus ternos para os alfaiates, profissionais que demoravam semanas para confeccionar as peças sob medida.
Pense na grande preparação que era feita para qualquer cerimônia de casamento, com os convidados mandando fazer calçados, roupas e preparando a decoração das carroças, para a ‘carreata’ do casório.
Imagine que em todos os estabelecimentos haviam ferros específicos para que o cidadão pudesse limpar as botinas do barro impregnado durante a viagem.
Lembre como deviam ser divertidas as tardes livres da criançada, com inúmeros campos, bosques e árvores frutíferas à disposição.
Pense em como era difícil chegar ao alto do Morro do Monge, utilizando apenas as trilhas que existiam para tal acesso, posto que não havia estrada para aquele local.
Imagine a alegria do reencontro das famílias, que moravam poucos quilômetros de distância, mas que para reunir-se precisavam criar ocasiões.
Pense em como eram importantes as festas da Igreja, que traziam romeiros, fiéis e muitas doações para ‘engordar’ o evento.
Finalmente, imagine que, em cada casa comercial, haviam argolas de metal para que os clientes a cavalo pudessem amarrar seus animais.
Os tempos mudaram, os carros vieram, telefones diminuíram o contato pessoal, viagens são mais rápidas, a água é encanada, os calçados e roupas são industrializados, as missas não chamam mais tantos fiéis e a vida vem cada vez com menos sabor, com mais pressa e sem atenção.
Imagine que você ainda pode aproveitar o seu tempo olhando para as belas paisagens que existem em nossa cidade, ouvindo os pássaros e encontrando amigos.
Porque não tentar?