O inferno é logo ali

A família do Major do Exército Venezuelano Gustavo Gonzales é uma das milhares que saem da Venezuela em busca de uma coisa muito simples: a liberdade para viver e trabalhar.

“Pai, no Brasil eu vou poder comer carne?”, foi a pergunta que o filho mais velho da família Gonzales, Diego, fez ao pai Gustavo quando estes lhe contaram da ideia de fugir da Venezuela para o Brasil. Com lágrimas nos olhos e muita emoção, Gustavo afirmou que “sim, filho, lá poderemos nos alimentar dignamente e comer carne toda semana”.

Pra contextualizar a história, Gustavo Gonzales é nascido e criado na Venezuela e seu sonho desde a mais tenra idade foi servir ao exército. Desde os 12 anos, quando adentrou à Escola Militar, o jovem sabia da certeza que tinha em seguir carreira. Tanto lutou e tanto estudou que chegou ao posto de Major, trabalhando na Academia Militar, onde ensinava os cadetes a respeitarem os símbolos da pátria, assim como transmitia valores aos alunos, ensinando respeito, honra e dignidade.

Ao leitor pode parecer que Gustavo e sua família eram privilegiados naquele país, não tendo motivos para se exilar no Brasil, mas aí é que está o grande ponto: Na Venezuela ou você é parte do sistema de governo ou você não é nada, e, para Gustavo, militar honrado e com princípios cristãos, não era admissível fazer parte das mais diversas formas de corrupção que existem por lá.

Por manter seus princípios, como honra e dignidade, Gustavo e seus familiares tinham que viver do mísero soldo que recebiam ao final de cada mês. Ele mostrou à nossa reportagem, com documentos e conversão dos valores que o que recebiam ao final de cada período chegava a aproximados 21 reais, sendo este todo o dinheiro que havia para alimentar a família durante o mês.

Projetos Sociais

A situação da Venezuela é bem divulgada em todo o mundo, mas é importante frisar que toda esta ditadura começou aos poucos, com a inserção de diversos projetos sociais que vão escravizando a população, como exemplo o Mãe da Favela, um projeto que pagava 30% de um salário mínimo do local a cada filho que a mulher tivesse. Com este projeto, a natalidade aumentou exponencialmente, sendo que meninas de até 12, 13 anos ou menos, apareciam grávidas para poder usufruir do benefício do Governo.

Também outros projetos de renda mínima colocam a população de joelhos e, com o passar do tempo, dependente do governo em tudo, mas sem a mínima vontade de crescer. É a teoria de manter o pobre na pobreza, alimentado pelo Estado, para ser a massa de manobra que se usa nas eleições.

A Ditadura

Para os amigos a Lei, para os inimigos, os rigores da Lei. Esta frase é exemplo para mostrar como são feitas as coisas no país vizinho. Lá, se você não faz parte do grande e corrupto sistema, você sofre as piores consequências. No caso da família Gonzales, como não quiseram vender seus princípios, para eles a vida era miserável. Colegas de Gustavo no exército trabalhavam como mão forte de políticos, praticando todo o tipo de serviço sujo. Para estes nunca faltava comida, dinheiro ou benesses do Estado. Já para aqueles que não se entregam à maldade da corrupção, o que resta é tentar manter a dignidade com o pouco que se ganha pelo trabalho.

Com os aproximados 21 reais que recebiam ao mês, era muito difícil manter uma dieta saudável, quanto mais se pensar em comer uma carne ou frango. Passavam-se dias a fio somente com feijão e arroz. “Mas o feijão não é como o de vocês, que é gostoso”, afirma Gustavo, “lá era só água, feijão e sal”, nunca dispondo de nenhuma “mistura” para as refeições. Isso se repetia nas três refeições diárias e por muito tempo.

Coletando no lixo

Gustavo e sua esposa Jessi chegaram ao ponto de, para colocar nutrientes na mesa para seus filhos, ir buscar restos de comida no lixo. Como a inflação na Venezuela é galopante, o preço dos alimentos muda no tempo que você pega o produto na prateleira e o leva até o caixa, é praticamente impossível prever o valor dos alimentos.

Gustavo percebeu, determinado dia, que na refeição havia alguns legumes e frutas que não tinham sido comprados por ele e questionou sua esposa. Ela, envergonhada, contou que havia dias que estava indo aos fundos de um mercado para recolher vegetais e sobras de descarte do comércio, junto com inúmeras outras famílias, para acrescentar uma simples cebola, alface ou tomate à mesa da família.

Com lágrimas nos olhos e sentindo o desespero da situação, Gustavo prontificou-se a acompanhar a esposa, fazendo com que a alimentação pudesse ser mais consistente, deixando de lado pudores e ‘nojinhos’ que nós, brasileiros, nem pensamos em deixar de lado.

O que não era vendido pelo mercado, verduras machucadas, feias e descartadas, era alvo de muita gente daquele país para “engrossar” a mistura do alimento, que é a coisa mais importante para todo e qualquer venezuelano.

Porque não faz?

Jessi Gonzales conta que perdeu muitas amizades ao ouvir de pessoas próximas a frase: “Gustavo é um tonto, ele não está fazendo como todo mundo, não aproveita do seu cargo pra ganhar mais. Como ele não tem carro, casa própria e roupas novas?”, ao que ela afirmava que o marido não se prestava à corrupção, que é entranhada em todos os níveis da sociedade da Venezuela. Colegas militares apareciam com apartamentos lindos, carros, dinheiro e muitas outras coisas, pois usavam de seus cargos para desviar recursos, desaparecer com inimigos do regime ou coisas escusas parecidas. Se Gustavo quisesse se dar bem na carreira, deveria jogar fora todos os príncípios de honra, honestidade e caráter que tinha cultivado ao longo de sua vida.

Era muito difícil e triste ver que, para seus colegas, o simples ato de telefonar para determinados “padrinhos” abria portas para qualquer coisa. Foi assim que Gustavo recebeu o apoio de alguns destes amigos no seu plano de sair da Venezuela, que simplesmente tinham as ‘costas quentes’ com políticos e portas abertas para roubar. A necessidade de alimentar seus familiares fez com que Gustavo aceitasse estes favores, mesmo sabendo ser parte de um sistema corrupto, visto que conseguiu ganhar comida para manter vivos os seus queridos.

Saindo do inferno

Para sair da Venezuela não é simples. Num país que é bem menor que o Brasil, existem postos de controle do governo em todos os lugares. Da cidade onde moravam até a fronteira do Pacaraima, no Brasil, haviam aproximados 35 postos de controle que impediam a livre circulação de cidadãos pelo país. O único modo de passar é subornando os fiscais, para que façam vista grossa à passagem da família.

Juntando o pouco dinheiro que conseguia através de mentoria de trabalhos de término de curso em universidades, aliado ao apoio de empresários e igrejas que montaram um sistema de acolhimento aos venezuelanos no Brasil, a família iniciou sua jornada, primeiro desligando os filhos da escola, ao que tinham que mentir, dizendo que iriam morar no interior do país, pois se a verdade fosse dita, logo haveria prisão por traição. Da mesma forma, a baixa do exército, pedida por Gustavo, foi um dos momentos mais marcantes da sua vida, tendo que usar de jeitos e subornos para que seus documentos andassem na burocracia extensa do regime ditatorial.

Uma das imagens que mais deixou Gustavo abalado foi a acusação de “traidor”, feita pelo seu superior na Academia Militar no momento que lhe informava que pediria baixa. “Em 5 segundos eu fui tratado como traidor do regime, como barata, rato e todos os adjetivos possíveis para dizer que eu era um fraco em sair da instituição”, conta Gustavo. Três anos de muita cordialidade, disposição e trabalho duro não valeram nada aos olhos do comandante, que imediatamente fechou a cara e mandou que saisse dali.

O Planejamento

Para poder chegar ao Brasil com um mínimo de estrutura, foi preciso aprender português, e ensinar para todos os familiares, porém, como morava na Vila Militar, estes assuntos e aulas só podiam ser discutidos no banheiro da casa da família, único lugar onde não havia janela, que possibilitasse aos vizinhos escutar as conversas. Tudo feito escondido para não demonstrar a ninguém a menor possibilidade de deixar o país, pois se fossem descobertos, a prisão seria imediata como traidores da pátria, coisa que é denunciada por todo mundo no país.

A Chegada

Ao chegar ao último posto de fronteira, na divisa entre o Brasil e Venezuela, a policial daquele país afirmou com ar cínico e suborno no bolso que “sua família não tem o que se preocupar, afinal, não cometeu nenhum crime”. Se não houvesse o pagamento por fora para a policial, a família toda estaria atrás das grades.

Ao cruzarem a fronteira, Gustavo, Jessi, Diego e Vitória foram acolhidos pela Polícia Federal do Brasil que os encaminhou para a missão de paz do Exército Brasileiro, ação esta que auxilia no acolhimento e destino dos refugiados venezuelanos.

Quando o comandante da missão soube que Gustavo era ex-major do Exército, rapidamente o acolheu em sua sala e disse que, por ser ele da família militar, teria todo o apoio daquela unidade e também de todo o Exército Brasileiro. O ex-major venezuelano não se conteve e colocou-se a chorar, pois a solidariedade encontrada no Brasil superava em muito todas as camadas de maldades existente no seu país de origem.

Com o apoio do exército aliado a empresários e organizações religiosas que auxiliam os refugiados, Gustavo e seus familiares foram mandados a Curitiba, onde a cada passo do caminho se viam diante de um mundo novo. “Só o fato de poder entrar no mercado e comprar o próprio alimento e saber que aquele tanto vai ser suficiente para contentar sua família, foi um dos grandes presentes de Deus que ganhei”, afirma Gustavo, sobre o Brasil.

Destinado à Lapa pela missão humanitária, Gonzales e sua família se dizem agradecidos aos amigos que colaboraram muito com sua instalação, entre eles o Sr. João de Barros, proprietário do imóvel onde vivem, o Sr. Dionir Kinage, que providenciou a mudança, o Sr. José Fachini do Mercado Barcelona, pelo direto apoio e primeiro emprego, ao Sr. Zarur, pela grande acolhida e apoio e também aos amigos Analia e Marcelo, da Via Gráfica, pelo constante incentivo, apoio e amizade.

A Lapa, para a família Gonzales, é como um paraíso, sendo parecida com a cidade natal de Jessi, esposa de Gustavo. Casarios históricos, ruas de pedra e ar aconchegante, além de um povo que se preocupa e acolhe os viajantes, sem pedir nada em troca. Esta é a imagem que a família Gonzales tem da cidade que vivem e onde estão criando seus filhos.

A realidade

Segundo o ex-major do exército venezuelano, Gustavo Gonzales, a tomada de poder pela esquerda é feita aos poucos, como na fábula do sapo que fica na água esquentando, até ser fervido e morto pelo calor. As ações esquerdistas visam sempre escravizar o povo, oferecendo migalhas e pequenas benesses, em troca de apoio para seus projetos de poder. O Brasil está indo no mesmo caminho da Venezuela, segundo Gustavo, e “se vocês brasileiros, acreditarem na propaganda maravilhosa dos políticos de esquerda, vão estar entregando sua vida e liberdade nas mãos dos piores ditadores que existem, aqueles que manipulam o povo e o mantém sempre na pobreza”.

É duro admitir que já há décadas vemos em nosso país a criação de uma classe de povo ‘estatizado’, alimentado por bolsas, vales e cestas, coisas que, para quem tem honra e dignidade, é como esmola, mas para uma grande maioria é um presente dos céus, pois com isso não há necessidade de se esforçar para construir nada, afinal, o governo provê tudo.

Hoje e depois

Gustavo é formado na universidade e tem três pós graduações, mas seu principal objetivo no nosso país é criar um canal de discussão nas redes sociais, onde pretende mostar ao nosso povo como funcionam as mentiras da esquerda, as bajulações que corrompem e as ações que acabam escravizando toda uma nação.

Ele está iniciando um projeto de podcast e vídeos informativos, que deverão circular pelas redes,  contando sua experiência, seus momentos difíceis e mostrando o que de bom temos para manter em nosso país. Em breve divulgaremos o material produzido por Gustavo em nossas redes, visando ampliar a discussão sobre o populismo, ditadura, projetos sociais e muito mais.

Conclusão

Somente após uma bela conversa com uma família que viveu na pele o inferno de uma ditadura de esquerda é que podemos ver que estamos caminhando pouco a pouco para que isso seja realidade em nosso país. Divisões sociais, com minorias se espalhando, são táticas usadas através da máxima “dividir para conquistar”, usada em guerras. Quanto maior a discórdia vivida no nosso país, mais fácil está de perdermos nossos direitos e nossa liberdade.

O leitor pode até discordar destas afirmações, mas não pode deixar de se comover com a história real de uma potência mundial que se tornou um dos países mais desumanos, baixos e maldosos de todo o globo. Tudo isso aconteceu por causa da busca pelo poder absoluto, sem princípios, e populismo exagerado, onde se propõe que o Estado seja mãe e que todos sejamos dependentes dele.

Agradecemos A Gustavo Gonzales e seus familiares, Jessi (Esposa), Diego (Filho), Vitória (Filha) e também à sua tia Aura, seu marido Humberto e sua filha pela entrevista exclusiva à Tribuna Regional. Muita simpatia, gratidão e esperança, foi o que vimos nos olhos destes ‘hermanos’, que chegaram aqui apenas carregando sua dignidade e boa vontade, mas agora querem fazer muito pelo nosso país, mostrando o quão fácil é para uma bela nação cair no abismo da esquerda ditadora.

Família do ex- major do Exército Venezuelano, refugiada no Brasil, demonstrando sua felicidade por estar aqui. Gonzales afirma que ” vocês no Brasil, não tem ideia do que é ficar sem ter comida para dar aos filhos, e não ter esperança para conseguir mais!”, tamanha a pobreza que a corrupção do regime ditatorial gerou.

Nessa imagem um fac símile do contracheque do ex- major Gustavo Gonzales. Seu sálario, retirados dos descontos ficava em 109. 159, 83 Bolívares (o dinheiro daquele país).
Nessa segunda imagem, a conversão dos Bolívares para Dólares, na cotação da epóca do contracheque. 19.949, 00 BOLÍVARES por um dólar, total 5,47 dólares.
Na terceira imagem, a conversão do valor do dólar para real, na época do contracheque: R$ 4,1137 por um dólar. Multiplicando 5,47 dólares por R$ 4, 1137, o total do sálario do ex- major era de R$ 22, 50.
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