Celebrado no dia 26 de setembro, o dia Nacional dos Surdos é de extrema importância para a conscientização e reflexão sobre os direitos e a inclusão das pessoas surdas na sociedade.
No próximo dia 26 de setembro, o Brasil comemorará o Dia Nacional do Surdo, uma data de extrema importância para conscientização e reflexão sobre os direitos e a inclusão das pessoas surdas na sociedade. O Dia Nacional dos Surdos foi oficializado pelo decreto de Lei nº 11.796, em 2008, em homenagem à fundação da primeira escola para surdos do Brasil, o INES (Instituto Nacional de Educação para Surdos), em 1857, no Rio de Janeiro. Nesse mês, é celebrado o “Setembro Azul”, uma iniciativa realizada com o objetivo de dar maior visibilidade à comunidade surda no Brasil e procura ser um período para promoção de ações que a atendam, trazendo debates sobre os problemas e desafios dela, sobre políticas públicas que podem atendê-la, e sobre como a população deve se conscientizar do direito à inclusão dos surdos na sociedade como um todo.
A COMUNIDADE SURDA NA LAPA
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), mais de 10 milhões de pessoas tem algum problema relacionado a surdez, ou seja, 5% da população é surda. Atualmente estimamos em nosso município 32 surdos já adultos, e 12 crianças e jovens inseridos na rede de ensino municipal e estadual. Na Lapa uma das pioneiras na luta pela comunidade surda é a professora Jeanen Pavlovski Machado. Professora aposentada da rede municipal e a única professora lapeana interprete e tradutora, concursada pelo estado. Com uma vasta experiência Jeanen, já ministrou diversos cursos e também formou alguns alunos surdos que hoje trabalham como interpretes e tradutores na educação.
Segundo Jeanen um dos principais desafios para a inclusão da comunidade surda está na compreensão sobre a diferença entre a impossibilidade de ouvir (surdo) e a dificuldade de ouvir (perda auditiva). Conforme ela explica, existem surdos oralizados e não oralizados. Todos demandam cuidados e atenção diferenciados. “A grande maioria dos surdos, por não terem recebido atendimento adequado, não desenvolveram a fala. O preconceito e a inacessibilidade pública são dois pontos centrais e responsáveis por dificultar o dia a dia das pessoas surdas. Ainda existem pessoas que discriminam o surdo, que enxergam a deficiência como exceção, condição a ser superada ou corrigida, e não como diversidade e valorização do respeito às diferenças. Essa é uma visão capacitista que deve ser anulada”, alerta.
A inclusão da comunidade surda esbarra ainda, nos rótulos impostos pela sociedade e na visão restrita sobre a surdez. “A deficiência vai além de qualquer rótulo. Podemos ter, em uma mesma sala de aula, um aluno surdo que domine bem matemática e um vidente que possui dificuldades com essa disciplina. Quem precisa de mais atenção? O aluno surdo que consegue calcular com facilidade ou o vidente que não consegue? E aí, quem são os especiais/deficientes? E por que especiais?”, questiona. Para Jeanen, uma pessoa não deve ser chamada de ‘especial’ sob o ponto de vista de sua condição humana, pois tal terminologia limita e cria estigmas acerca das pessoas com deficiência. “Os surdos são, simplesmente, pessoas como qualquer outra. As terminologias preconceituosas estão na nossa sociedade diariamente. Temos o costume de chamar as pessoas surdas de ‘portador de necessidades especiais’, mas isso nos faz pensar duas coisas: primeiro que eles são mais humanos, acima de todos, e, com isso, criam-se vários mitos; e segundo que são ‘menos humanos’, o que faz surgir a visão pejorativa de que são limitados, criando-se, assim, o coitadismo”, alerta.
AS CONQUISTAS
Se, por um lado, são muitos os desafios enfrentados pela comunidade surda para maior inclusão na sociedade, por outro, existem também conquistas alcançadas em um caminho de muita luta e resistência. Segundo a lapeana, a oficialização da Libras, em 2002, como meio legal de comunicação e expressão representa um marco histórico de luta e conquistas por reconhecimento de direitos, além de romper com o modelo de caridade e assistencialismo que prevalecia sobre os casos de surdez. O grande desafio, esbarra na dificuldade de implementação das ações para a efetividade do ensino e disponibilidade de acessibilidade na comunicação.
Outro avanço, diz respeito à construção de um mundo mais acessível e inclusivo e à quebra de barreiras em empresas, escolas, governo e no dia a dia. “Hoje, reconhecemos muito mais os anseios e necessidades da comunidade surda, temos consciência da necessidade de lutar pela inclusão das pessoas na sociedade, e, muitas vezes, essa realidade parece distante de nós quando, na verdade, a inclusão se inicia, quando buscamos ser mais compreensivos com tudo e todos que nos são diferentes. Mas precisamos avançar no conhecimento sobre a cultura do surdo. O surdo é só alguém que fala uma outra língua e não tem equidade”, afirma.