Cala a boca, Bolsonaro!

Já comentei aqui que a algum tempo percebi o primeiro fenômeno de pessoas que votaram em Bolsonaro, e agora estão insatisfeitas com seu governo. É um fato interessante, porque apesar de estarem insatisfeitas, não estão arrependidas. Pelo menos é o que parece.

Vejam só: vi duas pesquisas recentes. A primeira é quanto a popularidade do presidente, que está em queda franca, com cada vez mais gente insatisfeita. A outra foi sobre como as pessoas votariam se a eleição de outubro passado fosse replicada hoje, e a surpresa é que o resultado seria muito parecido – apesar de tanto Bolsonaro quanto Haddad perderem percentuais significativos de votos que seriam transmitidos para Amoedo (os de Bolsonaro principalmente) ou distribuídos por todo o espectro de esquerda (os do Haddad). Mas ainda assim, o resultado final seria o mesmo.

Isso dá um cenário estranho: as pessoas não estão satisfeitas, mas na prática admitem que dos candidatos viáveis do ano passado, o atual presidente ainda era o ‘menos pior’. Isso enterra – ou pelo menos deveria enterrar – qualquer esperança de se eleger os candidatos da velha política, e deveria fomentar uma renovação geral nos partidos. A esquerda precisa viabilizar algum candidato que realmente esteja livre das amarras dos mega esquemas de corrupção. Já a direita precisa pensar em realmente um nome de consenso que substitua Bolsonaro. Existem alguns ‘pré-candidatos’: Amoedo como mais provável; Sergio Moro com franca aprovação, mas aparentemente sem intenções eleitorais; Witzel, do Rio de Janeiro, começando a aparecer; enfim tem ‘água para rolar’.

Já na esquerda não consigo pensar realmente em algum nome novo e que entusiasme. A tal deputada Tabata Amaral é um nome promissor e que acho que seria aceitável pelo povo que quer honestidade, mas talvez só tenha poder político para daqui alguns anos. Talvez. Existe ainda uma tentativa de estruturação do que hoje chamamos de ‘centrão’, e que anteriormente era a ‘direita’. João Dória é seu maior representante hoje, na minha opinião.

Mas voltando ao tema, analisando a queda da popularidade do presidente, outro fenômeno é que as últimas pesquisas dizem que a população acredita que ele está no caminho certo. Muito estranho isso. “Não gosto do cara, mas ele está certo”.

Acho que isso pode ser explicado um pouco pela escolha dos ministros. Convido o leitor a assistir as entrevistas que os diversos ministros estão dando nas mídias. Começa com as ‘estrelas’ do governo – Paulo Guedes e Sérgio Moro. O ministro do meio ambiente e a ministra da agricultura dão show. O ministro da educação, apesar de sofrer um pouco do mal do Bolsonaro e muitas vezes falar bobagens, também no geral não faz feio na administração do ministério. A ministra Damares, tão perseguida e detonada pela mídia no início do governo, tem aplicado muitas ações que são louváveis.

Então a impressão que dá é que apesar de termos um presidente que está a cada dia criando novos factoides que geram polêmicas e posicionam cada vez mais a população contra ele, as ações aplicadas por uma equipe competente de ministros está compensando.

Mas neste ponto entra a dúvida. Essa tagarelice presidencial é estupidez ou estratégia? Isso porque enquanto a mídia que é claramente contra o governo mira suas armas no presidente, os ministros podem trabalhar tranquilamente – pelo menos em teoria.

Pode ser estratégia, mas foram várias vezes nestes últimos meses que deu vontade de mandar um “Cala a boca, Bolsonaro!”, mesmo tendo votado nele.

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