Divagação de quem gosta de ficção científica…

Semana passada falei aqui sobre a evolução dos cursos EAD na educação e como será o cenário em um futuro não muito distante. Mas quero pedir desculpas, pois no fim de semana comecei a analisar outras previsões já realizadas, e percebi um erro comum: todas tem o vício de usar sua própria época como base.

Um exemplo fácil de perceber é a escravidão humana. Ela esteve presente em praticamente toda a história humana. Temos mais de 4 mil anos com presença significativa do uso de escravos e apenas nos últimos 150 anos tivemos movimentos abolicionistas. Mesmo hoje, ela só está abolida oficialmente em países ocidentais e ocidentalizados, e ainda é comum e natural em vários países africanos e asiáticos.

Como eu – e o leitor – vivemos em um dos países onde a escravidão foi abolida e é encarada (com toda razão) como uma abominação, é natural pensarmos que essa forma de pensar será a que prevalecerá no futuro. Mas se focarmos no histórico da humanidade, perceberemos que somos apenas um grupo humano restrito vivendo em uma época diferenciada, e que os nossos netos tem chance sim de conviverem novamente com a escravidão institucional. Triste, mas real.

Quer outro exemplo de erro na previsão por falha na base social? Até o inicio do século XX, era natural pensar que as diferentes raças tinham diferentes capacidades. Com isso foi muito natural pensar que os brancos europeus eram superiores aos demais. Lendo bibliografia sobre a segunda grande guerra, é chocante perceber como os japoneses davam pouco valor à vida de chineses e coreanos, e depois como americanos davam pouco valor à vida de japoneses, todos usando a justificativa de que eram superiores, e portanto os demais podiam ser tratados como meros insetos. E várias previsões da época imaginavam justamente que a humanidade se dividiria em castas pela raça, com os brancos europeus na posição superior, é claro. Não deu muito certo.

É divertido ver livros e filmes de ficção científica, e perceber esses enganos. H. G. Wells foi o primeiro a fantasiar uma viagem no tempo, e criou seu romance “A Máquina do Tempo”, em que fantasia que as divisões de classe que existiam na sua época, com ricos vivendo à superfície de forma nababesca, e os pobres vivendo cada vez mais nas profundezas dos porões iria aos poucos gerar duas raças humanas distintas. Ironia clara é que a raça oriunda dos pobres passaria a criar a outra como gado para sua alimentação.

Parece um absurdo se lido hoje, mas na época fazia bastante sentido, pois não se conseguia visualizar uma “saída” para o problema social gerado pelo inicio da industrialização.

Claro, sempre existe uma dose de acerto. Ainda continuando com ficção científica, Edgar Allan Poe em seu livro “Um Homem na Lua”, lá em 1835, imaginou como seria a primeira visita de um homem à lua. Na época não existiam foguetes, então ele imaginou que a viagem seria, oras vejam, de balão. Isso mesmo: com um balão de ar quente. Errou no método pois ninguém conseguia conceber qualquer outra ferramenta para levar o homem ao espaço, mas acertou, quase 130 anos antes, que o homem iria sim para a lua.

Querem coisas mais recentes? Assistam “De volta para o futuro”, e percebam que na imaginação do autor, hoje já teríamos skates voadores e roupas que se secam sozinhas.

Tudo isso para mostrar como realmente é difícil imaginar o futuro. As mudanças que temos hoje serão duradouras, ou são apenas temporárias?

Então, voltando à questão da educação, é fácil imaginar que o futuro reserva cada vez mais tecnologia focada ao ensino. Mas será que a evolução dessa tecnologia irá avançar? Será que os movimentos contrários, principalmente os sindicais, que lutam pela manutenção de privilégios em detrimento da evolução do ensino, não irão prevalecer? Será que não irá surgir algum evento que altere todo o nosso ensino, de uma forma ainda não prevista? Enfim, este texto ficou mais uma crônica em si do que o tradicional “bate papo”, mas realmente depois de ter escrito aquela previsão da ultima semana percebi que apesar de a previsão fazer bastante sentido para mim no momento, talvez seja algo que não se concretize de forma alguma.

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