Dando sequência ao artigo anterior, o duelo entre liberdade e igualdade no campo econômico, iniciado por Tocqueville, acabou evoluindo para o campo moral. Se temos liberdade do ponto de vista econômico, podemos ter o mesmo na moral? E a igualdade?
Aqui surgiram outros pensadores, entre eles Russel Kirk, no inicio do século XX. As pessoas que defendem a igualdade moral acreditam que existem um conjunto de valores e direitos humanos que devem ser preservados independente do que acontece na sociedade. Ainda, estes direitos devem ser garantidos a todos os seres humanos. Russel Kirk descreveu estes direitos e valores, aplicáveis à sociedade ocidental, capitalista e de origem cristã: direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de culto, pensamento e expressão. Família, pátria e religião também são valores que entram neste quesito. Uma pessoa só perde algum destes direitos quando se recusa a reconhecer os mesmos direitos nas outras pessoas, ou seja, se eu recuso o teu direito de propriedade, posso ter meu direito de liberdade negado. Todos estes direitos e valores são anteriores à formação de qualquer Estado, portanto não podem ser negados, apenas protegidos pelo Estado. Claro, isto nos países ocidentais, como citei. Para outros povos e pensamentos o conjunto de direitos e valores muda.
A visão liberal já parte do princípio que não existem direitos ou valores absolutos, e que a sociedade – e não o Estado – tem que definir o que deseja para seu povo.
Difícil de entender? Peguemos um exemplo prático: casamento arranjado ainda na infância, comum nos países árabes e em povos ciganos. Alguém que defende a igualdade de direitos irá questionar se os pais tem o direito de interferir na vida destas crianças, uma vez que elas não estão tendo a liberdade plena de escolha. Já quem defende a liberalização total irá dizer que se o costume é aceitável na cultura das crianças então não haverá problemas morais nesta ação, pois as crianças serão educadas a aceitar isto, mas se o mesmo se repetir em um país de cultura ocidental, então será execrável.
Percebam que de um lado temos uma moral inflexível, que deve ser aplicada a qualquer sociedade e em qualquer circunstância. Já de outro lado temos uma moral flexível, que deve se adaptar às mudanças da sociedade.
Ambos os lados tem situações extremas que nos fazem pensar se estão corretos. Do lado da igualdade tivemos alguns psicopatas que abusaram da ideia de que se você não respeita os direitos e valores básicos você perde seus direitos. Exemplo é Che Guevara, que quando via um homossexual interpretava aquilo como errado e contra a moral, portanto punível com a morte. Por outro lado tivemos grandes pensadores como Martin Luther King, que pregava a igualdade de direitos a todos os americanos (o que na época beneficiava os negros, que estavam tendo direitos desrespeitados). Não entendeu estes exemplos? Explicarei em artigos futuros.
No campo da liberdade não me recordo de pessoas de destaque, mas temos situações como o infanticídio indígena, que é tratado por alguns como algo a ser respeitado, uma vez que faz parte da cultura deste povo. Difícil “engolir”, não é? Por outro lado temos movimentos que nos fazem pensar se estamos realmente corretos em proibir o comércio de algumas drogas, por exemplo.
Percebam que nenhum lado é totalmente bom, nem totalmente mau. Mas como se trata de visão moral, é comum que quando alguém se posiciona em um “lado” passe a denegrir o outro. Na verdade, o melhor é pensar no assunto como uma caixa de bombom, como já expliquei anteriormente, e nunca comprar “o pacote todo” de nenhum dos lados.
*Dartagnan Gorniski é proprietário do site www.floramonteclaro.com.br e professor. É Engenheiro Florestal, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Especialista em Certificação Ambiental e Licenciado em Matemática, e nas horas vagas dá palpites sobre tudo o que vê pela frente.