Dia destes, num almoço durante a semana, vi minha esposa ralhar com meu filho mais novo. O motivo não vem ao caso, basta dizer que ela estava certa (como sempre). Meu filho se entristeceu, lacrimejou e ficou calado, absorvendo as palavras da sua mãe. O Felipe, meu “pequeno” é hoje um rapaz com um metro e oitenta de altura, forte, bonito e muito inteligente. Como um adolescente em formação, naquele momento onde minha esposa brigava com ele, se fez de forte, e tentou não demonstrar sua inquietação.
Após o ocorrido, ele, ainda abalado, cheguei mais perto dele e disse no ouvido: “Eu queria que você não tivesse crescido, prá poder te pegar no colo e acarinhar até acalmar”. Ele se riu, me olhou com olhos marejados e disse que gostaria muito disso.
Tínhamos uma brincadeira entre pai e filho, desde sempre, onde a cada ano eu dizia que ele estava me desobedecendo, porque eu tinha mandado ele não crescer e ficar sempre com seus oito anos de idade. É óbvio que ele dizia que era impossível, mas eu insistia, dizendo que “se eu to mandando você não pode crescer”. Ele me achava um bobão e a gente sempre se divertia com isso.
Hoje vejo os meus dois “meninos”, como sempre chamamos em família. Matheus é um homem de 19 anos, responsável, dedicado, simpático e humilde. Felipe é um guri em construção, ainda passando pelos difíceis anos da adolescência, mas já mostra traços de caráter forte e determinação nos seus planos.
Após o ocorrido no almoço citado nos primeiros parágrafos, me peguei pensando em quanto tempo a gente desperdiça com coisas sem valor. Na minha mente foi ontem que “ordenei” ao Felipe, ainda com 8 anos, que parasse de crescer. Parece que o tempo passou num piscar de olhos e eu estava vendo a vida passar numa tela em alta velocidade.
Momentos importantes que vivemos, intimidade familiar, contato entre pais e filhos, nada disso faltou na nossa família. Mas eu acho que sempre poderia ter estado mais presente, que poderia ter gastado mais do meu precioso tempo com as pequenas “bobagens” das crianças.
É duro olhar o seu filho e pensar que ele não cabe mais no seu colo. É gratificante olhar para o seu filho e ver que tudo que você fez, contribuiu de alguma forma para criar aquele projeto de adulto. São sentimentos conflitantes. Um é o saudosismo e a vontade de ter o seu filhote embaixo da asa. Outro é o orgulho de ver que cresceram como gente honrada e determinada.
A vida tem dessas. Sou novo ainda, na casa dos quarenta anos, mas já posso notar que determinadas atitudes que tomamos nos roubam o que é mais precioso: O contato e o carinho dos seus queridos.
Com essa reflexão não pretendo criticar ninguém por sua forma de agir. As crianças crescem e se adaptam até aos piores lares e podem se tornar pessoas boas assim mesmo. O que sugiro é que, de vez em quando, você deixe o seu celular de lado e vá encher o saco dos seus familiares, e porque não também de amigos. Momentos idiotas de felicidade são as coisas mais importantes que levamos para nossa vida. Coisas simples que não custam nada.
Aprendi esta lição novamente. Aprenda você também.