Nós também temos o nosso “terraplanismo”

Nesta edição gostaria de comentar sobre um tema que está cada vez mais gerando discussão na internet: o “movimento terra plana”. Calma, não sou “terraplanista”. Longe disso.

Mas movido pela curiosidade assisti alguns vídeos no youtube sobre o assunto, tentando entender quais os argumentos que são usados para tentar comprovar a tese de que a Terra é plana. Começou bem. Percebi que é um movimento que se propõe a questionar tudo, inclusive as coisas que nós consideramos assunto resolvido, certezas absolutas. Isso é exatamente a base de toda a ciência: o questionamento.

Mas dai comecei a analisar os argumentos, e todos são facilmente derrubados. Sem exceção. Mas dai verifiquei uma lista de “terraplanistas” famosos e vi alguns bem reconhecidos por sua inteligência. Mas como isso? Como alguém que é inteligente se deixa levar por argumentos tão falhos?

Bom… a “isca” parece ser realmente a ideia de “questionar tudo”, que dá já de começo uma tônica de lógica ao tema. Mas depois disso, o que explica a permanência de pessoas inteligentes e críticas neste movimento? Não conseguia entender, pelo menos, até assistir uma série documental sobre o tema na Netflix, que retrata a vida do grande guru no assunto. A situação se iluminou.

Não, não passei a acreditar no terraplanismo. Mas comecei a entender o que atrai as pessoas ao movimento: união. Ou melhor, o sentido de pertencimento, que acaba tomando ares de religião.

A série retrata justamente isso – o surgimento de um movimento nos EUA muito similar a uma religião, que demoniza qualquer argumento que contradiga suas ideias básicas, e ao mesmo tempo forma uma irmandade entre os participantes, com a criação de congressos, seminários, palestras públicas, etc, quase como uma seita missionária, seguida de um reconhecimento entre os membros, gerando até novos mercados: terraplanista só compra de empresas geridas por terraplanistas. Sites de namoro exclusivos para terraplanistas. Festas e encontros sociais bastante movimentados somente frequentados por… terraplanistas. E claro, a depreciação de todos que não são da seita.

Por que decidi falar sobre esse movimento nesta semana? Simples: temos alguns movimentos similares aqui no Brasil. O mais óbvio é o esquerdismo como um todo.

Esta semana tivemos o tal “zap zap” do Moro, que na verdade foi divulgado como uma grande bomba, mas até agora não apareceu nada que justificasse tamanho barulho. Mas já ressurgiram as famosas frases de “Lula Livre”, “Perseguição”, etc, etc.

Nessa altura do campeonato, com centenas de condenados pela Lava Jato, bilhões de reais devolvidos aos cofres públicos, várias empreiteiras, empresários e políticos confessando crimes, como é possível que alguém ainda acredite na inocência do lulopetismo?

Acredito que a resposta é a mesma do terraplanismo: o sentimento de união. Vejo várias pessoas de esquerda se apoiando mutuamente, como se a menor besteira dita pelo presidente (que infelizmente são comuns) justificasse toda uma teoria de conspiração contra um movimento honesto, democrático e legítimo (pelo menos na visão deles, é claro). Tenho vários ex alunos e alunas que me adicionaram no Facebook, e percebi que aqueles que se orientam à esquerda tem até uma busca por namorar pessoas de esquerda, priorizar apoio a outras pessoas de esquerda, enfim, fechar um grupo só com pessoas com ideias similares. Claro, qualquer um que contradiga suas ideias básicas é demonizado. Uma nova religião, onde o Deus é Lula.

Finalizando o pensamento, chego à duas conclusões: a primeira é que não adianta argumentar com quem fala “Lula Livre”, pois é uma questão de crença, e não de lógica.

A segunda é que se o pessoal da direita não tomar cuidado, teremos em breve uma outra religião, esta talvez com Bolsonaro como Deus. Se já não é saudável para o Brasil ter uma seita esquerdista (que realmente deve ser combatida), seria saudável ter duas seitas antagônicas?

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