Que saudades da Eguinha Pocotó

Música é uma questão de gosto. Talvez também uma questão de cultura. Quem vive próximo a comunidades que preferem sertanejo vai ter uma quedinha por este tipo de música. Assim por diante com outros estilos musicais. A preferência na nossa região, dá prá ver pelo grande público que participa de bailes, é o gauchesco, tradicional. Afora isso, tenho uma pequena reflexão para fazer.

Que saudades daqueles tempos em que o Funk se resumia ao Bonde do Tigrão e ao clássico “Éguinha Pocotó”. Sim, saudades. Era bom saber que existia esse ritmo de música, mais despojado, mas mesmo assim, havia um certo, digamos, respeito nas letras daqueles dias. Éguinha Pocotó pode até parecer poesia nos dias de hoje. Veja se não:

  • Fala de carinho e família: (…) Vou mandando um beijinho, prá filhinha e prá vovó, só não posso esquecer da minha eguinha pocotó (…)
  • Fala de comunidade: (…) O jumento e o cavalinho, eles nunca ‘anda’ só (…)
  • Fala de amizade: (…) quando ‘sai’ prá passear ‘leva’ a égua pocotó (…)
  • Tinha ritmo: (…) pocotó, pocotó, pocotó, pocotó (…)

Comparar esse clássico do funk com as músicas de hoje em dia, principalmente aquelas que viram vídeos no TikTok, é quase um assassinato de reputação na Eguinha Pocotó. Hoje a mania é ‘sentada’, ‘chá’, ‘balinha’, ‘prostituto vagabundo’, ‘sextou’ e tudo o mais que vocês conhecem.

Dizem os mais antigos que uma sociedade pode ser medida pela sua produção cultural. Qual será a avaliação dos futuros historiadores quando olharem para nossos tempos e encontrarem uma música que diz: “Jingle Bell, Jingle Bell, teu presente é piroca, sou o teu papai noel”?

Dias atrás eu escrevi neste mesmo espaço uma reflexão acerca do ‘emburrecimento’ da atual sociedade. Talvez pela maior facilidade de expressar opiniões, maior exposição nas redes sociais, dá prá notar que nossa ‘galerinha’ é totalmente sem cultura e se orgulha disso.

Verdades sejam ditas, a qualidade de ensino no país é ruim há muito tempo, mas parece que agora isso se tornou bonito. É normal encontrar estudantes de 12, 15 anos, até mesmo universitários ‘empurrados’ para uma faculdade, que não tem capacidade de interpretar um texto de maneira alguma. É comum, inclusive, encontrar pessoas analfabetas funcionais depois de terem cursado o ensino médio ou mesmo uma dessas ‘universidades à distância’.

Professores, gestores, políticos, pais e alunos, todos tem um tanto de culpa neste caso. A falta de interesse por um futuro melhor é geral e o maior sonho que existe para a juventude é ‘conseguir um emprego com carteira assinada”.

Não está na hora de voar mais alto?

 

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Aramis José Gorniski


Entre em contato com Aramis José Gorniski: aramizinho@gmail.com