Retrato de um passado recente

Nesta semana a Sra. Ana Balbina Wille deixou na redação deste pequeno grande uma cópia de um artigo da revista “Transportes e Turismo”, de fevereiro de 1970. O foco era o Parque Estadual do Monge. Interessantíssima reportagem. Mostra como a visão da sociedade brasileira mudou de lá para cá com relação à produção, pesquisa e preservação ambiental.

Antes de mais nada, devo lembrar que no mundo existem duas formas de se pensar e administrar parques. Claro, estou fazendo uma simplificação bem grosseira, mas via de regra, parques nos EUA e em países como Finlândia, Dinamarca e Polônia tem uma finalidade não apenas ambiental, mas também econômica e produtiva, e são celebrados convênios com iniciativa privada de forma a explorar os recursos existentes dentro do parque – claro, tudo de forma racional, de modo a não destruir o que existe lá dentro. Então é possível encontrar áreas de corte de madeira em pleno Parque de Yellowstone. A maior parte da produção madeireira polonesa vem dos parques nacionais.

O dinheiro produzido por esta exploração racional é comumente empregado em melhorias no próprio parque, com maior fiscalização, maior e melhor estrutura para visitantes, programas de conservação animal e vegetal, e assim por diante.

O outro modelo já é mais comum em países como França, Austrália e no Brasil atual, onde o parque é uma área exclusiva de preservação, e nada pode ser realizado lá dentro a não ser turismo e pesquisa focada em preservação.

Mas voltando à reportagem, é interessante perceber que na década de 70 a visão no Brasil era bem mais focada no modelo americano. “Se o turismo é a grande atração popular do Monge, com resultados para o turismo doméstico do Estado e Município da Lapa, para a Secretaria da Agricultura constitui-se um de seus principais campos de experimentação florestal e agrícola, com seus viveiros florestais, ensaios de competição de variedades (arroz, feijão preto e trigo) e ensaios de adubação de trigo” diz a matéria.

Mais adiante ainda se dá um enfoque ao papel que o viveiro de mudas instalado ali no Monge tinha para um grande programa de reflorestamento estadual, durante o Governo Paulo Pimentel. A impressão que se tem é que as mudas ali produzidas foram distribuídas em todo o Paraná.

Percebam que o parque então era visto como uma unidade não só de preservação, mas também área de pesquisa e local base para políticas públicas agrícolas, florestais e ambientais.

O turismo não ficava devendo. “Cento e dezoito mil pessoas visitaram em 1969 o Parque Estadual do Monge”, revela o texto. São quase 10 mil pessoas por mês, ou seja, mais ou menos 20% da população da Lapa atualmente, em turistas trazendo dinheiro à nossa cidade. Em outras palavras, o parque “bombava” em todos os sentidos.

Mas a visão mudou. Em parte não posso criticar, pois haviam realmente coisas muito estranhas acontecendo, se analisarmos o objetivo principal de um parque, que é a preservação de recursos ambientais e belezas cênicas (no caso, a vegetação nativa típica e os arenitos), mas com possibilidade de visitação e exploração do turismo. Estávamos perdendo o foco, pois não havia uma preservação efetiva.

Só que hoje temos o extremo oposto. Nada pode no Monge. Preservação total. Não achei uma estimativa de número de visitantes atualmente, mas confesso que não procurei muito a fundo. Imagino – mas posso estar errado – que não tenhamos mais todo esse turismo que tínhamos lá em 1969. Se formos analisar do ponto de vista do objetivo principal do parque, está mais próximo da preservação perfeita, mas não vejo mais o parque como um atrativo turístico lapeano. Na verdade, se procurarmos comentários sobre ele no Google, percebemos que chovem elogios para o potencial do lugar, mas uma reclamação é constante: o abandono por parte da gestão pública.

Essa situação toda levanta algumas questões interessantes. A primeira que faço é se não estamos perdendo o foco novamente, mas desta vez com um extremismo para o lado ambiental. Outra questão bastante interessante que merece consideração é em como cada governo define suas prioridades. Será que a Lapa e o Monge estão sendo lembrados pelos últimos – e atual – Governo Estadual? Estamos tendo a atenção que merecemos?

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