Um tempo chuvoso

Apreciando o clima chuvoso que nos foi apresentado nos últimos dias voltam à memória tempos antigos.

Era um tempo onde não havia asfalto nas principais vilas da cidade e os alunos iam às escolas com seus guarda-chuvas e as botas ‘sete léguas’, para não atolar no barro. A preguiça de sair da cama em dias chuvosos era maior do que nos dias de sol, mas os pais não adulavam na hora de chamar para ir às aulas.

Carregando nossas malas do positivo (eram quase unânimes), munidos de um guarda-chuva, reuníamos a turma no caminho da escola e já ali mesmo começavam as brincadeiras. Quem não se cuidasse chegaria à escola cheio de barro resultantes daquelas típicas maldades infantis. Na saída das aulas era comum esquecer o guarda-chuva, que ficava guardado na escola com outras dezenas de esquecidos.

A chuva nunca foi um impedimento para a diversão juvenil, só alterava os planos mirabolantes que permeavam as cabeças infantis e pré-adolescentes. Roubar mimosa nestes dias era um dos principais objetivos, mas ficava prejudicado pela chuva. Brincar com carrinho de rolimã ficava prá depois, já que, prá descer as ladeiras da vila, precisávamos de dez dias de sol prá deixar o chão lisinho.

Jogos de tabuleiro eram comuns na época e viajávamos com banco imobiliário, jogo da vida, trilha, damas e outros assim. Eram poucos os videogames, mas quem tinha um sabia que teria visita nos dias de chuva, mesmo que a visita chegasse ensopada prá brincar. Ataris e odissey´s eram o máximo de tecnologia que existia na época e falar em computador lembrava aquelas salas imensas cheias de botões e luzes piscando.

Melhor de tudo eram os dias de chuvas quentes, quando saíamos às ruas em busca do melhor terreno baldio para fazer guerra de lama. As mães já se preparavam com suas varinhas de marmelo, cintas e outros badulaques para dar aquela ‘surra’ nas crianças enlameadas.

A parte de trás das geladeiras nunca ficava vazia, sempre com uma peça ou outra do uniforme escolar por secar e grande era o esforço das mães e avós em dar um jeito de lavar e fazer secar a roupa para a família. Secadora de roupas nem eram cogitadas, tamanho o custo da benesse. Abençoados aqueles que tinham fogão a lenha em casa, e botavam a roupa prá secar num varalzinho acima do dito cujo.

Tempos antigos, muito diferentes. Hoje não permitimos mais que nossos filhos sequer pisem no barro, quanto mais caminhem para o colégio. Damos tudo que podemos de tecnologia para que se distraiam e queremos que sejam pessoas prontas para enfrentar o mundo. Insistimos em proteger as crianças, mesmo que com isso, não consigamos deixa-los prontos para a vida que vem por aí.

Nossos pais é que estavam certos. Crianças tem que se sujar na lama mesmo.

 

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Aramis José Gorniski


Entre em contato com Aramis José Gorniski: aramizinho@gmail.com