Chegamos à marca de cem óbitos no município da Lapa no início desta semana. São cem famílias que estão sofrendo a falta de seus entes queridos. São cem mães sem seus filhos. São centenas de pessoas que perderam os amigos.
Não venham com mimimi dizendo que a culpa por estes óbitos é do prefeito, governador ou presidente. Muito menos a culpa é do sistema de saúde lotado. Os óbitos pelos quais todos estamos sofrendo são fruto do nosso descaso frente a um inimigo invisível, matreiro e muito mortal.
Mesmo sabendo dos perigos e consequências do enfrentamento deste inimigo, ainda vemos pessoas contaminadas indo aos mercados, como se nada tivesse acontecendo. Ainda vemos pessoas sem máscara em diversos locais. Ainda vemos rodas de chimarrão, narguilé ou cerveja.
Claro que é muito difícil aceitar perder privilégios para combater este vírus. Como um bom povo mimado que somos, esperamos que “eles” façam a sua parte, mas a nossa parte, deixa prá lá. “Eles” que não se cuidam estão espalhando o vírus, então “eles” que se virem.
A vantagem de usar “eles” é a total e incondicional impessoalidade com que passamos a notar os problemas do dia-a-dia. Quando queremos culpar alguém, “eles” são as melhores opções para levar a culpa.
Mas quem é que são “eles”?
“Eles” são todos aqueles a quem queremos culpar por nossas falhas e desvios de caráter. “Eles” são aqueles que não gostamos, aqueles que nos desagradam, ou que não estão ao nosso alcance para se defender.
“Eles”, no frigir dos ovos, somos todos nós. As péssimas atitudes que “nós” demonstramos e o descaso com o vírus que “eu” e “você” temos, gera um grande problema para “todos nós”.
O povo brasileiro sempre gostou de jogar seus problemas nas costas de outros e “eles” são ideais para isso. É um culpado indefinido, mas útil para qualquer momento. Qualquer problema que nossa incompetência ou descaso encontra, jogamos para “eles”, como que para lavar nossas mãos.
Prá finalizar, temos que entender que “eles” somos “nós” na visão daquele teu vizinho que não nos gosta. E o ciclo se mantém.
Enquanto não assumirmos “nós mesmos” as culpas e consequências pelos “nossos” atos, “nosso” problema será sempre culpa “deles”.