Vivemos esperando…

Estamos vivendo um experimento social inédito na história do nosso país. O brasileiro nunca pensou que seria obrigado a manter distância dos outros, muito menos ser obrigado a ficar em casa na maior parte do tempo. Nunca imaginamos ver os comércios fechados por conta de um maldito vírus e menos ainda conseguimos admitir que não temos paciência para atravessar esse período temeroso.

Do isolamento de minha casa, fuçando por todos os cantos na internet, acabei caindo no clipe da música Dias Melhores, do grupo Jota Quest e, com muito tempo disponível, me peguei a analisar a letra.

A música fala que “vivemos esperando dias melhores, dias de paz” (…) “vivemos esperando o dia em que seremos melhores, melhores no amor, melhores na dor, melhores em tudo”.

É um sonho muito bonito pensar que podemos fazer mais e melhor das nossas vidas. Essa frase deve mexer com todo mundo que a ouve com atenção. Agora vem a pergunta: “Porque não podemos ser melhores agora?”.

A ironia desta música é que todos os verbos são no futuro. Queremos, lá na frente, ter sido bons e promissores, mas e o hoje? O que você tem feito para ser melhor agora? Porque esperar melhorar no futuro?

Quando surgiu essa pandemia e suas consequências, muitos comentaram que a humanidade será mais evoluída ao vencer este problema, mas não estamos vendo evolução, muito pelo contrário.

Com tempo livre e acesso facilitado à internet, vemos que as pessoas não estão preocupadas em ajudar e contribuir para que as coisas melhorem. A grande maioria das pessoas tem usado suas mídias sociais para opinar e reclamar de tudo que estão (na sua cabeça) sofrendo. É triste ver a raiva com que alguns colocam suas ideias em público, incitando a dúvida e a confusão para os seus. Inveja, fofoca e muito preconceito é o que vem à tona nestes tempos de isolamento. Poucos são os que se propõe a arregaçar as mangas e ajudar o seu próximo.

Um amigo que passou pela Covid nos contou do desgosto que sentiu ao ser liberado pelo médico e tentar voltar à vida normal. Olhares maldosos, conversas cochichadas por perto, pessoas se afastando deliberadamente dele enojadas, só pra citar alguns detalhes. Como somos uma comunidade pequena, é muito fácil saber da vida dos outros. Porém, essa facilidade de saber falha quando só nos interessamos na parte maldosa da história. É um tal de “olha aquele um, teve covid e tá na rua, deveria estar em casa”. Esse foi o relato do meu amigo, sentindo-se um pária em sua própria cidade e sem ter culpa do que passou.

Voltemos à música. “Vivemos esperando o dia que seremos melhores para sempre”. Eu gostaría de poder afirmar que um dia seremos melhores, mas gostaria muito mais de ver pessoas sendo melhores hoje mesmo.

O tempo é agora. O futuro ainda não existe. Pense nisso.

 

 

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Aramis José Gorniski


Entre em contato com Aramis José Gorniski: aramizinho@gmail.com