Jesus Cristo, discipulando, disse: “Por que vês a felpa no olho de teu irmão e não percebes a trave em teu olho? Ou como ousas dizer a teu irmão: espera, quero tirar a felpa de teu olho, enquanto há uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, depois vê como tirar a felpa do olho do irmão” – Mt 7.3-5.
Jesus Cristo para advertir com tanto maior insistência contra o vício do julgar autoinovado recorre a uma comparação elementar, a título de ilustração, e pronuncia a seguinte sentença: todo aquele que julga seu próximo, fora do ofício e autoridade legítimas, tem uma grande trave em seu olho, enquanto que o que é julgado tem somente uma felpa no seu, de modo que quem condena, sem amparo e autorização da Palavra, outras pessoas tementes a Deus e de coração piedoso via fé no único e suficiente Remidor, é dez vezes mais digno de juízo e condenação. Isto é realmente uma sentença horrível e atroz, contudo, necessária para coibir e parar, de vez, uma prática carnal depreendida de palavra e fé autoinventadas. Pois os espíritos sectários e os Mestres Sabichões sabem adornar-se tão bem com a autojustiça. Sim. Eles nada sabem fazer senão criticar a Cristo, os Seus apóstolos, e arguir a outros discípulos e ouvintes crentes dEle onde nada há a ser criticado. Ou, se, talvez, descobrem uma felpa numa pessoa cristóloga, eles, então, sem procrastinar, a inflacionam e caluniam o mais possível. Na melhor das hipóteses, quando têm grandes argumentos para julgar e condenar as pessoas que vivem arrependimento e fé diários, a mais grave das acusações é em relação a bens terrenos ou, então, acusam de que alguém aqui e outro acolá não jejua e coisas semelhantes, o que dá a impressão de que ocorrem sim algumas falhas na vida piedosa – o que não pode ser diferente, porquanto, neste mundo nunca se chegará a tal santidade e justiça que se pode dispensar os Meios do Perdão dos pecados. O problema, porém, é que a gente julgadora autoproduzida não percebe a trave em seu olho, ou seja, que perseguem o Evangelho da graça e da glória de Cristo, e ‘assassinam’, com suas difamações, inocentes por causa dele, enquanto eles mesmos, quer individualmente quer como grupo, são grandes malvados. Que há que pessoas juízas, por inventiva própria, não se arrogam e ainda justificam defendendo com aparência de direito? Enquanto elas fazem o que bem entendem, sem amparo na Palavra, afirmam que nenhum outro é pregador verdadeiro, nem possui ofício por vontade de Deus e honestamente, e sempre outrem está exercendo o ministério como ‘usurpador’. E tudo isto, em seu juízo autoinspirado, tem que passar por precioso e não deve ser censurado, não por Cristo e nem por ninguém outro. Mas quando Cristo e Seus apóstolos não jejuam nem observam com tanto rigor sua justiça – que a gente de espírito farisaico mesma não observa! – somente isto é mau, enquanto todos os seus pecados e escândalos são piedosos e honrados, segundo o seu juízo. Eis a gente que Cristo notifica ao arrependimento e à fé nEle. Sim, é isto que aconteceu na época em que Cristo peregrinou pela Palestina e arredores e acontece no mundo inteiro: em toda parte, uma trave julga a felpa, e um ‘grande patife’ condena um pequeno.
Ora, é verdade que não somos isentos de fraquezas, mesmo que já tenhamos começado a crer e peregrinar vivendo arrependimento e fé diários. Com efeito, nenhum cristão chegará a ponto de não remanescer uma felpa. Nem mesmo Paulo o conseguiu, conforme ele se lamenta em Rm 7.14ss.: “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.” E toda a cristandade, ao modo da Palavra, tem que pedir diariamente a Deus: “Perdoa-nos a nossa culpa”. E, com razão, confessa o artigo de fé que se chama perdão dos pecados.