Jesus Cristo pregou e disse, com verdade: “Por isso não deveis andar ansiosos e dizer: que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? Os gentios é que buscam todas essas coisas. Pois o vosso Pai celestial sabe que precisais de todas essas coisas” – Mt 6.31-32.
Se – como de fato faz – o Criador de tudo o que vemos e não vemos, dá sustento a pássaros e lírios, não alimentaria o Pai a seus filhos e filhas que diariamente lho pedem? Não poderia Ele dar o que precisam para o sustento diário, Ele a quem pertencem todas as riquezas da terra e que as pode distribuir, conforme o Seu agrado? “Diariamente Deus me dê não mais que o suficiente; / dá-o às aves, por mercê,/ e esqueceria a gente?” – Claudius.
A ansiosa solicitude da vida é própria da gente que não crê, que confia em suas forças e em seu trabalho, e não em Deus acima de tudo, de toda gente, de todas as coisas. Gente de fé e vida piedosa autoinventada são as ansiosas solícitas por não saberem que o Pai de Jesus Cristo sabe que necessitam de alimento e vestes. Por isso elas próprias querem realizar o que não esperam de Deus. Para o discípulo, porém, vale: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” – Mt 6.33. Fica, pois, evidente que preocupação com alimento e o vestuário ainda não é busca do reino dos céus, como tanto se gosta de afirmar, cá e lá, sem amparo na Palavra e na fé, como se realização do trabalho em favor da família e de nós mesmos, como se preocupação pelo pão e pela morada já fossem a busca do reino de Deus, como se o reino de Deus se concretizasse nas preocupações pela vida fugaz e transitória. O reino de Deus e sua justiça são algo totalmente diverso daquilo que nos seria acrescentado em dádivas deste mundo. O reino de Deus nada mais é do que a justiça da qual falam os capítulos cinco e seis do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus: A justiça da cruz de Cristo e do discipulado sob a cruz. A comunhão de Jesus Cristo e a obediência a seu mandamento a tudo precedem, e todo o mais vem depois. Não são coisas concomitantes e, sim, subsequentes à Palavra e à fé já tornadas presente via ação do Espírito Santo. Antes da preocupação pela vida, pela comida e pelo vestuário, pelo emprego e pela família, vem a busca da justiça de Cristo. Estamos diante dum resumo conciso do que fora dito anteriormente. Também esta palavra de Jesus é um fardo insuportável, uma destruição impossível da existência humana dos pobres e dos miseráveis – ou então é o próprio Evangelho que alegra e livra. Jesus Cristo não fala de coisas que o ser humano deve fazer, mas não pode; fala do que Deus nos presenteou e ainda promete presentear, por graça dEle, contanto que perseveremos no discipulado em vivência responsável do ofício e incumbência do ministério da Palavra e Meios da Graça. Uma vez que Cristo nos foi dado, estando nós chamados ao discipulado, tudo, mas tudo mesmo nos é dado com Ele, sem nossas boas obras, méritos, dignidades. Todas as outras coisas nos são dadas por acréscimo, na medida em que, indo, façamos gente discípula, batizamos as que creem em nossa pregação cristológica, cooperando no guardar tudo o que Cristo ensinou, instituiu, ordenou que guardemos e pratiquemos. Quem, estando no discipulado, olhar somente para a justiça de Cristo, esse está nas mãos de Jesus Cristo e do Pai dEle e sob Sua proteção, via Espírito Santo; e quem está assim na comunhão do Pai, a este nada pode acontecer, esse já não pode duvidar do fato de o Pai poder saciar os filhos, não permitindo que de algo careçam. Na hora certa Deus dará. Ele sabe do que necessitam. Após longo discipulado, a gente seguidora responderá à pergunta: “Alguma vez passastes necessidade?” “Jamais, SENHOR!”. Como poderia carecer de algo a gente crente batizada que, em fome e nudez, em perseguição e perigo, foi levada, pelo Espírito Santo a ter certeza da comunhão com Jesus Cristo, mesmo sob cruz e renúncia?
