Jesus Cristo disse, notificando à fé, sem procrastinação: “E porque vos preocupais com a roupa? Olhai os lírios do campo como crescem. Não trabalham, também não fiam. Eu vos digo que nem Salomão em todo o seu esplendor estava vestido como um deles. Se assim Deus veste a erva do campo, que hoje está de pé e amanhã é lançada no forno, acaso não o fará muito mais a vós? Oh, homens de pequena fé” – Mt 6.28-30. Aí tens tu, aí tenho eu, aí temos nós, para exortação e consolo, mais um exemplo e outra comparação, na qual as florzinhas – os lírios – no campo, que são pisadas e comidas pelo gado, têm que servir-nos de doutores e mestres, para aumentar ainda mais nossa desavergonhada incredulidade. Vê como crescem tão coloridas! No entanto, nenhuma delas está preocupada ou apreensiva com seu crescimento ou com as cores que haverá de ter. Isso elas deixam nas mãos de Deus. E sem qualquer preocupação e contribuição, Deus as veste com cores tão belas e amáveis que Cristo diz que nem Salomão, com todo seu esplendor, era tão bonito como uma delas, sim, como nenhuma rainha, nenhuma autoridade, nenhuma pessoa no seu maior glamour esplendoroso, com todas as suas mordomias, com todo o seu ouro, suas pérolas, suas pedras preciosas. Porque não sabe mencionar nenhum rei que tivesse sido ornamentado com tanta riqueza, esplendor e beleza como o rei Salomão. No entanto, o rei em todo o seu belo esplendor e adornos é nada em comparação com uma rosa ou um cravo ou violeta no campo. Assim nosso Senhor Deus pode enfeitar a quem quer enfeitar, segundo Lhe apraz. E isto é um enfeite de fato. Nenhuma pessoa é capaz de produzir ou pintar uma cor dessas, e ninguém pode desejar ou obter um adorno mais bonito ainda. Ainda que fosse enfeitado com puro ouro e veludo, diria: prefiro que me enfeite o Mestre lá em cima no céu, que também enfeita os passarinhos melhor do que todos os alfaiates ou bordadores de seda. Se Deus veste e enfeita tantas florzinhas com cores tão variadas, de modo que cada qual tem seu próprio vestido, mais esplêndido do que todo o adorno do mundo, por que, então, não podemos confiar que Ele também vestirá a nós? Pois, que são as flores e a erva do campo comparadas conosco, que O ouvimos com fé presente e nos deixamos vocacionar e incumbir do ministério da Palavra e Meios da Graça? Para que foram criadas senão para ficarem ali por um dia ou dois para serem vistas e para depois murcharem, sendo transformadas em palha ou, como diz Cristo, são atiradas no forno, para fazer fogo com elas e aquecer o forno? Não obstante, nosso Senhor Deus considera uma coisa tão passageira e insignificante tão elevada que investe nela tanto que fica mais enfeitada do que qualquer rei ou ser humano na terra, quando, na verdade, não precisam desse adorno e é um desperdício, que logo se vai com a flor. Nós, porém, sua criatura mais sublime, por amor da qual criou todas as coisas, dando-nos tudo – nós Lhe somos tão importantes que essa vida não será nosso fim, mas, depois dessa vida, Ele quer dar-nos a vida eterna, contanto que perseveremos na Palavra e na fé em Cristo, o nosso único e suficiente SENHOR e Salvador. E esses não querem confiar que Ele também nos vestirá como veste as flores no campo e os pássaros no ar com toda sorte de cores e penas bonitas. Aqui, Jesus Cristo está falando de modo ‘tolo’ e pinta nossa descrença de modo tão vergonhoso que não podia ser mais irônico. Mas é o próprio diabo e a espetacular queda que cometemos que nos obrigam a ver o mundo inteiro cheio de exemplos dos pássaros e das flores, testemunhando contra nós, que, com seu exemplo e sua aparência, denunciam nossa falta de fé e se tornam nossos mais sublimes doutores, cantam e pregam e nos sorriem tão amavelmente para que creiamos, ou que, ao menos, supliquemos que sejamos feitos crentes. P. Airton Hermann Loeve |