2.SE DEUS… ACASO

Jesus Cristo, que não quer fazer e nem ter feito palavras em vão, pregou: “E porque vos preocupais com a roupa? Olhai os lírios do campo como crescem. Não trabalham, também não fiam. Eu vos digo que nem Salomão em todo o seu esplendor estava vestido como um deles. Se assim Deus veste a erva do campo, que hoje está de pé e amanhã é lançada no forno, acaso não o fará muito mais a vós? Oh, homens de pequena fé” – Mt 6.28-30.

Jesus Cristo está falando de modo ‘tolo’ e pinta nossa descrença de modo tão vergonhoso que não podia ser mais irônico. Mas é o próprio diabo e a espetacular queda que cometemos que nos obrigam a ver o mundo inteiro cheio de exemplos dos pássaros e das flores, testemunhando contra nós, que, com seu exemplo e sua aparência, denunciam nossa falta de fé e se tornam nossos mais sublimes doutores, cantam e pregam e nos sorriem tão amavelmente para que creiamos, ou que, ao menos, supliquemos que sejamos feitos crentes. Não obstante, não raro, nós vamos em frente, deixamos que nos cantem e preguem e continuamos cavoucando e unhando. Mas, para nossa eterna vergonha e para nosso eterno prejuízo, cada flor testemunha contra nós perante Deus até o dia derradeiro e condena nossa falta de fé. Por isso conclui esse sermão a seus cristãos, discípulos evangelizadores, que Lhe ouvem como fé presente, do seguinte modo: “Por isso não deveis andar ansiosos e dizer: que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? Os gentios é que buscam todas essas coisas. Pois o vosso Pai celestial sabe que precisais de todas essas coisas” – Mt 6.31-32.

A pessoa seguidora de Jesus Cristo, via fé, que não se pode auto-imputar, sabe mais: sabe que não apenas não lhe é possível e permitido providenciar, mas sabe ainda que não há necessidade de viver como um descrente. Pois, não a ansiedade nem o trabalho granjeiam o pão de cada dia, mas Deus, o Pai, o providencia, segundo Lhe apraz. Os pássaros e os lírios não trabalham nem fiam; mesmo assim são alimentados e vestidos e recebem seu quinhão, despreocupados. Usam as riquezas do mundo apenas para sustento diário; não os acumulam e justamente assim dão glória ao Criador, não através do trabalho, de seu cuidado, mas, sim, através de receberem, em singeleza, diariamente, as dádivas que Deus dá, hoje. Assim pássaro e lírio tornam-se exemplo para os seguidores de Jesus. Ele dissolve a pretensa relação necessária entre trabalho e alimento, colocada sem contar com Deus. Jesus não glorifica o pão de cada dia como sendo o salário do esforço, mas refere-se à ingênua despreocupação daquele que anda nos caminhos de Jesus e tudo recebe como procedente dEle, por graça e fé.

Animal nenhum trabalha para ganhar o sustento, mas cada qual tem sua tarefa; depois procura e acha alimento. O passarinho esvoaça e canta, faz o ninho e gera a prole; esse é seu trabalho; dele, porém, não lhe vem o sustento. Os bois puxam o arado, os cavalos servem de transporte, e brigam, as ovelhas fornecem lá, leite e queijo. Eis o seu trabalho, mas não é dali que lhes vem o alimento. Mas a terra faz brotar grama e a todos alimenta pela bênção de Deus. Assim também o ser humano deve e tem que trabalhar e realizar algo, sabendo, porém, que alguém outro o alimenta e não o seu trabalho, ou seja: a rica bênção de Deus; ainda que possa parecer que é o trabalho que lhe dá sustento, porque sem trabalho Deus nada concede. Da mesma forma que o passarinho, que não semeia nem colhe, teria que morrer de fome não fosse voar à procura do alimento. Mas o fato de encontrar alimento não é seu mérito, é bondade de Deus. Pois, quem colocou ali o alimento para que o encontrasse? Se Deus nada colocar, nada encontrará, mesmo que o mundo se matasse trabalhando e procurando.

 

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com