10. NÃO JULGUEIS

Cristo disse: “Não julgueis, para não serdes julgados. Pois com o mesmo juízo com que julgais, sereis julgados, e com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos” – Mt 7.1s.

Se, no julgamento, de fato eu visasse a destruição do mal eu o procuraria ali onde de fato ele me ameaça, ou seja, em mim mesmo, que sou pessoa pecadora por natureza. Enquanto, porém, procuro o mal no outro, fica evidente que, neste julgar, busco a justificação própria, que quero ficar impune no meu próprio mal enquanto julgo o outro. A razão que nos leva a julgar é a mais perigosa autoilusão que acha que para mim a Palavra de Deus vale de modo diferente do que para o outro. E assim estabeleço um direito especial, dizendo: para mim vale o perdão, para o outro, o juízo. Como, porém, os discípulos não recebem de Jesus um direito especial próprio o qual poderiam reivindicar para si em relação a alguém outro, como nada recebem a não ser Sua comunhão, por isso o julgamento é proibido ao discípulo.

Jesus não tem o direito nem o poder de impingir a palavra da graça a qualquer um a qualquer hora. Toda insistência, todo e qualquer correr atrás do outro, o proselitismo, toda tentativa de convencer o outro por força própria, tudo isto é vão e perigoso. Vão porque os porcos não reconhecem as pérolas que se lhes atira; perigoso pois desta forma a palavra do perdão está sendo dessacralizada, e o outro, ao invés de lhe servir, está sendo induzido a pecar contra as coisas sagradas; e mais: os discípulos pregadores se expõem ao perigo de sofrerem dano da parte da fúria cega dos endurecidos e obcecados, sem necessidade e sem proveito. A dissipação da graça barata enfastia o mundo, na essência, relaxado na penitência. Assim, afinal, o mundo acaba voltando-se violentamente contra os que lhe querem impor o que não deseja. Isto significa para o discípulo uma séria restrição de suas atividades, o que, aliás, corresponde às instruções de Mt 10: Sacudir dos pés o pó onde a palavra da paz é rejeitada. A atividade febril dos discípulos que não considera resistência nenhuma, confunde a Palavra do Evangelho com uma ideia gloriosa. A ideia precisa de fanáticos que não respeitam nenhuma resistência. A ideia é forte. A Palavra de Deus, porém, é tão fraca que se sujeita ao desprezo e à rejeição. A Palavra encontra corações endurecidos e portas fechadas, e ela reconhece o direito de ser desta resistência e a suporta, apesar de. Isso é um reconhecimento mui amargo: a ideia não conhece impossíveis, o Evangelho, porém, os conhece. A Palavra é mais fraca do que a ideia. Todavia, nesta fraqueza os discípulos estão livres do doentio dessossego dos fanáticos, pois sofrem com a Palavra. Os discípulos podem ceder, podem fugir, desde que cedam e fujam com a Palavra, desde que sua fraqueza seja a fraqueza da própria Palavra, desde que não abandonem a Palavra nesta fuga. Pois não passam de servos e instrumentos da Palavra e não podem querer ser fortes quando a Palavra é tão fraca. Se a todo custo e com todos os recursos quiserem impor ao mundo a Palavra, estariam transformando a Palavra de Deus numa ideia, e com muita razão o mundo se oporá a uma ideia que de nada lhe adianta. Como os testemunhas fracos, pertencem àqueles que não cedem, mas permanecem com a Palavra, apesar de. Os discípulos que desconhecem esta fraqueza da Palavra, não teriam ainda conhecido o mistério da humildade de Deus, em Jesus Cristo, o Crucificado Ressurreto Ressurreto Crucificado. Esta Palavra fraca, que sofre a oposição dos pecadores, é a Palavra forte e misericordiosa que converte pecadores, do fundo do coração, contanto que se arrependam e creiam em Jesus Cristo, que foi obediente a Seu Pai até a morte de cruz. Sua força está oculta na fraqueza; se a Palavra viesse a nós em poder irrestrito, estaríamos em face do juízo derradeiro. Nisso consiste a grande tarefa dos discípulos: reconhecer o limite de sua missão. O abuso da Palavra, caso isto aconteça, porém, fará com que ela se volte contra eles.

 

 

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com