Jesus Cristo, no único-salvante Evangelho dEle, disse aos Seus discípulos: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?” – Mateus 7.7-11.
Além da nossa grande necessidade espiritual de perdão dos pecados, vida e salvação, nos deveria, por si só, incitar à oração e estimular-nos a ilustração extremamente bonita de Jesus Cristo, inserida na perícope acima. É a analogia de todo o pai em relação a seu filho. E embora ele fosse um escandaloso porcalhão, se o filho lhe pede um peixe, ele não lhe dará uma cobra, etc. Daí conclui Cristo com essas consoladoras palavras: se vocês, que não são bons por natureza e que não tem uma veia boa sequer dentro de vocês para com Deus, como Deus, seu Pai celestial, que é pura bondade em Seu SER, não iria também dar coisas boas se Lho pedirem? Isto é o máximo com que se deve ou pode estimular alguém à oração, desde que queiramos aceitar essas palavras e tomá-las a peito, ouvindo-as, sempre, com fé presente.
Ora, sobre a necessidade que levaram Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a fazer essa admoestação e que nos deve incitar à oração, já dissemos que, se alguém tem a Palavra de Deus corretamente e fez um bom começo tanto na doutrina quanto na vida crente e piedosa, é inevitável que diariamente apareçam não uma, mas milhares de tentações e resistências, que nos querem fazer decair da Palavra e da fé, a toda hora. Pois aí está, em primeiro lugar, nossa própria carne, o velho Adão infestado de pecado até o tutano dos ossos, que logo se aborrece, fica desatencioso e perde a vontade de ouvir a Palavra de Deus e de viver uma vida decente, de modo que sempre nos falta sabedoria e a Palavra de Deus, fé, amor, paciência, etc. Este é o primeiro inimigo, pendurado diariamente em nosso pescoço e que é tão pesado que sempre nos quer arrastar para a incredulidade. A este se associa também o outro inimigo, o mundo, que inveja em nós a amada Palavra e a fé e não quer tolerá-la em curso na nossa vida, por mais fraca que seja entre nós, vai e nos condena por causa disto, e quer tirar-nos o que temos, de modo que não podemos viver em paz com ele.
Isto já são duas grandes tentações que nos estorvam interiormente e que, exteriormente, sempre querem afastar-nos da oração. Por isso, nada mais temos a fazer do que clamar sempre a Deus que Ele fortaleça Sua Palavra em nós e a faça crescer, detenha os perseguidores e as hordas cismáticas, para que ela não seja abafada. Mas o terceiro inimigo é o mais poderoso, o miserável diabo, que tem estas duas vantagens: primeiro, porque não somos bons por natureza e porque, além disto, somos fracos na fé e no espírito. Assim, ele se instala em minha própria fortaleza e luta contra mim, enquanto crente batizado. Além disto, conta com a ajuda do mundo e incita todas as hordas sectárias contra mim, por meio das quais dispara contra mim, como discípulo, todos os dardos inflamados e venenosos. Com isto, quer esgotar-me, para que a Palavra se extinga novamente em mim e seja abafada, e ele governe novamente como reinou antes, não se deixando expulsar. Eis aí três desgraças que nos oprimem por demais, e pesam sobre nossa ‘nuca’ e não desistem enquanto vivemos e respiramos. Por isto temos constantes motivos para orar e clamar. Justamente por este motivo Cristo profere essas palavras: “pedi”, “procurai” e “batei”, para mostrar que ainda não temos tudo, e, sim, que ao nosso redor, sempre há necessidades e carências. Pois, se já tivéssemos tudo, não haveria necessidade de pedi-lo; se já estivéssemos no céu, não precisaríamos bater.