Jesus Cristo, nosso único e suficiente Salvador, disse: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao Mâmon” – Mt 6.24.
É contra os Seus contemporâneos judeus fariseus que Cristo pronuncia essa máxima, notificando ao arrependimento e à fé: que ninguém pretenda servir a Deus e ao Mâmon. É impossível manter o serviço por Ele instituído se quiseres ser ávido por Mâmon, porque culto a Deus é apegar-se apenas à Sua Palavra, com empenho exclusivo. Quem, portanto, pretende viver de acordo com Sua Palavra e perseverar nela, precisa renunciar sumariamente ao deus Mâmon, pois é certo que no momento em que um pregador ou pastor se torna ganancioso, ele não presta mais nem pode mais fazer uma boa pregação. Pois tem que ser precavido e não pode arriscar-se a censurar ninguém, aceita subornos e permite que lhe ‘entupam’ a boca, para deixar as pessoas fazerem o que quiserem; não quer irritar ninguém, particularmente, os graúdos e poderosos autoindulgentes, negligenciando, portanto, seu ofício e função, que exige a censura dos maus e da maldade. Da mesma forma, também um prefeito ou juiz ou quem quer que tenha um cargo público, deve cumprir sua função e cuidar que as coisas andem direito, sem ficar se preocupando em como enriquecer ou se aproveitar do cargo. Mas se ele for um servo do Mâmon, deixa-se corromper com subornos, ficando cego, não mais enxergando como vivem as pessoas, pois pensa: se aplico uma punição a este ou aquele, farei inimigos/as e assim poderia perder o que tenho, etc. E mesmo tendo ele uma função valiosa, ocupando um cargo que lhe foi dado e encomendado por Deus, não pode executá-lo e desempenhá-lo; só por causa do Mâmon que tomou conta do seu coração.
É assim, no geral, que as coisas andam no mundo todo; acham que o Mâmon é uma bagatela e não representa grande risco, tranquilizando-se com a bela e doce ideia de que mesmo assim poderiam perfeitamente servir a Deus. No entanto, isso não passa de uma praga infame, por meio da qual o diabo ofusca a pessoa, a qual não mais cumpre seu oficio e cargo, ficando totalmente presa em sua ganância, preocupando-se apenas com a possibilidade de perder prestígio, presentes, propinas, vantagens. Por isso, Cristo emite um juízo severo, no sentido de que não devemos nos iludir com tais ideias, fazendo pouco caso. Ele quer que saibamos o seguinte: quem deixa de cumprir sua função como deveria por amor ao Mâmon, privilégios, prestígio ou favor, não será reconhecido por Deus como seu servo, mas como seu inimigo, como veremos, oportunamente, mais adiante. Mas quem quiser ser encontrado no serviço a Deus, executando adequadamente sua função, que pense bem e tome uma atitude corajosa, de modo a poder desprezar o mundo com seu Mâmon. Isso, porém, não procede de teu íntimo, mas é dádiva do céu em resposta à oração de que Deus, que te concedeu e encomendou tal ofício, também te apoie e conceda que o possas desempenhar, e que penses que nada mais nobre e melhor tens e podes fazer sobre a terra que o serviço que lhe deves prestar, sem te importares com eventuais prejuízos ou dificuldades que tenhas que sofrer em decorrência disso. Podes consolar-te com o fato de servires a um Senhor maior, que pode indenizar-te perfeitamente do prejuízo, o que é melhor do que perder o tesouro eterno por amor de pequena vantagem temporal que de qualquer modo não te adianta. Pois se tivesses que escolher um senhor, não preferirias servir ao Deus vivo a servir ao cadáver morto e inerte?
Por fim: verdadeiro é que não se pode servir a dois senhores que são antagônicos.