Jesus Cristo disse: “Tudo, pois que quereis que as pessoas vos façam, fazei-o vós também a elas. Essa é a lei e os profetas” – Mt 7.12.
Certa gente, se não fosse tão infame e desavergonhada, deveria ficar envergonhada quando a consciência lhes acusa com esse dito, de modo que deveriam arrepender-se. Na verdade, deveriam meter-lhes tanto medo que não saberiam mais onde ficar, pois isso é um fardo que sempre pesa sobre nós e nos impele, sim, nos condena sempre como eterna testemunha contra nós mesmos, de modo que se torna insuportável. Isso te ensinaria em breve que deves parar, por exemplo, com roubalheira e ladroagem e coisas semelhantes que não gostarias que te fossem feitas por alguém outro. Portanto, acostuma-te a olhar um pouco para esse dito e pratica-o em ti mesmo. Assim terás uma pregação diária em teu coração e em toda a tua existência, em tuas ações e em todos os teus tratos com o próximo. Através dela, poderás aprender muito bem a compreender todos os mandamentos e toda a lei e, por ela, te deixarás governar e conduzir por tua vida e pela vida de todos os seres humanos, para que, a partir dela, possas julgar o que é justo e injusto no mundo.
Aqui Cristo coloca a lei e os profetas em contraste direto com o Evangelho ou a promessa. Pois não prega nada a respeito do sublime artigo da fé em Cristo, e, sim, somente a respeito das boas obras. Pois são duas pregações distintas. É preciso pregar as duas, mas cada qual a seu tempo e na hora certa. Isto o reconheces com clareza no texto e nas palavras, quando diz: “O que quereis que as pessoas vos façam, fazei-o vós também a elas”. Com isto mostra que sua pregação não vai além das obras que as pessoas fazem a nós e nós fazemos a elas, e que nada diz a respeito da graça de Cristo que recebemos de Deus. Por isso, apenas, quer dizer: quando é chegada a oportunidade para pregar sobre a vida boa e as boas obras que devemos praticar em relação ao próximo, nada mais encontras em toda a lei e nos profetas além do que essa palavra ensina. Por isso, também usa claramente as palavras “às pessoas” e “fazei-o também a elas”, etc., a fim de mostrar que está falando exclusivamente dos mandamentos da segunda tábua, que dizem respeito às boas obras de amor ao próximo.
A melhor coisa nesta palavra é o fato de que não diz: outras pessoas devem fazer isso a vocês, e, sim, vocês o devem fazer às outras pessoas. Pois todo mundo gosta que outros lhe façam o bem. Existem muitos vilões e patifes que adorariam que todo mundo fosse piedoso e lhes fizesse o bem. Eles, porém, não o querem fazer a ninguém. Não obstante sabem clamar e lamentar furiosamente quando estão sendo roubados ou injustiçados. Essa gente nada mais é do que gente má. Alguns, porém, ainda são um pouco melhores quando dizem: por meu turno, estou disposto a fazer o que é de meu dever, se outras pessoas o fizessem primeiro a mim. A palavra que temos aqui, porém, diz: faze tu o que queres que o outro faça a ti. Tu deves começar e ser o primeiro, se queres que outras pessoas o façam a ti. Se, porém, não querem, faze-o tu assim mesmo. Pois se não quiseres agir cristãmente e fazer o bem antes que vejas que outros o fazem, jamais isso resultaria em algo. Se outros não querem, estás obrigado, não obstante, a fazê-lo segundo a lei e a ordem do direito, porque gostarias que se fizesse o mesmo a ti. Quem quer ser cristão não deve importar-se com o exemplo de outras pessoas. É inaceitável que digas: ele me enganou, por isso, também devo fazer-lhe alguma sujeira. Pelo contrário, porque tu não gostas disso, também, não o faças a ele, e começa com aquilo que gostarias que fosse feito a ti. Assim poderás convencer outras pessoas através de teu exemplo a também fazerem o bem a ti, também aqueles que antes te fizeram o mal. Se, porém, tu mesmo não o fazes, terás por recompensa que ninguém o fará a ti, e é o que mereces perante Deus e as pessoas.
