Cristo pregou em Mt 6.33: “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, e tudo isso cairá no vosso seio.” Ou, na versão que nos é, o mais, conhecida: “… buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”
O reino de Deus, trata-se de um reino que se revela em atos e em poder, como diz Paulo em 1Co 4.20: “O reino de Deus não consiste em palavras, e, sim, em poder.” A isso chamamos de fé com seus frutos, isto é, fazer boas obras e cumprir com diligência e fidelidade seu dever, cada qual em sua posição e ofício, e sofrer toda sorte de adversidade por causa do nome de Cristo e Seu Evangelho. Porque aqui se refere à justiça em sentido amplo, que abrange toda a vida de uma pessoa cristã perante Deus e o ser humano como uma árvore e seus frutos. No entanto, não que por isso ela seja perfeita ante Deus. Pelo contrário, ela deve seguir sempre em frente, conforme ele mostra aqui, ao ordenar a Seus discípulos a buscá-la sempre, como os que ainda não a alcançaram plenamente – Fp 3.12 – ou como se já a tivessem aprendido perfeitamente e vivido em sua plenitude; pois no reino de Deus, nossa situação é meio pecado, meio santidade. Pois o que há em nós, o que é da fé e de Cristo, isso é completamente puro e perfeito, como não sendo nosso, e, sim, de Cristo, que é nosso por meio da fé e que vive e age em nós por meio da fé, via Palavra e Espírito Santo, segundo apraz a Deus Pai. Mas o que é ainda propriamente nosso é puro pecado, no entanto, coberto e exterminado sob e com o Cristo por meio do perdão dos pecados, sendo diariamente morto pela mesma graça do Espírito, até que estivermos totalmente mortos para esta vida marcada pelo pecado. Pois na presente vida ainda vivemos na realidade penúltima, não na última.
Portanto, faz parte da justiça desse Reino que haja honestidade sem hipocrisia, pois isso é dito contra aqueles que sabem falar muito bem do Evangelho e gloriar-se dele, mas em sua vida não se percebe nada disso, em seus desdobramentos comunitários, via engajamento no resgate de ovelhas perdidas e extraviadas. Pois, na verdade, é um ‘negócio’ duro pregar a palavra de Deus e fazer o bem a toda gente e, além disso, sofrer toda sorte de desgraças, e isto justamente de quem, legitimamente, deveria nos apoiar e socorrer. Mas justamente por isso é chamada de justiça de Deus. O mundo hostil a Cristo, Seu Evangelho, o Espírito, a fé, a graça divina, não é capaz de fazer o bem e, em retribuição, sofrer o mal; isso também não faz parte de seu regime. Pois não é justo que seja castigado e sofra violência aquele que faz o bem, e, sim, que receba como recompensa o bem e a gratidão. Nossa recompensa, porém, não é deste mundo, mas está guardada no céu – Lc 6.23 –, e lá a encontraremos, para todo o sempre. Ora, quem sabe isso e quer agir de acordo, terá trabalho suficiente para não procurar outros caminhos e, certamente, também esquecerá a ganância e a preocupação com o Mâmon. Pois o mundo lhe amargurará tanto a vida que não dará muito valor a ele e aos bens temporais, e, sim, ficará tão cansado deles que espera e anseia pela morte a toda hora. Essa é a admoestação com a qual Jesus Cristo desvia nosso olhar dos bens temporais para o tesouro eterno, para que esses bens nada nos signifiquem em comparação com o bem que temos no céu, etc. A isso, agora, também acrescenta uma promessa e um consolo, para que não pensemos que por isso não nos dará nada na terra e que irá deixar-nos morrer de fome, porque temos que sofrer toda sorte de atrocidades por parte do mundo, que nada nos dá e nada nos dá de boa vontade, e porque esperamos a toda hora que nos seja tirado tudo que temos. Ele quer que saibamos que, não obstante, teremos o que precisamos para as necessidades da vida. Sim. Cristo quer que creiamos firmemente no que Ele diz: “Busquem em primeiro lugar o reino de Deus, e assim todas essas coisas cairão no seio de vocês.”