“Quando jejuardes, não façais caras azedas como os hipócritas. Pois desfiguram seu rosto, para que apareçam perante o povo com seu jejum. Em verdade vos digo: eles têm sua recompensa. Mas quando jejuares, unge tua cabeça com óleo e lava teu rosto, para que não apareças perante as pessoas com teu jejum, mas unicamente perante teu Pai, que está oculto. E teu Pai que vê no oculto to recompensará publicamente”. Mateus 6.16-18.
Para que o jejum seja uma verdadeira boa obra e agrade a Deus, mediante Cristo, por graça e fé, são necessárias muitas coisas. Pois ele não quer de modo algum que O venha a ‘cortejar’ com seu jejum, como se você fosse um grande santo, quando, entrementes, está cheio de impiedade e incredulidade, infestado de ódio e ira contra a pessoa próxima, etc. Se você quer jejuar de verdade, cuida para que antes seja e tenha sido feito pessoa cristã, pelo Espírito Santo: alguém que crê e ama, de verdade a Cristo, o Evangelho. Pois essa obra não diz respeito a Deus nem à pessoa próxima, e, sim a seu próprio corpo, etc. Mas isso, em verdade, ninguém ou mesmo pouca gente quer.
Ao longo da história eclesiástica se verifica como pregadores e pregadoras fiéis e dedicados/as foram forçados/as a jejuar por necessidade, suportar escárnio, zombaria e toda sorte de aflições, e aos / às quais ninguém ou quase ninguém dava um pedaço de pão. Aí não existia prazer, nem roupas vistosas e nem dias amenos. São aquelas pessoas que andam errantes pelo mundo e às quais ninguém conhece, das quais o mundo não é digno, como diz a Epístola aos Hebreus 11.38: “…(homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.”
Jejum verdadeiro das pessoas cristãs, que tem o Evangelho colocado em curso na sua vida, é aquele no qual se castiga e se compele o corpo em todos os sentidos, de modo que tenha que renunciar a tudo e prescindir do que lhe é agradável, seja voluntária ou compulsoriamente, desde que o aceite e suporte de bom grado, por amor de Cristo, de fé em fé. Tal jejum não pode ser imposto por meio da lei. Razão pela qual quem jejua de verdade domina o corpo, o mantém ativo com trabalho, não dá lugar ao ócio, à preguiça, à lascividade.
Quanto ao jejum cada pessoa deve avaliar suas forças e sentir o que a carne precisa e, de acordo com isso, impor-lhe o jejum e as carências. Pois jejum se dirige exclusivamente contra o desejo e as tentações da carne, não contra a natureza, e não está condicionado a determinada regra ou medida, tempo ou lugar. Ele deve ser praticado sempre que há necessidade, a fim de refrear o corpo e torná-lo capaz de suportar adversidades em caso de necessidade. Ele deve ser livre, segundo a espontânea vontade de cada um, e não segundo leis e medidas pelo homem, como se verifica que aconteceu, de tempos em tempos, na igreja ao longo da história. O jejum, assim como a oração, não se pode determinar por meio de leis. Deve-se deixá-lo livre, de acordo com o que a devoção ou a necessidade de cada um sugere e exige. Também no caso da esmola: aí não se pode obrigar por leis a quem, quando ou quanto dar.
A regra geral para todas as pessoas cristãs é esta: cada qual tem o dever de viver de modo moderado, sóbrio e disciplinado, não por um dia ou por um ano, e, sim, diariamente e sempre. A Escritura chama isso de viver sobriamente – 1 Ts 5.6,8; 1 Tm 3.2; 2 Tm 4.5. De modo que, ainda que não possam observar dias fixos, ao menos, se chegue a ponto de ser moderado na comida, na bebida, no dormir e em todas as necessidades do corpo, pecador por natureza.