5. A felpa no olho

Jesus Cristo, pregando, disse: “Por que vês a felpa no olho de teu irmão e não percebes a trave em teu olho? Ou como ousas dizer a teu irmão: espera, quero tirar a felpa de teu olho, enquanto há uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, depois vê como tirar a felpa do olho do irmão” – Mt 7.3-5.

A luta pelo outro, sua reputação, seu amor, sua graça e seu juízo, somente assim serão respeitados se o discípulo não se tornar um juiz do outro com base em palavra e fé autoinventadas. Pois, ele não toma uma posição a partir da qual atacará o outro, mas, na verdade do amor de Jesus Cristo, o que veio se compadecer de quem devia receber castigo mui tremendo; aproxima-se do outro com a incondicionada oferta da comunhão, sem méritos.

No julgamento, se toma, em relação ao outro, o posicionamento de observador, de reflexão ausente de amor incondicional, que ama não amáveis na esperança de que se tornem amáveis. Porém, não admite isto nem lhe dá oportunidade. Ao que ama, jamais o outro lhe poderá passar por objeto de observação expectativa; o outro é, a qualquer momento, a reivindicação viva do amor veraz e da diaconia. Mas não estaria o mal do outro obrigando-me forçosamente ao julgamento, justamente por causa do amor, por amor ao outro? Estamos percebendo a sutileza dos limites? Um mal-entendido amor ao pecador está bem próximo do amor ao pecado. O amor de Cristo ao pecador, porém, é a própria condenação do pecado, é a expressão mais séria do ódio ao pecado. É exatamente o amor incondicional no qual devem viver os seguidores de Jesus, no discipulado, que resulta naquilo que jamais alcançariam com o amor dividido e dado a critério e sob condições próprias: a condenação radical do mal.

Os discípulos, em julgando, estabelecem critérios sobre bem e mal. Jesus Cristo, porém, não é um critério que possa ser aplicado a outros. Pois é Ele próprio que julga, revelando o suposto bem autoinovado como totalmente mau. Com isto se está proibido de aplicar no outro o que para mim já não vale. Com julgamento segundo bom e mau, confirmo o outro em seu mal; pois que também ele julga segundo bem e mal. Mas ele não tem ciência da maldade de seu bem, mas justifica-se com ele. Sendo por mim julgado no seu mal, está sendo confirmado no seu bem que, porém, jamais é o bem de Jesus Cristo; e desta maneira está sendo subtraído ao julgamento de Cristo e entregue a julgamento humano. Eu mesmo, porém, agindo assim, atraio sobre mim o juízo de Deus, pois já não vivo pela graça de Jesus Cristo, mas do conhecimento do bem e do mal, e sou condenado pela condenação à qual me apego. Deus é Deus a cada qual conforme o que crê. E é nisto que os fariseus, por exemplo, não dão fé.

Julgamento é a reflexão proibida sobre o outro. Ele deteriora o amor undirecional. Este amor não me proíbe pensar no outro, tomar conhecimento de seus pecados; mas ambas as coisas fogem à reflexão por ser o outro exclusivamente ensejo de perdão e de amor incondicionado que Jesus me demonstra, em cumprimento da promessa divina. Abstendo-se de julgar o outro, de forma alguma estou aplicando o tudo compreender é tudo perdoar, nem ainda estou justificando o outro de uma ou outra forma. Nem eu nem o outro está com a razão; damos a razão unicamente a Deus e está sendo anunciado a Sua graça e Seu juízo.

Julgamento embota a visão, mas o amor a clareia. No julgamento já não vejo o meu próprio pecado, nem a graça que vale para o outro. No amor de Cristo, porém, o discípulo toma conhecimento de toda espécie de culpa e pecado, pois conhece o sofrimento de Jesus Cristo; ao mesmo tempo o amor reconhece o outro como alguém a quem foi perdoado o pecado na cruz, por causa de Cristo. O amor vê o outro sob a cruz, e nisto o amor é vidente.

Please follow and like us:

Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com