“Quando jejuardes, não façais caras azedas como os hipócritas. Pois desfiguram seu rosto, para que apareçam perante o povo com seu jejum. Em verdade vos digo: eles têm sua recompensa. Mas quando jejuares, unge tua cabeça com óleo e lava teu rosto, para que não apareças perante as pessoas com teu jejum, mas unicamente perante teu Pai, que está oculto. E teu Pai que vê no oculto te recompensará publicamente”. Mateus 6.16-18.
Verifica primeiro se você é uma pessoa cristã crente presente na Palavra de Deus, Lei e Evangelho, e de verdade e que não queira prestar um culto a Deus com o jejum e o jejuar. Seu único e suficiente culto a Deus deve ser a fé em Jesus Cristo e o amor à pessoa próxima – amor que ama gente não amável na esperança de que o Espírito Santo, em comunidade, as torne amáveis. Porque o jejum deve servir unicamente para disciplinar o corpo, para cortar exteriormente seu desejo e a razão do desejo, como o faz a fé, interiormente, no coração.
Isso basta sobre o jejum. Agora, nós, também, temos que analisar as palavras que Cristo acrescenta a todos os três itens – Dar esmola, orar, jejuar: que sejam feitos em segredo e, assim, o Seu Pai, que vê no oculto, recompensará tal pessoa, publicamente. Pois isso é uma palavra de consolo necessária para as pessoas cristãs que realizam essas obras, na fé e por fé, honestamente, pois no mundo hostil a Cristo e Seu Evangelho, sem dúvida, acontece que sua obra é injuriada, sendo, desse modo, coberta e oculta, de modo que, naturalmente, nenhuma pessoa ateia a pode enxergar. E ainda que a enxergasse e estivesse de olhos abertos, não a reconhece, infelizmente. Aliás, desprezar o jejum que agrada a Deus é sobremodo prejudicial.
Tomemos nós mesmos/as como exemplo a Noiva de Cristo, acaso o seu testemunho, com coração e boca não é: o que fazemos e realizamos de bem pela graça de Deus isso ninguém enxerga, e todo mundo nos acusa, com base na carne e no sangue, de estarmos desprezando e proibindo a oração, o jejum e todas as boas obras, e que estamos somente provocando desgraça e agitação, etc. Mas não haverão de enxergar como oramos ou jejuamos, tanto publicamente quanto em oculto, ainda que o ouçam e estejam a nosso lado e percebam publicamente como ajudamos, de bom grado, a promover a paz e todo o bem segundo Cristo, etc. Pois Deus ordenou as coisas de tal maneira, conforme diz na Escritura – Is 26.10 –, que absolutamente nenhuma pessoa ímpia – que não foi conformada com Cristo e nem tem o Evangelho colocado em curso na sua vida e fé – verá a glória de Deus. Isso quer dizer, já que doutro modo igual não se arrependem e nem creem, tudo que Deus diz e faz, como também diz em Is 6.10: “Endurece o coração desse povo, endurece-lhe os ouvidos e cega seus olhos, para que não vejam de olhos abertos, nem ouçam com seus ouvidos, nem entendam com o coração, e se convertam”, etc. A petulância e a altivez incrédula são pecados prejudiciais.
Por vezes, já que nem sempre temos total e pleno acesso à literatura acerca da história eclesiástica, desleixando na leitura bíblica, não nos damos conta de que é isso que acontece, igualmente, com o apóstolo Paulo, sua fé, ensino, confissão quanto com sua vida, teologia, piedade. Pois o seu Evangelho não está oculto por si mesmo, mas foi anunciado de tal maneira que todas as pessoas o veem e ouvem, contudo, a reação é dupla: uns se arrependem e creem, já outras pessoas, não se arrependem e nem creem, por mais que sejam e se verifiquem convencidas, internamente, pelo Espírito Santo. Triste. As últimas, se não bastasse, ainda se revoltam, com fúria descabida, contra ele, sua pessoa, sua honra, sua dignidade. Não obstante, elas não conseguem ver o Evangelho em curso em Paulo, e entre elas ele não é chamado de “Evangelho”, e, sim, de maldita heresia. Ah, se redescobríssemos o jejum via fé cristológica!
