“Depois que Jesus havia terminado esse discurso, o povo se encheu de espanto sobre sua doutrina, pois pregava com autoridade, e não como os escribas” – Mt 7.28-29.
Deus Pai quer nos despertar e nos fortalecer por meio das Suas belas promessas, para que não nos importemos com a ingratidão, o ódio, a inveja e o desprezo do mundo hostil a Cristo, e, sim, olhemos para quem nos chama a Si dizendo, no conjunto da Palavra: “Eu sou teu Deus. Se o mundo não quer agradecer-te e te tira honra, bens, corpo e vida, agarra-te em Mim e consola-te com o fato de Eu ainda possuir um céu e, nele, tantos bens que certamente te posso recompensar dez vezes mais do que agora se te pode tirar.” Assim, pela fé, nós podemos desafiar o mundo, dizendo: ‘pois bem, senão quer ter compaixão de nós, que o deixe e que se vá com toda sua compaixão e tudo que tem. Afinal, nada empreendi por causa dele, e também doravante nada quero empreender ou deixar de fazer por causa dele. Mas quero fazê-lo e sofrer por amor daquEle que me faz promessas tão abundantes’, dizendo: “embora já tivesses todo o tesouro no céu por meio de Cristo e mais do que suficiente, ainda quero dar-te mais como dádiva adicional. Verás com teus olhos o Reino do céu revelado em Cristo, e que já tens no presente, na fé, em eterna glória e alegria, quanto mais sofres e trabalhas agora.”
Cabem aqui as maravilhosas palavras e admoestações como Hb 10.35: “Vocês têm grande recompensa”, etc. “Não deixem escapar sua confiança que tem uma grande remuneração” – V. 29. E as palavras de Cristo em Mt 19.29: “Não há quem abandona casa ou irmão, ou irmã, ou pai, ou mãe, ou esposa, ou filhos que não receba uma retribuição centuplicada aqui, no tempo presente, e no mundo vindouro a vida eterna”, etc. É o que diz também aqui: Merces vestra magna est in celo – “No céu sereis ricamente recompensados” – Mt 5.12. Com isto mostra que o Reino dos céus já lhes está preparado, mas que o terão muito mais glorioso quando será revelado. Aleluia! Bendito seja Tu, Deus, para sempre. Amém.
Vê, estes versículos são interpretados corretamente quando entendemos que eles não se referem à confiança em nossas obras, em oposição à fé, e, sim, visam ao consolo dos cristãos, crentes batizados, unidos ao Corpo de Cristo, no qual se exerce o ministério da Palavra de modo puro e correto, e os Meios do Evangelho são solicitados, instituídos e administrados em conformidade com as palavras da instituição de Cristo. Se os sofistas, do passado e do presente, tivessem interpretado seu conceito do merecimento neste sentido, teria sido excelente. Eles, porém, fundamentaram nisto sua santidade por obras e sua regra e norma de fé de conduta autoinovadas, pensando que Deus deveria considerá-los santos especiais e ‘vender-lhes’ em troca o céu, como um vendilhão, e que deveria dar-lhes os primeiros lugares, com os quais os outros cristãos ‘comuns’ não poderiam ser comparados nem de longe. Esta não foi uma ideia tola, pois isto não resultou em pobreza, miséria, tristeza, perseguição, e sim, rendeu dinheiro, bens e honra para a ‘igreja’, ao modo da carne e do sangue. Nenhuma ordem religiosa de própria inventiva, no passado, foi fundada, e nem no presente, é fundada para exercitar-se na Palavra de Cristo, no Sacramento, na fé, no amor e na paciência, e, sim, com vestes tidas como ‘mais santas’ e com sua vida especialmente rigorosa querem unicamente ser considerados algo especial perante Deus e tidos em alta consideração, como gente que não precisa de Cristo nem da fé, que é dom e dádiva do Espírito Santo. Neste sentido, admitimos que os cristãos têm merecimento e recompensa junto a Deus, não, porém, para torná-los filhos de Deus e herdeiros da vida eterna, e, sim, para consolo dos crentes que já têm estas coisas, para que saibam que Ele não deixará de recompensar os que sofrem nessa terra por amor de Cristo, do Seu Evangelho, do Seu nome. Se sofrerem muito e trabalharem muito, Ele irá adorná-los de modo especial no derradeiro dia, mais e de modo mais glorioso do que outros, como estrelas especialmente grandes dentre as demais. Assim, Paulo brilhará do modo mais maravilhoso, mais brilhante e mais claro do que os demais. [Segue]
P. Airton Hermann Loeve
