Jesus Cristo é o único que pode perdoar os nossos pecados. Ele que quer conformar a nossa fé, teologia, culto, piedade, disse: “Tomai cuidado com vossas esmolas, para que não as deis perante as pessoas, para que sejais vistos por elas. Do contrário, não tereis recompensa junto a vosso Pai no céu. Ao dares esmolas, não mandes tocar trombetas a tua frente, como fazem os hipócritas nas escolas e nas ruas, para serem glorificados pelas pessoas. Em verdade vos digo: eles já receberam sua recompensa. Tu, porém, ao dares esmola, não permitas que tua mão esquerda saiba o que faz tua direita, para que tua esmola permaneça em segredo, e teu Pai, que vê em segredo, to recompensará publicamente” – Mt 6.1-4.
Que ninguém de nós diga que a doutrina e pregação de Cristo não nos diga respeito. Em nossa natureza, sem sombra de dúvida, enquanto gente não transluzida pelo Espírito Santo e conformada com Cristo, ‘governa’ o velho Adão ou velha Eva, plenos de egoísmo e egolatria farisaica. Por isso, cada um de nós deve, pela fé, ao modo da Palavra, saber como se proteger contra esse vício e cuidar para não ser igualmente um tipo de gente que se auto endeusa e deixa honrar por causas das esmolas. Aliás, são poucas as pessoas que se examinam e menos ainda as que percebem, confessam e abandonam o farisaico em sua doutrina e vida. Esse vício – da busca do louvor e da honra junto às pessoas – engana até mesmo as pessoas que acham e ajuízam ao modo da sabedoria da carne e sangue que são piedosas e cheias de boas obras, quando, na verdade, são duas vezes mais ordinárias do que as que se deixam ‘manipular e massificar’. Pois isso, Deus odeia, condena e rejeita esse vício de modo especial e o tolera menos do que roubar a pessoa próxima abertamente e fazer-lhe injustiça – o que também não deixa de ser pecado – do que dar desse modo, pervertendo assim a boa obra de modo tão escandaloso. Pois a prática farisaica de dar esmolas fazia de si mesmo um ídolo e ‘amarra e prende’ a pessoa próxima e a consciência dela como ninguém. Mas é isso que acontece onde a reta doutrina jaz por terra e, não obstante, toda gente segundo a sua própria inventiva pretexta grande fé e piedade. Aí a consequência são essas obras farisaicas que são pura aparência e prejudicam duas vezes mais do que atos maus praticados publicamente. O que pode ser mais deplorável do que desprezar a Cristo e Seu Evangelho? Os fariseus prepotentes não se penitenciam e nem muito menos creem em Cristo. Antes, ao contrário, o matam ao invés de se penitenciar e dar lugar o modo de dar esmolas que realmente agrada a Deus Pai.
Mas alguém poderá, sem dolo e má-fé, dizer: que fazer com a exigência de Jesus Cristo de que as esmolas devem ficar em segredo? Acaso seria reprovável se alguém o anunciasse e comunicasse àquelas pessoas a que elas se destinam e que devem recebê-las? Resposta: De modo algum. É preciso atentar para a intenção que Cristo tem ao falar desse modo. Pois Ele olha para o coração e a intenção da carne e do sangue. Se a doação, a oferta, a esmola é dada, feita e realizada para com ela colher fama, honra, prestígio e proveito egoísta, ela não tem valor perante Deus, ainda que muitas pessoas pobres ou muita gente fosse beneficiada com ela. Dar esmolas, em segredo, significa que o coração não se revela, querendo obter disso honra e renome, e, sim, que a mentalidade seja tal que dê livremente, sem qualquer pretensão, ainda que não cause impressão ao povo e ninguém elogie o ato, ou, até mesmo, seja desprezado e desconsiderado por toda gente. A isso se chama dar em segredo e somente perante Deus, ainda que aconteça publicamente perante o mundo inteiro. Pois está encoberto por essa simplicidade do coração crente, que não pergunta por nada nem se preocupa, deixando nas mãos de Deus se a reação é gratidão ou ingratidão, se daí resulta bem ou mal.
