9. NÃO JULGUEIS

Cristo disse: “Não julgueis, para não serdes julgados. Pois com o mesmo juízo com que julgais, sereis julgados, e com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos” – Mt 7.1s.

Jesus, o Cristo, vai ao outro adiante do discípulo e este Lhe segue. Assim o encontro do discípulo com o outro jamais é o encontro livre de duas pessoas que justapõem suas opiniões, seus critérios e juízos diretamente. Antes, o discípulo pode encontrar-se com o outro somente como alguém ao qual está chegando o próprio Jesus, que, na carne, nos reconcilia com Deus Pai. A luta pelo outro, sua reputação, seu amor, sua graça e seu juízo, somente assim serão respeitados. O discípulo, pois, não toma uma posição a partir da qual atacará o outro, mas, na verdade do amor de Jesus, aproxima-se do outro com a incondicionada oferta da comunhão.

No julgamento, tomamos, em relação ao outro, o posicionamento de observador, de reflexão julgadora, não raro, criteriologicamente autoindulgente. O amor, porém, não admite isto nem lhe dá oportunidade. Ao que ama, jamais o outro lhe poderá passar por objeto de observação expectativa; o outro é, a qualquer momento, a reivindicação viva do meu amor e do meu serviço. Mas não estaria o mal do outro obrigando-me forçosamente ao julgamento, justamente por causa do amor, por amor ao outro? Estamos percebendo a sutileza dos limites? Um mal entendido amor ao pecador está bem próximo do amor ao pecado. O amor de Cristo ao pecador, porém, é a própria condenação do pecado, é a expressão mais séria do ódio ao pecado. É exatamente o amor incondicional no qual devem viver os seguidores de Jesus, no discipulado, que resulta naquilo que jamais alcançariam com o amor dividido e dado a critério e sob condições próprias: a condenação radical do mal. Os discípulos, em julgando, estabelecem critérios sobre bem e mal. Jesus Cristo, porém, não é um critério que possa ser aplicado a outros. Pois é Ele próprio que julga, revelando meu suposto bem como totalmente mau. Com isto estou proibido de aplicar no outro o que para mim já não vale. Com julgamento segundo bom e mau, confirmo o outro em seu mal; pois que também ele julga segundo bem e mal. Mas ele não tem ciência da maldade de seu bem, mas justifica-se com ele. Sendo por mim julgado no seu mal, está sendo confirmado no seu bem que, porém, jamais é o bem de Jesus Cristo; e desta maneira está sendo subtraído ao julgamento de Cristo e entregue a julgamento humano. Eu mesmo, autoindulgente com o pecado, porém, atraio sobre mim o juízo de Deus, pois já não vivo pela graça de Jesus Cristo, mas do conhecimento do bem e do mal, e sou condenado pela condenação à qual me apego. Deus é Deus a cada qual conforme o que crê.

Julgamento é a reflexão proibida sobre o outro. Ele deteriora o amor unidirecional. Este amor não me proíbe pensar no outro, tomar conhecimento de seus pecados; mas ambas as coisas fogem à reflexão por ser o outro exclusivamente ensejo de perdão e de amor incondicionado que Jesus me demonstra, do nascimento à morte na cruz. Abstendo-me de julgar o outro, de forma alguma estou aplicando o critério do ‘entender tudo, é perdoar tudo’, nem ainda estou justificando o outro de uma ou outra forma. Nem eu nem o outro está com a razão; damos a razão, unicamente, a Deus Pai, anunciado a Sua graça e Seu juízo via Cristo.

Julgamento embota a visão, mas o amor a clareia. No julgamento já não vejo o meu próprio pecado, nem a graça que vale para o outro. No amor de Cristo, porém, o discípulo toma conhecimento de toda espécie de culpa e pecado pessoal e intransferível, pois conhece o imerecido sofrimento de Jesus Cristo; e, ao mesmo tempo, o amor reconhece o outro como alguém a quem foi perdoado na cruz. O amor vê o outro sob a cruz, e nisto o amor é vidente.

 

 

Please follow and like us:

Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com