A ABSCONDIDADE DA ORAÇÃO

Na oração é preciso ter cuidado a fim de que eu mesmo/a não busque a minha honra em mim, como se fosse um deus e ídolo. E isto acontece, com facilidade, quando o eu divinizado autoajuíza que orou piedosamente. Nesta constatação autojustificada, bagatelizadora da oração, consiste a autossatisfação do atendimento. Ele crê: eu já tenho a recompensa que eu me autopropus. Na verdade, agindo assim, na oração, o eu sem necessidade de Cristo, da graça, orando, se autoatende a si mesmo. Deus já não lhe atenderá; porque ele mesmo tem autopreparado a recompensa na publicidade do seu coração ególatra.

Que é o quarto a que Jesus se refere no Evangelho, se não estou seguro nem diante de mim mesmo/a? Como fechá-lo da forma autoinventada de oração que nenhum/a espectador/a venha perturbar o segredo da oração, levando-me a recompensa da oração em secreto? Como proteger-me contra mim mesmo/a no mundo infestado de fé, teologia, culto e piedade em busca de glória, reconhecimento, aplauso, lucro, poder? Como me proteger, ao modo da Palavra, de fé em fé, contra a tentação da reflexão que, com fome e sede glória, quer e busca o ‘glamour mavioso’ do povo seduzido e das consciências engessadas e enlatadas pelo farisaísmo? Como matar a reflexão segundo a carne e o sangue pela pregação da fé? Está aí a palavra veraz: a vontade própria pecaminosa de impor-se através da oração deve morrer. Quando a vontade de Jesus Cristo reina, exclusivamente, em mim, pela fé na Palavra, e toda a minha vontade se resume na dEle, na comunhão com Jesus, no discipulado, então, morre e deve morrer, de fato, a vontade própria que bagateliza a oração. Assim, posso, então, de verdade, orar que se faça a vontade daquEle que sabe do que necessito antes que Lho peça. Minha oração será certeira, forte e pura quando emana e está embasada e fundamentada na vontade de Jesus Cristo. Então orar será, realmente, orar. O filho / A filha, por graça mediante a fé, pede ao Pai, ao qual conhece, mediante Cristo, o que Lhe é, de fato, de precisão, sem querer se autoidolatrar. Não a adoração geral, mas a prece é a essência da oração cristã. Isso corresponde à atitude do ser humano perante Deus, pedindo de mão estendida àquEle de quem sabe ter um coração paternal, que atende, sempre, segundo Lhe apraz.

A oração verdadeira é assunto secreto também e inclusive no secreto do quarto. Isso não exclui, todavia, a comunhão da oração com outra gente conformada com Cristo, mesmo conhecendo os perigos que essa encerra. A publicidade da rua e o quartinho, orações longas ou curtas, seja na litania da oração da Igreja, seja o suspiro de oração de quem não sabe o que orar, o indivíduo ou a congregação, nada disso é decisivo. O que importa, em verdade, unicamente, é o reconhecimento da fé: vosso Pai sabe do que necessitais. Isso orienta a oração exclusivamente para Deus, mediante Cristo. Isso livra o/a discípulo/a da hipocrisia das obras. Ainda bem que o puro Evangelho expurga o velho Adão e a velha Eva do coração!

Jesus Cristo, que não quer que busquemos ser idolatrados/as em virtude da oração, disse, notificando ao arrependimento e à fé nEle, ‘sem rodeios e sem meneios’: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém]! Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” – Mateus 6.9-15.

 

 

 

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com