9. A ABSCONDIDADE DA ORAÇÃO

Jesus Cristo ensina os Seus discípulos a orar. Sem dúvida, a oração é uma necessidade natural do coração humano, mas isso ainda não lhe empresta validade perante Deus. Mesmo quando praticada em disciplina e com experiência, pode ser estéril e sem promessa. Os discípulos podem orar porque Jesus Cristo lho diz, Ele conhece o Pai. Dá-lhes a promissão de serem ouvidos por Deus. Assim os discípulos oram, porque estão em comunhão com Jesus, no Seu discipulado. Quem, no discipulado, está em comunhão com Jesus, tem por Ele acesso ao Pai, de fé em fé. Assim cada oração verdadeira é oração mediata. Nem mesmo na oração há acesso imediato ao Pai. Somente por meio de Cristo nós podemos, na oração, por graça e fé, encontrar e ter acesso ao Pai celeste. A condição para orar é a fé, a comunhão com Cristo. Tanto a fé quanto a comunhão são fruto da ação monoagente do Espírito Santo em nós, mediante a pura pregação da Palavra: Lei e Evangelho. Nós, como gente discípula, em discipulado da cruz e renúncia, oramos sobre Sua palavra. Assim ela será, sempre, para nosso consolo oração vinculada à Sua palavra, a Jesus Cristo e aos Seus méritos em nosso favor.

Nós, ao orar, oramos a Deus no qual cremos por intermédio de Jesus Cristo que no-Lo revela e que nos coloca em comunhão com Ele mediante o perdão dos pecados. Por isso a oração, jamais, será uma conjuração de Deus; nem mesmo nos precisamos apresentar diante dEle. Nós, isto sim, podemos e devemos confiar que Ele sabe do que nós necessitamos antes que Lho peçamos. É isso que dá à oração confiança e alegre certeza. Não a fórmula, mas a fé tange o coração de Deus, que há muito nos conhece em e mediante Jesus Cristo.

A oração verdadeira, ao modo da Palavra de Deus, não é uma obra, um exercício, uma atitude piedosa nossa, mas, sim, antes, simplesmente o pedido do filho / da filha ao Pai, mediante Jesus Cristo. Por isso, uma oração jamais é demonstrativa nem perante Deus nem perante nós mesmos/as, nem perante terceiros/as. Se Deus não já soubesse do que necessito, eu deveria ficar refletindo como dizê-lo a Deus, o que dizer e até mesmo se Lho vou dizer. Mas a fé na qual oro, exclui qualquer reflexão, exclui qualquer demonstração de fé, teologia, culto, piedade auto inventada. A oração é o secreto absoluto. É totalmente oposta à publicidade. Quem ora, já não conhece a si mesmo/a, mas, sim, antes, somente, a Deus a quem invoca mediante Cristo. Por a oração não influir sobre o mundo hostil, mas ser dirigida, por graça, unicamente a Deus, ela é “a” ação anti demonstração. O que, muito, desagrada aos fariseus.

Evidentemente existe também a oração transformada naquela demonstração que revela o que está em secreto. Isto acontece não somente na oração pública que se transforma em palavreado. Tal fato será raro em nossos dias. Mas não há diferença, ao contrário, é bem mais pernicioso se me transformo eu mesmo em espectador da minha oração, quando oro diante de mim mesmo/a, seja o fato de eu gozar este estado como espectador satisfeito, seja que me surpreenda a mim mesmo/a estranhando e envergonhado neste estado. A publicidade de rua não passa de uma forma mais ingênua da publicidade que eu mesmo/a me preparo. Também no recolhimento do quarto, quando o coração não tiver sido regenerado pelo Batismo e pelo Espírito Santo, eu posso, com facilidade, ‘encenar’ uma vistosa publicidade. Até esse ponto é possível distorcer as palavras de Jesus Cristo. A publicidade que procuro, consiste no seguinte: Eu sou o que ora e o espectador ao mesmo tempo. Sou meu próprio espectador, eu me ouço a mim mesmo/a. Por não querer esperar até que Deus me ouça, mediante Jesus Cristo, segundo Lhe apraz, por não querer que, em algum dia, Deus me revele que me ouviu, cuido eu mesmo/a do atendimento da oração. [Segue].

 

 

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com