Este versículo é um tanto sutil e de compreensão não muito fácil em sua formulação para pessoas que têm corações e mentes meramente carnais, ou seja, que acham ou defendem, ‘com unhas e dentes’, que a Escritura tem ou poderia ter mais de um sentido. Pior fica a situação quando pessoas a interpretam, uma vez que são gente interessada em ambiguidades, dando às palavras sentido dúbio, inconstante, contrário ao simples e ao literal. Aliás, isto já aconteceu ao longo da história muitas vezes. E, um exemplo, para introduzir o assunto, é o caso dos assim nominados sofistas. Eles eram filósofos gregos contemporâneos de Sócrates, que fizeram do ensino da sabedoria sua profissão e desenvolveram, sobretudo a retórica, a eloquência e a gramática. Sim, os sofistas, de quem se espera que eram ou deveriam ser os mais doutos, nem sequer eles entenderam, corretamente, a presente bem-aventurança de Jesus Cristo. Bem pelo contrário, com suas vãs fantasias e ideias desconexas objetivaram ser intérpretes do texto, com base em sentido e significado dos quais eles mesmos nada experimentaram. À parte destes houve as pessoas heréticas, que defenderam o erro interpretativo e persistiram nele, mesmo alertadas do erro. Sê consciente de que o diabo, o mundo e a nossa carne resistem ao sentido literal e único das Escrituras Sagradas.
O contexto eclesial, ao longo dos anos, quando e toda vez que alguém assim lhes ensinou e pregou como agradável a Deus, mudando o sentido do que o espírito exige, não ficou imune a desdobramentos interpretativos auto inventados. E, assim sucedeu que houve quem fantasiou que ter um coração puro significaria que o ser humano deveria fugir do convívio humano para um esconderijo, para um convento ou para o deserto, esquecendo ou fugindo do mundo, e assim não se preocupar com coisas e negócios mundanos, e, sim, se ocupasse, exclusivamente, com pensamentos celestiais para, assim, alcançar um coração puro, por nossa própria capacidade, razão e inteligência.
Via pensamentos e teologia fantasiosos não pouca gente, com êxito – já que sempre há quem escuta outrem – pregaram, sem amparo nas Escrituras, o que veio a seduzir, perigosamente, ouvintes incautos. Tal gente, além de se auto seduzir e lograr, também provocaram o fatal estrago de terem considerado como impuras as atividades e os estados humanos, imprescindíveis no mundo, além de ordenados por Deus. Por exemplo: a pureza do coração é perfeitamente compatível com o estado matrimonial. Bem como amar a sua esposa ou o seu marido, os filhos e as filhas. Não é impuro que uma pessoa ama a sua esposa ou o seu marido, bem como os filhos e as filhas no sentido de que pense em como prover-lhes o sustento, desempenhando atividades afins para fazer frente ao seu pensamento interior, com esmero de dedicação livre de problemas de consciência. Ademais, mais um exemplo, fora do regime familiar: não vem a ter um coração impuro o juiz que exerce a sua função em conformidade com a sua atribuição específica. Ou seja: ele não passa a ter um coração impuro só porque condenou uma pessoa criminosa à morte, por exemplo. Se o juiz age assim, isso não é ofício seu e nem obra sua, e, sim, ofício e obra que agrada a Deus. Na verdade é uma obra boa, pura e santa – desde que ele seja uma pessoa cristã –, que ele não poderia realizar se não tivesse um coração puro. Também deve ser considerado obra e coração puros quando um empregado realiza um trabalho, aparentemente, ‘impuro e sujo’ em casa, como carregar esterco, limpar as crianças. Por isso é uma vergonhosa perversão o fato de se ter considerado impuros e desprezíveis os estados contidos nos dez Mandamentos de Deus. [Segue].