Desde que acompanhei a minha primeira eleição presidencial, lá em 1989, um fator sempre foi crucial para qualquer campanha política: o tempo de TV.
As alianças entre partidos políticos se fundamentavam principalmente para aglutinar espaços na telinha, e quanto maior o tempo que candidato tinha, maiores as suas chances.
Isso provocou até uniões estranhas (ou nem tanto). PT e PMDB, por exemplo, unidos para eleger a Dilma. Por que houve a união? Porquê o PMDB tinha muito tempo, e isso foi crucial para eleger Dilma e Temer.
Nestas eleições os partidos tradicionais apostaram na telinha. O PSDB se organizou todo para entrar na disputa como favorito, justamente pelo espaço que tinha. PT e outros partidos também se organizaram neste recurso.
Só que ninguém previu uma mudança significativa: a televisão está perdendo espaço como meio de informação. E está perdendo muito espaço. Algumas pesquisas recentes mostram que quanto maior o nível de estudo do indivíduo, mais ele se informa via internet, e menos pela televisão.
Isso está promovendo algumas revoluções, como por exemplo a criação de canais digitais de conteúdo. Já comentei aqui, e recomendo novamente o canal do jornalista Willian Waack no Youtube, que após ser demitido da Rede Globo, passou a fazer um jornalismo independente e que está tendo muito sucesso.
Não só ele. Temos diversos canais formadores de opinião, de todos os espectros políticos, o que tira a hegemonia de grandes emissoras. O apelo contra as “Fake News” na verdade é justamente uma espécie de combate a esta perda de controle, pois todos sabemos que “Fake News” sempre existiram e algumas vezes foram usadas de forma descarada por estes mesmos órgãos que hoje as combatem (mas que ainda usam também).
Voltando à política, temos um candidato que por vários anos foi ridicularizado por todos políticos e partidos grandes, mas que fez toda a sua campanha justamente com o uso das mídias sociais. Não só ele: boa parte dos novos deputados e senadores também se alavancaram via mídias sociais.
Mas focando apenas na eleição presidencial, é interessante perceber que a preferencia do eleitor tem variação conforme o nível de estudo, que por sua vez é bastante similar à fonte de informação.
O candidato petista tem maior peso de sua campanha no sistema tradicional, que atinge muito mais as camadas menos estudadas da população, e é justamente onde ele tem maior votação. Já o candidato favorito tinha apenas oito segundos de TV, e claro, focou toda a campanha na internet, e também tem preferencia no público que mais acessa este tipo de mídia, o povo que tem maior grau de ensino. O segundo, claro, é favorito e possivelmente o novo presidente, e isso indica que nas futuras eleições o tempo de TV será totalmente irrelevante, e claro, num nível mais social, as próprias emissoras de TV como conhecemos terão se repensar suas existências.
Semana passada falei das novas revoluções que teremos para as próximas gerações. Acho que esta é uma das primeiras que veremos: a queda dos impérios midiáticos televisivos.