Jesus Cristo disse: “Ouvistes que foi dito: “Olho por olho, dente por dente”. Eu, porém, vos digo que não deveis resistir ao mal. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. E se alguém quer contender contigo e tirar-te a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a andar com ele uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que te pede algo emprestado” (Mateus 5.39-42).
Se alguém perguntar para a gente se uma pessoa cristã também deve ir à justiça e defender-se por causa do sofrimento, tribulação, cruz e desonra que advém da pureza na fé, no ensino, na confissão e do consequente condenar e rejeitar cristocêntrico, a resposta é, pura e simplesmente, que não. Porque uma pessoa cristã, em verdade, nada tem a ver com o reino e direito mundano. Ela vive, por graça e fé, num reino e regime onde vale, unicamente, o que pedimos e esperamos ao modo do que clamamos no Pai nosso: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Aí deve reinar somente amor e serviço mútuo, também para com aquelas pessoas que não nos amam, mas, sim, antes bem pelo contrário, nos odeiam, agem com violência e cometem injustiças… Por isso, ciente de que o inferno é terrível, lugar de pavor, ausência de ‘vida’, Jesus Cristo prega e ensina às pessoas discípulas dizendo que elas devem abster-se de todo e qualquer sentimento de vingança no coração, em memória e honra dEle, a ponto de oferecerem a outra face ao que lhes bate…
Daí surge outra pergunta, a saber, se uma pessoa cristã também pode ser uma pessoa secular e assumir um cargo público no governo secular ou se ela pode desempenhar a função de um juiz, por exemplo, de modo que as duas pessoas ou os dois tipos de ofício estejam reunidos numa só pessoa ou que alguém seja simultaneamente cristão, príncipe, juiz, senhor, empregado, empregada, que são puramente humanas, pois pertencem ao regime secular. Aí respondemos que sim, pois o próprio Deus ordenou e institui esse regime secular e suas distinções e os confirmou e exaltou por Sua Palavra, já que não vivemos mais no Paraíso, em inocência original. Pois sem isso esta vida não subsistiria e todos/as nós estamos inseridos/as neles, sim, nascemos neles antes de nos tornamos pessoas cristãs mediante arrependimento e fé em Jesus Cristo. Por isso, também nós precisamos permanecer neles enquanto vivermos nesta terra hostil a Cristo e Seu Evangelho, o Espírito e à fé cristológica – a que, somente, o Espírito Santo concede. No entanto, somente segundo nossa vida e existência física exterior.
Não há outro jeito, afinal, de algum modo, uma pessoa cristã tem que ser uma pessoa que vive e convive neste mundo, porque, ao menos, quanto ao corpo e aos bens ela está sujeita às autoridades seculares. No entanto, quanto a sua própria pessoa, segundo a vida na e por fé, ela está sujeita, exclusivamente, a Cristo e não ao regime secular e a quem quer que seja. Não obstante, exteriormente, a pessoa cristã está sujeita às autoridades do Estado e lhes é submisso, na medida em que ocupa um estado ou ofício seculares, possui casa e bens, mulher e filhos. Pois tudo isso pertence ao regime secular. Por isso ela deve e tem que fazer o que ele lhe ordena e o que esta vida exterior neste mundo nos exige. Pois veja bem. Se uma pessoa cristã tivesse casa, esposa, filhos e empregados e não os quisesse sustentar nem proteger, caso fosse necessário, cometeria injustiça. Aí ela não pode ‘tirar o corpo fora’ e argumentar que é uma pessoa cristã e por isso deveria abandonar tudo e permitir que tudo lhe fosse tirado, e assim por diante. Aqui se lhe ordena: Agora tu estás no regime secular, onde não te chamas cristão/ã, e, sim, pai, senhor, servo… Pessoa cristã tu és para a tua pessoa, em relação a teu empregado tu és outra pessoa e tens a obrigação de protegê-lo. [Segue].
