Jesus Cristo disse: “Ouvistes que foi dito: “Olho por olho, dente por dente”. Eu, porém, vos digo que não deveis resistir ao mal. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. E se alguém quer contender contigo e tirar-te a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a andar com ele uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que te pede algo emprestado” (Mateus 5.39-42).
A pessoa cristã é um ser em relação, tanto na Igreja quanto na Sociedade, em espírito dialético. Ela é uma pessoa cristã-em-relação e não um ser-em-si. Ela está comprometida nesta vida, em Igreja e Sociedade, com as pessoas próximas, quer sejam elas cristãs ou não. Na Igreja tem ordem e decência. Ela precisa da pessoa próxima que lhe prega o Evangelho e administra os Meios da Graça de Deus. Mas, também, na ordem secular há pessoas a seu lado, no estado e condição de senhores, senhoras, esposa, filhos, filhas, vizinhos, vizinhas… onde é dever de cada pessoa defender, proteger e amparar a outra pessoa como e onde pode ou puder. Por isso não seria correto querer ensinar aqui a oferecer a outra face e entregar a capa com o manto. Isso seria uma loucura, como o caso de um ‘santo’ doido que se deixou devorar pelos piolhos e não quis matar nenhum em obediência a este texto, argumentando que se deveria sofrer e não resistir ao mal – é, no mínimo, lamentável o que o ser humano é capaz de fazer quando a interpretação é impura, incorreta, adulterada, expandida.
Se você é um governador, juiz, senhor, senhora… e tem pessoas sob suas ordens e quer saber o que lhe compete fazer ou não na Sociedade, então você não deve pergunta a Cristo. É preciso, nesta caso, consultar a Constituição e as leis do Pais. Elas é que lhe dirão quais são seus direitos e seus deveres para com as suas pessoas subordinadas e como você deve protegê-las, por exemplo. Pois elas lhe revelam o modo como se deve proceder, dentro dos limites de sua autoridade ou de seu ofício e ordem. Não, porém, como pessoa cristã em sua relação de comunhão com Deus, e, sim, como pessoa súdita e cidadã. Que mãe tola seria aquela que deixaria de proteger seu filho contra o ataque de um cão feroz ou um lobo e não o salvaria, argumentando, como base no ensino de Cristo, de que uma pessoa cristã não deve se defender. Não se deveria ensinar-lhe modo de proceder condizente e dizer para ela: Se você é mãe, então faça o que lhe compete como mãe e o que lhe é lícito e ordenado pela consciência e pelas leis do País. Cristo não revogou esse dever de agir de modo responsável, mas, inclusive, o confirmou com sua própria vida.
Separando e discernindo, corretamente, se lê a respeito de muitas pessoas santas mártires, no passado, que foram para a guerra, inclusive, sob ordens de governos descrentes, quando foram ‘chamadas às armas’, e lutaram, de boa consciência e guerrearam como as outras pessoas, de modo que aqui não há diferença entre pessoas cristãs e gentias. Não obstante, elas não pecaram contra este texto. Pois não agiram como cristãs, para sua própria pessoa, e, sim, como membros e súditos/as obedientes às autoridades seculares, sujeitas a uma pessoa investida e a um regime de governo secular. Se, porém, você é livre e não está comprometida com algum regime secular, aí você tem outra lei, porque você é outra pessoa.
Aprendamos bem a diferença entre as duas pessoas que uma pessoa cristã deve carregar, simultaneamente, na terra, porque você vive entre outras pessoas e, porque tem que fazer uso dos bens do mundo e da autoridade secular como as outras que não creem em Cristo e Seu Evangelho. Pois elas têm o mesmo sangue e a mesma carne que você tem que sustentar e não com recursos que vêm do regime espiritual, e, sim, da lavoura, do campo, de quem quer que seja a terra ou do seu emprego. Não confundamos e nem misturemos os dois reinos.