DO DIZER A VERDADE

“Falar a verdade” não é apenas uma questão de mentalidade, mas de conhecimento correto e de avaliação séria das reais circunstâncias. Quanto mais variadas forem as circunstâncias de vida duma pessoa, tanto maior será a responsabilidade, como também a dificuldade, de “falar a verdade”. A criança que vivencia apenas um relacionamento, o dos pais, ainda nada tem a ponderar e avaliar em sua complexidade e ambiguidade decorrente da ausência de justiça original em si, bem como do mundo mau, pós queda de Adão e Eva em pecado. Mas já o próximo ambiente em que é colocada, a escola, por exemplo, traz, não raro, a primeira dificuldade do dizer a verdade, só a verdade. Por isso é de máxima importância pedagógica que os pais esclareçam, na Palavra, os filhos e as filhas, de alguma forma, o que aqui não podemos discutir, integralmente: A diferença de ambientes e suas responsabilidades.

Dizer a verdade é uma coisa que se deve aprender, mediante a ação do Espírito Santo em nós, de fora. Isso parece horrível para quem acha que só a mentalidade moral importa e que, quando essa for irrepreensível e ilibada, todo o resto será facílimo. Contudo, como é tão irreversível que a questão ética não pode ser separada da realidade, o conhecimento cada vez melhor desta necessariamente é parte integrante da ação responsável fundamentada na Verdade em Pessoa: Jesus Cristo. Na prática, dizer a verdade consiste em ser veraz e edificante, sem ser omisso ou leviano nas palavras. A realidade, tão só, deve ser expressa em palavras. É nisso que consiste dizer a verdade, com todo o corpo. Com isso surge, inevitavelmente, a pergunta pelo “como” das palavras. Em cada caso, se trata da “palavra correta”. Achá-la é questão de longo, sério e progressivo esforço, baseado, em alguns casos, em experiência e (re)conhecimento, o melhor possível, da realidade. Para dizer como algo realmente é, ou seja, para ficar na verdade, é preciso levar em consideração como a realidade é em Deus, por Deus e para Deus que nos chamou à existência para o relacionamento de comunhão com Ele mediante a fé e com a pessoa próxima, no conjunto da Criação, pelo amor.

Restringir o problema da veracidade da palavra a casos isolados de conflito e injustiça é uma postura superficial, leviana, abscôndita. Afinal, cada palavra que eu falo está sob a determinação de ser verdadeira – pudera. Independentemente da veracidade de seu conteúdo, o relacionamento com a outra pessoa deve ser verdadeiro, quiçá. Pois eu posso, por exemplo, lisonjear, ser arrogante, de má-fé, mentir com a verdade, fingir, sem expressar, materialmente, a falsidade das minhas intenções interiores do coração. E, ainda que eu fale, a minha palavra não é verdadeira. Porque eu estou corrompendo e destruindo a realidade do relacionamento interpessoal mediante uma realidade de ‘escuridão egípcia’. A palavra isolada sempre é parte de um todo da realidade que quer manifestar-se através da fala-ação veraz. Dependendo de quem eu falo, quem me pergunta, de que vou falar, minha palavra tem que ser diferente, se quiser corresponder à verdade, somente. A palavra que corresponde à verdade não é uma grandeza constante em si, mas viva como a própria vida. Onde ela se desvincula da vida e do relacionamento com a pessoa próxima real tal qual é, onde “se diz a verdade” sem considerar a quem se fala, ela só tem aparência, mas não é verdade, em seu ser.

Quem se pergunta que significa dizer a verdade, com certeza, ciente de que o pecado original é a perda ou a privação da justiça original, não é indulgente com os vícios do coração, desesperadamente corrupto, criador de ídolos, deuses, tolice, ‘domesticador/a’ da verdade.

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com