Jesus Cristo disse, notificando cada pessoa crente perdoada, engajada no ministério, à fé: “Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, quanto ao que havereis de comer e beber. Também não vos preocupeis com o vosso corpo, quanto ao que havereis de vestir. Acaso a vida não é mais que a comida, e o corpo não é mais que a roupa?” – Mt 6.25.
O SENHOR abre o espaço e pronuncia um longo e vigoroso sermão contra esse vício danoso, a avareza, porque, em geral, como já expliquei nos artigos anteriores, ele se introduz, com violência, ao lado do Evangelho, acometendo, fortemente, não apenas o mundo, mas, também, as pessoas cristãs, em especial, porém, aquelas que devem pregar a Palavra de Deus e que, por causa dela, correm toda sorte de perigos, sendo desprezadas pelo mundo hostil a Cristo e Seu Evangelho. De modo que, segundo a carne, certamente tinham razão para se preocupar. Pois quem quer ser pessoa cristã e confessar a Seu SENHOR, provoca a ira do diabo, que é um príncipe do mundo. Por isso importuna-a e a ataca, não pela Palavra e a fé, e, sim, pelo que está sujeito ao seu reino e poder; ora, nosso corpo, caído em pecado, carne e sangue infestados de ausência de santidade original, ainda está em seu reino. Ele pode perfeitamente afligi-la e jogá-la na prisão, subtrair-lhe comida, bebida e vestuário, de sorte que sempre estamos nesse perigo com tudo que temos e somos em e por causa de Jesus Cristo, Seu nome, Seu Evangelho, o Espírito, a fé. Por outro lado, carne e sangue estão tentando descobrir como poderiam ficar em segurança e acima do perigo. Daí surge a tentação que se chama preocupação com o alimento, embora o mundo não o considere uma tentação, e, sim, uma virtude, e elogia as pessoas que estão em busca de grandes bens e honra, etc.
Aqui tu e eu, nós, que ouvimos a Jesus Cristo com fé presente ficamos sabendo o que significa servir ao Mâmon!, a saber: preocupação com a vida e nosso corpo, com o que comer e beber e o que vestir, e aumentar dinheiro e bens, como se fossemos viver aqui eternamente. Pois comer, beber e vestir-se não são pecado, nem administrar Mâmon, contanto que a prioridade seja o reino de Deus e o bem comum, sem acepção de pessoas. A necessidade da vida e do corpo exige seu alimento e roupas. Também procurar e adquirir o sustento não é pecado. O pecado consiste na preocupação por essas coisas, isto é, colocar nelas o consolo e a confiança do coração. Pois a preocupação não está nas roupas ou no alimento, e, sim, no âmago do coração quando ele não consegue desligar-se disso e se prende a essas coisas, como se diz em certo adágio popular: “Bens tornam o homem corajoso”. Portanto, preocupar-se significa a mesma coisa que estar preso nisso com o coração, porque não me preocupo com as coisas que o coração não tem em mente e não ama, e vice-versa, somente me preocupo com as coisas que trago no coração. E nele ocupam posição de comando, de prioridade.
Mas também, tu e eu, nós, não devemos entender o texto em termos muito restritos, como se Jesus proibisse qualquer preocupação, pois todo ofício ou estado exige que nos preocupemos com certas coisas, especialmente, quem é responsável por outras pessoas. A respeito de cargos espirituais na cristandade Paulo diz em Rm 12.8: “Quem governa, seja diligente”. Assim, um dono de casa tem que preocupar-se com os filhos e empregados, para que recebam boa educação e cumpram seu dever. E se não o fizer, ele comete um erro. Semelhantemente, a preocupação de um pastor ou de um pregador é com a pregação cristocêntrica para que seja levada avante; com os sacramentos, para que sejam administrados conforme a ordem de Cristo; com os tristes e doentes, para que sejam consolados e os maus sejam denunciados e que se ore por toda sorte de necessidades, etc. Pois a ele está ordenado velar pelas almas e guiá-las via ministério dos Meios da Graça de Deus. [Segue na próxima vez].
