Jesus Cristo disse: “Por isso, quem ouve esse meu discurso e o pratica, a esse eu comparo a um homem sábio, que construiu sua casa sobre uma rocha. Quando caiu um aguaceiro e veio uma enchente, os ventos sopraram e se lançaram sobre a casa, ela não desmoronou, pois estava fundamentada sobre uma rocha. E quem ouve este meu discurso e não o pratica, esse é igual a um homem tolo, que construiu sua casa sobre a areia. Quando caiu um aguaceiro e veio uma enchente, e os ventos se lançaram contra a casa, ela desmoronou, e virou uma grande ruína” – Mt 7.24-27.
Eu memorei, em parte, no artigo anterior, a história do São Bernardo, citando um exemplo concreto. Ele teve que passar por essa experiência e admiti-lo: que levou uma vida sobremodo rigorosa em oração, jejum, autoflagelo, etc., de modo que nada lhe faltava e que foi colocado como exemplo de justiça da lei a todos os demais monges. Aliás, para ser preciso, entre os monges não se conhece outro, até agora, que tivesse escrito e vivido, à luz da justiça das obras, de modo mais ilibado do que ele. No entanto, quando se aproximou a tribulação e angústia da morte, ele mesmo teve que pronunciar a seguinte sentença sobre toda sua vida santa segundo a carne e o sangue: “Oh, eu vivi uma vida condenável e passei minha vida de modo escandaloso!” Ora, como assim, meu caro S. Bernardo, alguém poderia ter-lhe perguntado? Afinal, tu foste um monge piedoso durante toda a tua vida. Acaso a tua castidade, a tua obediência, os teus jejuns e as tuas orações não são algo precioso e altamente meritório? Não, diz ele, é tudo vão e do diabo se comparado com Cristo, seu Evangelho, Seus méritos, Seus benefícios. Aí vêm a chuva e o vento e arrasa tudo, o fundamento, o solo e a construção, de modo que ele deveria ser eternamente condenado por seu próprio juízo, se alertado por sua perda, ele não tivesse dado meia-volta, renegado o espírito da monjaria e se apegado a outro fundamento: Cristo. E se não tivesse sido preservado no credo que as crianças oram e que diz: embora não seja digno da vida eterna nem a possa alcançar por mérito próprio, meu Cristo tem um direito duplo de fazê-lo, uma vez como SENHOR e herdeiro do mesmo desde a eternidade, outra vez pelo direito adquirido por Sua paixão e morte em nosso favor. O primeiro, Ele reserva para Si mesmo, o outro, Ele presenteia a mim, etc. Assim, todas as pessoas de fé, teologia, culto, piedade baseadas nas obras da lei, dos méritos, das dignidades, que queriam ser santas segundo a carne o sangue e que foram salvas tiveram que condenar e renegar a justificação pela lei e suas obras, e aferrar-se ao Cristo, ainda que isto lhes custasse muito. Pois é muito difícil para um ser humano que passou toda a sua vida buscando a santidade própria e confiou nisto como necessário à salvação, arrancar-se disto de uma hora para a outra e apegar-se somente a Cristo, com fé presente. Por isso, Cristo nos adverte e admoesta que nos atenhamos à Sua doutrina e a pratiquemos enquanto há tempo, antes que nos surpreendam as angústias da morte e os últimos suspiros. Assim, nosso amado SENHOR Cristo concluiu esse belo sermão. Agora, o evangelista Mateus concluiu que o mundo inteiro teve que testemunhar que isto era um ensinamento deveras muito diferente daquele que tinham ouvido até então e ao qual estavam acostumados.
As palavras de Jesus Cristo acima são uma referência a todo o Sermão do Monte. Ele é um convite para entrar no reino de Deus e não um mandamento, uma barreira intransponível que me paralisa e diante da qual eu somente sei dizer: não sou capaz de fazer tudo o que Ele doutrinou, por minha própria razão, força, dignidades! As palavras do único, suficiente, necessário, indispensável SENHOR e Salvador Cristo não devem entrar por um ouvido e sair pelo outro. Mas entrar e chegar até o coração, fazendo morada ali. Se, de fato, permitirmos a Sua morada em nós, pela fé, então Ele atuará em nós, transformando-nos e capacitando-nos.