Sl 5 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.
O Salmo cinco é um Salmo de oração contra os falsos mestres e espíritos enxameados, no qual ele acusa e condena, severamente, o seu ensino e obras reluzentes, porque eles, usando o nome de DEUS em vão, causam grande dano à pura palavra de DEUS, ao legítimo ministério da pregação e ao culto correto: a invocação de Jesus Cristo como o nosso único, suficiente, necessário, indispensável SENHOR e Salvador. Ele também ora pelos piedosos, isto é, em especial, pela preservação da pura Palavra de DEUS e pelo culto correto, e promete, no último versículo, que tal oração, unindo Palavra e fé, será respondida por Deus Pai. E que os espíritos enxameados serão rejeitados por Ele, ainda que muito se autopavoneiem, se autologrando, de que são os membros legítimos do povo de Deus, de todos os tempos e lugares, para quem Cristo é importante. O Salmo pertence ao segundo e ao terceiro Mandamentos nos quais Deus nos ordena que não usemos o Seu nome em vão, e que santifiquemos o Seu nome: ouvindo e estudando a Sua palavra, com fé presente. E ele também está contido na primeira e na segunda petições do Pai Nosso, nas quais suplicamos que o nome de Deus seja santificado e que o Seu reino venham a nós, e que se verifique presente e em curso entre nós, para a nossa bem-aventurança e de todas as pessoas arrependidas e crentes, em todo o orbe terrestre.
Na Bíblia a palavra “herança” é muitas vezes entendida como significando recompensa, fruto, utilidade, como Sl 127. 3: “Eis que os filhos são uma herança do Senhor”. E é chamado “para herança”, isto é, para recompensa bivalente: das pessoas crentes e das ímpias. Pois elas terão recompensas diferentes: as ímpias, no mundo presente, prosperam, contudo não para o seu bem presente e eterno. Já as pessoas crentes, que temem a Deus e tem um coração piedoso, não obstante, oprimidas e atribuladas, são bem-aventuradas no mundo presente e para além dele. Portanto, esse Salmo fala da tentação atribuladora que se torna presente em virtude da presença e ação das pessoas ímpias hereges, ou da tentação na palavra e na doutrina, porque as que, deveras, têm a palavra pura são condenadas como rebeldes, mas as ímpias têm herança, recompensa, e são consideradas santas pelo populacho que não está nem aí para Cristo. Tal realidade de contradição ofensiva atormenta grandemente as pessoas piedosas, razão pela qual tantas se apegam ao erro e tão poucas seguem a verdade, existencialmente, sob cruz e renúncia. Ademais, inovadas são a fé, teologia, culto, piedade de muita gente autofeita santa. Elas por serem muitas e poderosas quando resistidas enfaticamente, se autofortalecem ainda mais em sua fé, ensino, confissão condenadas e rejeitadas pela Palavra. Em contrapartida, os verdadeiros cristólogos, são tão poucos, contudo, para o bem de toda a nação mantém a palavra pura e são bem-aventurados, apesar de. Isto é um grande aborrecimento, razão pela qual o presente Salmo também luta contra a consciência infestada de pecado, que facilmente se deixa seduzir e enganar pelo que os olhos veem. O número de pessoas, incluso investidas de autoridade e poder, pompa, majestada, não raro, é uma grande tentação para a consciência e também quer fazer decair da Palavra e da fé. Fundamentado no salmodiado é preciso resistir aos hereges, não com armas, mas ensinando, pregando, doutrinando, confessando a Cristo de modo puro e correto. Incluso, apoiar o realizado, com oração e intercessão e súplica fervorosas porque muitos são ou estão tão empedernidos que não dão nem ouvido à pura e legítima exortação de legítimos reformadores da fé e da moral. E certamentamente é assim que o êxito, não raro abscôndito, na pregação, ensino, doutrina, escrever se dá e sucede por intervenção divina. Pois só Cristo derrota o diabo e satanás. E via Evangelho, o Espírito Santo, o expurga da vida e viver de quem teme, ama e confia em Cristo acima de tudo.
P. Airton Hermann Loeve
