“Depois que Jesus havia terminado esse discurso, o povo se encheu de espanto sobre sua doutrina, pois pregava com autoridade, e não como os escribas” – Mt 7.28-29.
Em primeiro lugar, é preciso saber que há uma grande diferença entre a fé ou o ser cristão e seus frutos. Pois quanto a ter nome de cristão e ser cristão, ninguém é diferente do outro, todos têm o mesmo tesouro e os mesmos Meios da Graça, pois Pedro não tem um Batismo diferente ou melhor do que Paulo, e uma criança crente batizada não tem um Batismo inferior ao de João Batista, ou de Pedro e de todos os apóstolos. Por isso eles também não têm um Cristo melhor do que o menor cristão. Olhando as coisas por este ângulo, nem mérito nem diferenças significam algo, pois o menor cristão igualmente recebe o mesmo corpo e o mesmo sangue de Cristo na Ceia do SENHOR, solicitada e administrada em conformidade com as palavras da instituição, unindo pregação e fé. E, ao ouvir o único-salvante Evangelho, ele ouve a mesma Palavra de Deus que também Pedro e Paulo ouviram e pregaram. De igual modo, também nenhum santo em Cristo pode orar um Pai nosso diferente ou melhor, nem recitar os Dez Mandamentos e confessar outro Credo do que aquele que eu e todas as crianças crentes em Cristo oramos diariamente. Isto é tão evidente que qualquer pessoa o pode entender e captar, contanto que o queira. Portanto, naquele artigo pelo qual nos chamamos e somos chamados de santos em Cristo e por causa dEle não há desigualdade entre as pessoas nem preferência por uma ou outra. Todos são iguais, homem, mulher, jovem, velho, estudado, sem instrução, nobre, plebeu, autoridade e pessoa que não exerce função de autoridade, senhor e empregado, grande ou pequeno santo. Há somente um Cristo e somente uma fé, que é dom e dádiva do Espírito Santo. Assim como o sol no céu é o mesmo para todas as pessoas, ele brilha sobre uma pessoa que não exerce função de autoridade tanto quanto sobre uma autoridade, para um cego tanto quanto para uma pessoa de visão perfeita, tanto para uma pessoa que é relaxada em todos os sentidos tanto quanto para a mulher mais bonita sobre a terra, e brilha sobre um espinho tanto quanto sobre uma rosa, em cima de um monte de lixo tanto quanto sobre uma púrpura. No entanto, é sempre o mesmo sol que brilha para o mais pobre mendigo e para a maior autoridade em Igreja e Sociedade. Quando, porém, se chega à vida e nossa atividade exteriores, onde sou cristão e sou crente batizado segundo a ordem de Cristo e, além disto, sou pregador cristólogo, reformador da fé e da moral, apesar de que também poderia ser pessoa cristã sem isto, aí surgem as desigualdades e começa toda sorte de diferenças entre a cristandade, não como cristãos e segundo a essência cristã e, sim, segundo os frutos dos mesmos. De acordo com isto, eu sou pregador, isto é, um cristão que deve, por força do chamado, incumbência, ofício, vocação transmitir a Palavra às pessoas, consolar as entristecidas, edificar, exortar, instruir as que erram e as ignorantes, etc., contanto que o aceitem, por fé. O outro, porém, é ‘chefe’ de família, responsável pelo culto em família, que deve governar sua casa, sustentar mulher e filhos, ou de profissão qualquer, que deve dedicar-se a seu ofício. Este já é um homem diferente do que eu e tu, não obstante devo dizer: ele é um cristão tanto quanto eu e tem o mesmo proveito do Batismo, como meio do Evangelho, da mesma graça de Deus e a mesma vida eterna, pela fé em Cristo, que eu e todas as demais pessoas crentes batizadas. E em nada é menos em Cristo do que eu. E aí não há diferença entre mulher e homem, etc. Não obstante, a mulher, não raro, realiza outras tarefas que homem não realiza, e um empregado, por sua vez, realiza outras tarefas do que seu senhor e um pregador outras do que uma autoridade secular. A mesma diferença existe entre filho e pai, entre aluno ou discípulo e mestre, dos quais cada qual têm suas tarefas próprias ou seus frutos próprios. Deste modo, portanto, surgem diferenças importantes e necessárias em toda parte na vida exterior. No entanto, contanto que creiam em Jesus Cristo, como o seu único, suficiente, necessário, imprescindível SENHOR e Salvador, todos são cristãos de igual modo e, conforme o ser interior, são todos a mesma coisa. Porque não existe mais do que um estado cristão, assim como também só existe uma condição natural de todos os seres humanos.
P. Airton Hermann Loeve