4.         TERMINADO O DISCURSO

“Depois que Jesus havia terminado esse discurso, o povo se encheu de espanto sobre sua doutrina, pois pregava com autoridade, e não como os escribas” – Mt 7.28-29.

Cada qual pode ‘calcular’ e compreender que uma das duas coisas tem que estar errada ou que não merecemos graça por nossas ações, ou Cristo com Seu Batismo é vão e nulo. No caso da justificação se dar via méritos, dignidades, boas obras, Cristo teria procedido como um tolo ao deixar-se martirizar e ao derramar Seu sangue na cruz do Calvário por tão alto preço fazendo um sacrifício tão grande, a fim de conquistar e de nos dar algo que era absolutamente desnecessário e o que já tínhamos antes por nós mesmos/as. Por isso, se nos chamarem de hereges porque neste ponto do mérito das obras não concordamos com eles – gente cuja fé e vida estão fundamentadas na justiça da lei –, fiquemos aguardando, e aceitando, com prazer, sermos chamados de hereges e entregando a causa a Deus, nosso Juiz. Enquanto isto, por força da Palavra e da fé, no exercício do ministério de modo legítimo, puro e correto, queremos e não podemos diferente, como cristólogos, a não ser resistir com vigor tanto maior e dizer, de nossa parte, que não são só hereges, e, sim, os piores blasfemadores de Deus que já viveram debaixo do sol, que, irredutíveis, negam a amaldiçoam a Cristo do modo mais escandaloso, conforme Pedro profetizou a respeito – 2Pe 2.1 – e como diz a Epístola aos Hebreus – 10.29. Pois batem na boca de Cristo e O calcam aos pés com Seu Batismo e todo o Evangelho, e tudo mais que nos foi dado por Ele da parte de Deus Pai.

Lamentável é que mesmo exortadas, as pessoas de fé, teologia, culto, piedade fundamentada na justiça da lei e das obras, afirmam, impenitentes, que, por nossas obras, nós podemos chegar a alcançar graça de Deus, e que, depois de feito isto e depois de termos adquirido méritos suficientes, merecemos, além e acima da primeira graça, como eles a chamam, no geral, o Reino do céu e a bem-aventurança eterna. O que então se merece com as outras obras que lhe seguem? Suponhamos que uma pessoa de piedade autoinovada tivesse realizado o que diz a sua regra e norma de vida e conduta autojustificadas ou outra obra qualquer na graça e que, por essa obra preciosa digna da vida eterna, ela mereceu o Reino do céu, o que chamam de mérito segundo a dignidade, como no passado também doutrinavam os escotistas. Que, porém, quer merecer tal pessoa de piedade autoinovada com as obras e culto autoinventado que ela faz amanhã e depois na mesma graça? Aí então começam as especulações, visto que não sabem o que dizer, com prêmio essencial e prêmio acidental e dizem, unidos aos escolásticos do passado: essas obras subsequentes servem para adquirir mais um presentinho adicional que Deus nos dá além da vida eterna. Se isto é verdade, concluo que as primeiras obras são as melhores e que as outras não são boas, do contrário, deveriam merecer a mesma coisa, visto que, em geral, as obras posteriores costumam ser melhores, porque são bem feitas e executadas com mais experiência. Ora, se as últimas obras não merecem o Reino do céu, as primeiras também não o podem. Ou, se fossem iguais e se toda obra pode merecê-lo, Deus deveria construir tantos céus quantas são as boas obras realizadas. E, por fim, de onde nosso Senhor Deus irá tirar tantos céus para recompensar todas as boas obras de tanto gente, que ao seu modo e juízo, tanto brilha na aparência de piedade? É realmente uma gente perspicaz esta que sabe, sem amparo na Palavra, determinar tudo com tanta lisura e exatidão. No entanto, o que dizem cristólogos por ação do Espírito Santo? É pura mentira e embuste o que pretextam, pois nada disto é verdade: primeiro, que com alguma obra se alcança a graça, muito menos, que um ser humano que se encontra em pecado mortal possa fazê-lo; segundo, ainda que a pessoa se encontrasse na graça pelas obras, conforme mentem, que essas obras feitas na graça são tão preciosas que são dignas do Reino do céu. Pois aí está Cristo e diz o contrário com palavras secas e claras em Lucas 17.10: “Se fizeram tudo que lhes foi ordenado, digam: somos servos inúteis”, etc. [Segue]

P. Airton Hermann Loeve.

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com