Jesus Cristo, o nosso único, suficiente, necessário, indispensável SENHOR e Salvador, disse: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Não expulsamos diabos em teu nome? Não fizemos muitos feitos em teu nome? Então lhes confessarei: jamais vos conheci. Afastai-vos de mim todos, seus malfeitores” – Mt 7.22-23.
Ora, vale lembrar na presente explicação que deixar-se expulsar é o de menos para o diabo, inclusive por um patife malvado, se isto lhe agrada, permanecendo, não obstante, não-expulso. Pelo contrário, saindo de onde está, desse modo se apossa das pessoas outras e as enreda tanto mais com seu escandaloso embuste sob um manto religioso. Como espírito sagaz e experiente, ele também pode perfeitamente adivinhar acontecimentos futuros, embora em geral zombasse das pessoas com suas profecias, fazendo um jogo de palavras tal que se pode interpretá-las de várias maneiras. Aconteça o que acontecer, ele sempre acerta, do mesmo modo como o fez no passado por meio dos sacerdotes pagãos. E o povo tolo cai na armadilha: oh, certamente aqui é a morada de Deus!, dizem seduzidos. Aqui se podem ver e apalpar os milagres e os sinais! – porque não percebe que o diabo o faz justamente para enganar e seduzir as pessoas. E assim, em sua religiosidade segundo o homem também não se lembram de que Cristo predisse tudo isto claramente e Ele mesmo nos advertiu lealmente contra isto e, também, o fez por meio de seus apóstolos. Mas não podia ser diferente e é o que merecemos, por desprezarmos a Palavra de Deus e por não nos apercebermos de que haveríamos de perder a Cristo, aceitando os sinais do diabo. Para o diabo isto é e foi uma brincadeira. Por este meio conseguiu governar sem séria resistência no cristianismo, conforme é e era seu intento.
Visto que vimos tudo isto na história eclesiástica e, infelizmente, experimentamos demasiadas vezes que grande dano o diabo causou por meio destes espíritos mentirosos e falsos sinais, devemos ser argutos e não abandonar a Palavra de Cristo e nem permitir que nos seja anunciada em vão, como fizeram os que nos antecederam, para que não aconteça conosco o que aconteceu com eles. Pois este é um sermão, sim, uma profecia escrita para advertência, mas, infelizmente, tarde demais para os que viveram antes de nós, censores e mestres fiéis. Para nós, ele é pregado ainda em tempo, se é que o queremos aceitar, com fé presente, a fim de que não nos deixemos impressionar com as maravilhas que contam a respeito de sinais e milagres que a mãe de Cristo e outros santos teriam feito, os quais o diabo inflaciona de modo espetacular a fim de afastar-nos da Palavra e da fé. Tendo a advertência de que estas coisas haverão de acontecer necessariamente, nós devemos ser suficientemente sábios e não acreditar em simples sinais que não fazem e nem mantêm ninguém cristão.
Cristo advertiu leal e seriamente contra esses sinais milagrosos, ao dizer em Mt 24.25: “Eis que lho disse antecipadamente”, como se quisesse dizer: cuidem e prestem atenção à minha advertência, senão certamente serão seduzidos, pois vocês têm minha Palavra para que saibam qual é a vontade de meu Pai. Façam a comparação: aqui vocês têm minha doutrina que lhes mostra como devem viver e o que devem fazer, e lá vocês veem os sinais que contrariam esta doutrina, de modo que podem concluir: visto que, por um lado, vejo tão extraordinários sinais e, por outro, tenho a doutrina e a advertência; quero, primeiro, verificar a que levam os sinais e atacá-los pelo ponto pelo qual devem ser atacados e perguntar se também servem para fortalecer minha fé na Palavra, ou seja, que Cristo morreu por mim, que por meio dEle me torno justo perante Deus e sou salvo; e, depois, se também me ensinam a cumprir minhas obrigações conforme meu estado e me ensinam a atendê-las fielmente. Fazendo esta análise, constato o contrário, ou seja, que com isto querem fortalecer e firmar seu estado, ensinando: corre a esse ou àquele santo, mete-te numa roupa religiosa ou vai para o deserto, etc. Aí acontecem tantos milagres e sinais diariamente, esta é uma ordem tão santa, etc. Isso significa ser afastado de Cristo, da Igreja da Palavra, do púlpito, do Batismo, da Ceia, da Confissão, nos quais devo permanecer, e, além disto, de meu estado e das obras que são ordenadas. [Segue]
P. Airton Hermann Loeve.
