Jesus Cristo doutrinou dizendo: “Pelos seus frutos os conhecereis. Acaso se podem colher uvas dos espinhos ou figos dos cardos? Assim também toda árvore boa produz frutos bons, mas uma árvore podre produz frutos ruins. Uma árvore boa não pode produzir frutos ruins, e uma árvore podre não pode produzir frutos bons. Toda árvore que não produz frutos bons é cortada e jogada ao fogo. Por isso, em seus frutos vós os reconhecereis” – Mt 7.16-20.
Tendo o SENHOR Cristo advertido Seus discípulos a permanecerem em Sua doutrina e a não se deixarem seduzir por outros que são lobos vorazes vestidos de ovelhas, também ensina agora, para melhor advertência, a reconhecê-los por seus frutos. Para isto conta uma comparação com simples e singelas palavras, que qualquer criança pode entender. Pois ninguém é tão tolo que não saiba que um espinheiro não produz figos ou uvas, etc. No entanto, por mais singelas que sejam as palavras, ninguém consegue descobrir seu profundo significado se não prestar muita atenção à Palavra de Deus: lei e Evangelho. Tudo depende da compreensão do que Cristo, SENHOR nosso, a segunda Pessoa da Trindade, chama de árvore boa ou má, ou bons e maus frutos. Pois é fácil dizer: “Isto é um figo”, ou “isto é um cardo”, “uma maçã boa” ou “ameixas azedas”, pois são coisas facilmente reconhecíveis e perceptíveis com os olhos e com a razão. Mas o sentido unívoco que Cristo lhe dá é impossível entender a não ser por uma interpretação espiritual segundo a Palavra de Deus, que promove a aponta para Ele, só, como único, suficiente, necessário, indispensável SENHOR e Salvador, por graça divina e fé. Pois, acima, ouvimos como estes mesmos falsos mestres ostentam uma aparência tal e usam palavras tão insinuantes, que a razão não consegue avaliá-las nem é capaz de proteger-se contra elas. Pois esta é justamente uma doutrina e um modo de vida saídos da razão e que lhe correspondem, e que nos agradam naturalmente, porque falam de nosso próprio fazer e de nossas próprias obras dentro de nossa compreensão e capacidade.
Em breves palavras, uma árvore boa, que traz frutos bons, é alguém que leva uma vida e uma existência segundo a Palavra de Deus, pura e íntegra. Pois, mais tarde, Cristo concluirá a respeito de muitas pessoas que ouviram a Palavra de Deus e que também dizem “Senhor, Senhor” e que, além disto, fizeram muitos sinais, que, não obstante, são falsas e hipócritas. Por isto, aqui, é preciso, simplesmente, excluir a razão e seguir unicamente à Palavra de Deus e orientar-se por ela, quando se quer fazer um juízo da vida e das obras, para que se saiba o que a Palavra de Deus entende por árvore boa. Pois, para a razão, é demasiadamente elevado – como já escrevi – entender que, quando enxerga alguém que se veste com nada mais do que com uma roupa que a carne e o sangue ajuízam como religiosa, jejua todas as semanas como os fariseus no Evangelho, sim, que também faz milagres e sinais, não estaria diante de uma árvore boa com bons frutos. Seduzido, então a sua compreensão não vai além e já não é capaz de pensar e compreender algo melhor. Ela está simplesmente presa a estas coisas e chega à conclusão de que quem leva uma vida diferente da de outra gente religiosa esta tem que ser necessariamente uma pessoa especialmente santa, pensa-se. A cega tola, já que não se deixa conscientizar, não vê que estas obras ainda estão todas muito longe da ordena pela Palavra de Deus. E se a perguntares: donde sabes que estas obras são tão preciosas como dizes, ela somente sabe responder: “Eu o suponho”. Que miséria de juízo!, pois não se sustenta diante da razão simples e nem muito menos à luz da Palavra de Deus! Jamais se deve basear a salvação e bem-aventurança nela! O que vale é o seguinte: é preciso saber, e não supor ou imaginar; tu tens que ter um fundamento e um testemunho seguro da Palavra de Deus de que isto lhe agrada, para que possas dizer: esta é uma obra de Seu agrado, ou: este estado agrada a Deus, isto o sei não por minha própria ‘luz ou estrela’, que mo faz parecer bom ou mau, e, sim, porque é feito segundo a Palavra e o mandamento de Deus. [Segue no outro artigo.]
P. Airton Hermann Loeve.
