Sentiram falta dos meus latidos nesta coluna, aumigos? Na semana passada deixei de latir para vocês por causa da chuva forte que alagou a casa de muitos cãopanheiros meus… Minha casa, num dos terrenos baldios da Vila Santa Zélia, também alagou e eu acabei ficando doente. Tentando escapar de tanta água, machuquei minha pata traseira e ainda fiquei meio resfriado…
Então, quando lati para os cãolegas da Tribuna, já era tarde… Me disseram: “Não Darrua, não temos mais espaço nesta edição. Já é quinta-feira à tarde, não vai dar tempo de você latir a coluna para nós…”.
Fiquei nervoso e saí rosnando, pois tinha coisa importante para mostrar. Eu e meu cãolega vimos a casa de um canino, que tem dono, ser invadida pela água. Nós queríamos ajudá-lo, talvez latindo para vocês, leitores da Tribuna…
Mas então o garoto Matheus me viu sair rosnando e veio até o meu encontro tentar me confortar. Lati para ele o que se passou com o cãolega que perdeu a casa. E ele, muito aumigo, me contou mais ou menos como são as coisas no mundo dos humanos… E tentou me explicar, na linguagem humana, uma historinha.
Ele disse que muitas vezes os humanos vêem os caninos serem maltratados, mas pensam: “é apenas um cão”. Alguns dizem: “Pára com isso, é muito dinheiro para se gastar com ele, é ‘apenas um cão’”. O aumigo Matheus disse que estas pessoas não sabem do caminho percorrido, do tempo gasto ou dos custos que significam “apenas um cão”. Muitos dos melhores momentos de muitos humanos foram trazidos por “apenas um cão”.
O Matheus me contou que, muita gente, por muitas horas na vida teve como única companhia “apenas um cão”, e não se sentiram desprezados. Muitas das tristezas humanas foram amenizadas por “apenas um cão”. E naqueles dias sombrios, o toque gentil de “apenas um cão” deu conforto e motivo para muitos homens seguirem em frente.
O aumigo humano me mostrou que tem muitas pessoas que pensam “apenas um cão”, e com certeza entendem bem expressões como “apenas um amigo”, “apenas um nascer de sol”, “apenas uma promessa”…
Eu fiquei ali, abanando o rabo para o Matheus, demonstrando o meu interesse no aussunto. E ele continuou a dizer que “apenas um cão” deu à sua vida a verdadeira essência da amizade, da confiança, da pura e irrestrita felicidade. E mais, “apenas um cão” fez aflorar a compaixão e a paciência que fazem dele uma pessoa melhor. Eu, Darrua, estava começando a acreditar que existe esperança de que aujudem o meu cãolega que perdeu a casa e todos nós que vivemos pelos cantos da cidade.
Matheus completou a história contando que pra ele, e pras pessoas como ele, não se trata de “apenas um cão”, mas da incorporação de todos os sonhos e esperanças do futuro; das lembranças afetuosas do passado; da pura felicidade do momento presente.
“Apenas um cão” faz brotar o que há de bom no humano e dissolve os pensamentos e as preocupações do dia.
O aumigo humano disse que espera que, algum dia, as pessoas entendam que não é “apenas um cão”, mas aquilo que os torna mais humanos e permite que não sejam “apenas um homem”…
Aí, eu entendi a mensagem. Ele me disse pra, sempre que escutar a frase “é apenas um cão”, apenas abanar o rabo para estas pessoas porque elas apenas não entendem…
Lambi sua mão, para agradecer a atenção. Abanei o rabo para o aumigo e fui descendo a rua e pensando que, realmente, o humano tem muito o que aprender com os caninos…
Lambidas a todos e até a próxima semana, se nenhum aucidente acontecer!
Darrua é colunista da Tribuna Regional, um SRD (Sem Raça Definida) que se vira pelas ruas da Vila Santa Zélia.