Até mais, velho amigo…

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

Na última sexta-feira, dia 15, eu estava com horário marcado na agenda da Dra. Samira para uma limpeza dentaria de rotina. Como ganho a vida em Curitiba, sempre que posso dou um jeitinho de visitar a Lapa, seja marcando dentista, agendando shows com a banda RadioPlay ou levando meu pai até seu rancho no Rio da Várzea. Gosto tanto da Lapa que às vezes passo pela cidade apenas para manter vivas e fortalecidas as amizades e os amores, sem precisar de desculpa. Tudo certo com a manhã daquela sexta, era o que eu pensava, pois até a hora do almoço eu não tinha a menor ideia de que receberia um telefonema tão triste. Havia adiantado meus afazeres, resolvido um probleminha com um cliente, dado uma geral na casa, só faltava a famosa passada no posto de gasolina para botar quarentão no tanque e guardar no bolso o dez de troco da nota de cinqüenta, que garantiria a passagem pelo pedágio. Pouco antes de chegar ao posto, meu celular tocou. Não pude atender nem ver quem era. Segundos depois o celular tocou de novo, dessa vez foi o alerta de mensagem de texto, com o nome Aramizinho: “Meu pai faleceu. Aramis”.

Meu soluço de choro foi involuntário. Uma leve tontura acompanhada de arrepios intensos acometeu meu corpo e fui obrigado a parar o carro. Em instantes microlésimos uma vida inteira passou pela minha cabeça. Cheguei a pensar na infância do Aramis com a tia Zita, em tudo que aquele menino viveu até nosso primeiro encontro para o nascimento do livro “A Tribuna Regional e Gorniski” (Alex Calderari; 2006).

A morte pode ser até bonita, permitir o descanso, mas no momento da notícia eu detestei saber que os céus haviam levado meu grande amigo Aramis, sem me permitir um último café da tarde em sua companhia. Ainda bem que o bate-papo com o criador do Pequeno Grande estava em dia. Naquele instante, lendo a mensagem de texto, dei-me conta do que significava a partida do Aramis. Senti pesar ao imaginar a tristeza da minha próxima visita aos Gorniski. O que dizer ao Aramizinho, à Suzana, à Emanuelle, ao Dartagnan? A rotina nos absorve, achamos que tudo será sempre igual e de repente somos surpreendidos. Em meu imaginário o Aramis jamais deixaria seu lugar à mesa do café. Em meus desejos, a cada encontro com o Gorniski eu aprenderia mais sobre a vida, aprenderia mais sobre o que é ser jornalista, empreendedor e pai de família. Fará falta o bate-papo acompanhado do chimarrão e Erva Legendária.

Com Aramis aprendi a praticar a vida, a transformar os objetivos em realidade. Descobri que não há motivos para desistir de viver, seja qual a for a dificuldade, sejam quais forem os contratempos. Essa é a lição. Ao contrario do que poderia ser, para mim a marca deixada não foi a luta nobre contra a fraqueza dos pulmões, mas o persistente ideal de transformar a Lapa em um lugar melhor a cada dia, a cada discrepância política, a cada rua asfaltada, a cada escola reformada e a cada batalha perdida. Uma boa luta é feita de vitórias e derrotas. Isso Aramis sabia bem. E ele também sabia que em cada derrota havia um amadurecimento para uma nova tentativa. Foi assim que ele criou seus filhos, amou sua esposa e tornou A Tribuna Regional seu legado para a família e para as gerações futuras de lapeanos.

Passado o susto da notícia de seu falecimento, dei-me conta de que o velho bom de guerra Aramis precisava mesmo descansar, precisava de uma pausinha em sua luta aqui na terra para, lá no céu, recuperar seu poder de fogo. Lá do alto, tenho certeza de que ele já está olhando por nós e matutando o próximo empreendimento. Tenho certeza de que a cúpula celeste, regada a chimarrão e boas risadas, já está reunida ouvindo as reivindicações do Pequeno Grande.

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