É hora de pensar se estamos fazendo a nossa parte

Na semana passada, primeira semana do mês de março, encarei um novo desafio em minha vida: trabalhar  em rádio. Fui convidada para assumir o jornalismo da Rádio Legendária AM 960, e ficar à frente do programa jornalístico Primeira Hora a partir  do dia 3, uma quarta-feira.

A primeira matéria que trouxe para os ouvintes dizia respeito às reformas que estão sendo feitas na Delegacia da Polícia Civil da Lapa. A matéria também foi publicada na edição da semana passada (1584) da Tribuna. O delegado Daniel Fagundes está solicitando auxílio à população para as obras serem  concluídas.

Como o rádio, como meio de comunicação, permite um retorno muito mais rápido a respeito dos assuntos tratados, recebi algumas mensagens via celular de pessoas indignadas pelo fato de o delegado vir a público solicitar ajuda. A indignação vinha com a justificativa de que “já pagamos impostos e ainda  temos que colaborar mais?”.

Com a repercussão da matéria comecei a analisar alguns pontos que a sociedade em geral, muitas vezes, não pára para pensar. E não se trata somente do caso do delegado Daniel.

Mas, iniciando com o exemplo do trabalho realizado por ele, acompanhe a lógica. O nosso Governo, para quem pagamos impostos, faz pouquíssimo em favor da população. E, nós, que deveríamos cobrar mais das autoridades, simplesmente não o fazemos. Somos cidadãos que não cobram, que não participam, que não se envolvem. Você acredita que não é bem assim? Pois  bem… Vá até uma reunião da Câmara Municipal, por exemplo, e veja quantos estão presentes. Não adianta ir até lá? Pode ser, mas já seria uma pequena demonstração de interesse pelo que os nossos representantes estão fazendo por nós. Agora, porque sou totalmente a favor de a sociedade se envolver em causas como esta, da reforma da Delegacia: até quando vamos ficar esperando que o governo resolva as coisas por nós? Vamos ficar reclamando de braços cruzados até quando?

Além dessa questão, há outra. Quantos delegados a Lapa teve até o momento, que lutaram para melhorar a situação da delegacia e, consequentemente, dos serviços prestados à população? Poucos.

Saindo um pouco do exemplo da reforma da Delegacia: vou citar outros dois exemplos de como faz a diferença a sociedade se envolver e de, como faz a diferença, também, (para pior, é claro), alguns cruzarem os braços e prejudicarem o  trabalho de quem tem vontade de melhorar as coisas.

O primeiro exemplo, positivo, é o da reforma feita no Lar e Educandário São Vicente de Paulo, especificamente no Lar das Idosas. Quando a Irmã Anita First chegou à Lapa, encontrou a instituição prestes a fechar as portas. Vendo  a importância social do local, decidiu “arregaçar as mangas” e fazer algo para reverter a situação. E hoje, graças à colaboração da comunidade e de diversas pessoas de outras cidades, o local foi revitalizado, com mais conforto, segurança e benefícios para as moradoras. Agora, a idéia de fechar o Lar das Idosas ficou no passado. Quem ganhou com isso foi a população lapeana, que tem um local que é exemplo de assistência às idosas e pessoas menos favorecidas.

O segundo exemplo é o do  trabalho realizado pelo Padre Emerson Lipinski, pároco da Igreja Católica na Lapa. Jovem, veio para o município e percebeu que era preciso efetuar mudanças na paróquia. Trouxe espírito novo à igreja, novos devotos, está reformando o Santuário de São Benedito, deu espaço para juventude participar mais ativamente da Igreja, entre tantas outras  atitudes que trouxeram “ar novo” para a nossa paróquia que há tempos não via mudanças em seu caminho.

Não, o Padre Emerson não  é somente qualidades. Não me interpretem mal.

“Não fez mais do que a obrigação”, dizem alguns. Pode ser verdade. Mas, eu pergunto: quantos vieram para Lapa, ou quantos fiéis que há tempos estão na Igreja, que nem as suas obrigações fazem?

Uso o exemplo do Padre Emerson para demonstrar como faz a diferença alguns “cruzarem os braços”  e prejudicarem o trabalho dos outros, não porque o trabalho do pároco não seja bom. Mas porque as fofocas daqueles que viram o seu “mundo” mudar, e não conseguiram acompanhar a nova realidade, prejudicam o trabalho de pessoas que estão fazendo mudanças para melhor, para todos.

Esses que “cruzam os braços” e apontam o dedo, esquecem, muitas vezes, daquela última oração antes da comunhão: “Senhor Jesus Cristo, dissestes aos vossos apóstolos:  eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz. Não olheis os nossos pecados, mas a fé que anima a vossa Igreja…”. As pessoas esquecem que somos, todos, pecadores, pequenos, limitados, cheios de defeitos. Sim, o  padre precisa cuidar de seu comportamento muito mais do que nós, leigos. Mas, afinal, ele continua sendo humano, como todos nós.

Finalizando este texto, que já está bastante longo, acredito que estas três pessoas citadas têm espírito jovem e merecem, cada vez mais, receber apoio da comunidade em seus projetos. Jovens? Sim, pois para a juventude toda idéia nova é boa,  bem como toda a mudança. Ser jovem é mais que ouvir respostas, é querer  vê-las na prática. É ter um ideal a conquistar.

Pense assim: Deus nos coloca diante de dois caminhos. Um, largo e fácil. Por lá vão os avarentos, os egoístas, os exploradores, diz São Paulo. O outro é estreito, cheio de cruzes e lutas. Por ele vão os fortes, os decididos, os valorosos. E se unir aos fortes é o modo mais acertado para se combater o materialismo e a mentalidade da pedra lascada que ainda impera em muitas camadas.

“Fiz a minha parte”, dizia São Francisco aos seus frades, e arrematava: “façam agora a de vocês”. Você pode dizer, como São Francisco: fiz a minha parte?

Não basta dizer sim e ficar na defensiva. Arregace as mangas e faça pelo menos alguma coisa. É  com o pouco de muitos que se faz o bastante para todos.

Seja grande e não negue o  seu quinhão ao pequeno mundo das coisas mínimas que perfazem o dia-a-dia de cada um. A união faz a força.

Não nascemos apenas para  viver. Nascemos para conviver, numa entreajuda de energias e mangas arregaçadas, sobretudo de muita convicção.

-o-o-

Para pensar:

“Se as coisas são inatingíveis… ora!

Não é motivo para não querê-las…

Que tristes os caminhos,  se não fora

A presença distante das estrelas!”

(Mário Quintana, in Espelho Mágico)

Aramis Gorniski

Esta coluna foi iniciada pelo jornalista Aramis Gorniski, que ficou responsável pela sua redação desde  a fundação deste Pequeno Grande, em 06 de junho de 1976, até poucos dias antes de seu falecimento, ocorrido em 15 de janeiro de 2010.

A partir da edição 1583 seu nome não aparecerá mais ao lado do nome da coluna, mas sua fotografia continuará na chamada de capa. O Bate Papo Informal nunca mais será como  o de Aramis, mas a equipe da Tribuna Regional espera sinceramente, que de onde o fundador do jornal estiver, esteja aprovando os escritos deste  espaço.

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